Este foi o nome de um antigo jornal que levava ao povo de Serrinha, pequena cidade do interior situada no semi-árido baiano, as mais importantes notícias dessa terra e demais acontecimentos de âmbito nacional. Na época em que surgiu, poucos eram aqueles que de alguma forma estavam a par das novidades da capital, ou Baía, como era de costume interiorano de se nomear a Cidade do Salvador. Geralmente tais notícias chegavam até ali trazidas pelo “noturno”, o trem de passageiros e carga que de passagem deixava as malas do correio, no interior das quais alguns jornais de assinantes locais. Semanalmente as mais importantes notícias, depois de selecionadas, chegavam aos demais habitantes, ávidos por saber das novidades da distante Capital, assim como de notas e outros acontecimentos da própria cidade e regiões vizinhas. Desse modo cumpria “O Serrinhense” com a missão de bem informar a gente de sua terra, graças ao seu criador Reginaldo Cardoso Ribeiro, cuja história singela é nosso assunto de hoje.
Aspecto de Serrinha à época em que circulava "O Serrinhense".
Casarios na Praça Luiz Nogueira.
Três símbolos da cidade, o Coreto, a Igreja e o velho Cruzeiro
e ao fundo o prédio do Paço Municipal.
Reginaldo era um dos nove filhos do Major Synphrônio e Sinhá Lia, nascido em Serrinha em fevereiro de 1891. Sua família tinha poucos recursos, assim como a cidade em que viviam e por isso foi obrigado a trabalhar desde muito cedo, não tendo sequer concluído o curso primário formal, mas os ensinamentos recebidos da própria mãe perecem ter sido suficientes para alimentar seu sonho de ser alguém ligado ao jornalismo.
Os pais, Maria Hermínia a "Sinhá Lia" e o Major Synphrônio Cardoso Ribeiro.
Muito inteligente e com essa tendência para as letras, aos 15 anos já escrevia pequenos “jornaizinhos” manuscritos que tentava comercializar nos finais de semana na feira livre de sua cidade. Essa vocação o leva já no ano de 1907, portanto com apenas 16 anos, a criar a “Tribuna de Serrinha”, um dos primeiros jornais serrinhenses ainda elaborado de forma artesanal e bastante precária. Reginaldo na adolescência começa a sentir os primeiros sinais de problemas relacionados com a sua visão, provavelmente por conta de alguma doença congênita ou adquirida na juventude, mas isso não o impede de continuar a perseguir seu sonho e adquire alguns equipamentos de impressão apropriados, fundando a partir daí o semanário “O Jornal de Serrinha”.
Tendo se agravado sua enfermidade, em 1910 com apenas 19 anos perde totalmente a visão, mas mesmo assim não abandona sua missão de manter informado o povo de sua terra. Tempos depois, em 18 de maio de 1924 esse jornal passa a se chamar “O Serrinhense” um “Hebdomadário, Imparcial, Noticioso e Literário” já melhor estruturado conta com uma carteira razoável de assinantes e anunciantes que lhe permite fazê-lo circular regularmente. Nessa época as notícias vindas da Baía já chegam diretamente para a sua redação e depois de classificadas são publicadas com a devida crítica em forma de editorial, ora escrito por ele mesmo ou por algum de seus colaboradores. As personalidades mais importantes da política serrinhense e seus feitos também são matéria freqüente no semanário.
Destaque para políticos serrinhenses importantes.
Primeira página de um dos exemplares do "Jornal de Serrinha"
Pitoresco anúncio de medicamento popular da época.
Interessantes colunas de variedades também chegam semanalmente aos leitores e dessa forma vai se tornando cada dia mais um importante formador de opinião junto à sociedade de sua terra. Um dos seus sobrinhos, Luiz Nogueira Filho o Saint-Clairpor diversas vezes o ajudava, não só na redação como também em reportagens diversas. Essa prática no jornal do tio Régi, irmão de sua mãe Áurea Hermínia, o levou a escrever com certa regularidade artigos variados para o mesmo jornal, inclusive quando saiu de Serrinha para tentar a vida no Rio de Janeiro e São Paulo em 1921 a 33. Reginaldo orgulhava-se por haver despertado no sobrinho o gosto pelo jornalismo e de certo modo o influenciou para seguir essa carreira. Saint-Clair em um gesto ousado, para um jovem de vinte e quatro anos em terras distantes, talvez inspirado pelo período em que passou no jornal de seu tio Régi, funda o “Bálsamo Jornal” em novembro de 1929 na cidade de Bálsamo distrito de Mirassol no interior de São Paulo. Os acontecimentos do interior baiano tomam grande parte das notícias como, por exemplo, as incursões de Lampeão e seu bando de cangaceiros apavorando o povo nordestino.
Luiz Nogueira Filho o "Saint-Clair", jornalista nato e correspondente
desde o Rio de Janeiro e São Paulo.
Matéria sobre as atrocidades que estavem sendo cometidas
pelo bando de Lampeão - assinada por Luiz Nogueira Filho.
Reginaldo ainda permanece mantendo e dirigindo seu jornal paralelamente à livraria e tipografia que passou a funcionar no mesmo local até o ano de 1932, aproximadamente, quando por força das circunstâncias e mudança da família para Juazeiro da Bahia, o vende para Bráulio de Lima Franco que dá continuidade ao jornal até o ano de 1952.
Estava casado com Maria Amélia Oliveira Ribeiro e mudam-se de Juazeiro tempos depois, fixando residência definitivamente em Belo Horizonte com os filhos, Maria Regina, Antonio Reginaldo, José Reginaldo e Walter Cardoso Ribeiro.
Reginaldo Cardoso Ribeiro o criador do jornal
"O Serrinhense".
Uma bela história de idealismo e superação, de um homem simples do interior baiano que nunca abandonou seu sonho embora nunca o tenha “enxergado” como aqueles aos quais dedicou uma grande parcela de sua vida. Fica assim registrada a nossa singela homenagem, para que sirva de exemplo aos jovens serrinhenses das atuais e próximas gerações.
Fontes livros: "Nogueira Raízes e Frutos - Crônica de uma bela Família", "Serrinha A Colonização Portuguesa numa cidade do sertão da Bahia"-Tasso Franco
Fonte: http://marcosnogueira-2.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html
Onde podemos encontrar o acervo do jornal?
ResponderExcluirEm Serrinha, no Centro de Memória de Serrinha, sob a direção do sr. José Edmundo Bacellar.
ExcluirParabéns pela excelente matéria! Sou neto de Reginaldo Cardoso Ribeiro e fico feliz com este reconhecimento. Um abraço!
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