Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

História da Minha Vida – Fita 1, Lado A

 

Meu bisavô Hildebrando Cedraz (Pequeno) gravou diversas fitas, algumas com músicas (ele adorava tocar violão e cantar) e outras contando a história da vida dele. Consegui encontrar algumas dessas fitas e vou postar aqui. Para quem quiser ouvir é só conferir o audio abaixo, mas também coloquei o resumo abaixo (vez ou outra é difícil de entender o que ele fala, então me desculpem se houver algum erro na trascrição).

Obs: Uma parte das fitas já está no 4shared caso alguém queira baixar para ouvir http://www.4shared.com/u/h2WAH_c2/luanaoliveira.html

“Essa fita é a primeira que eu vou dar início a história da minha vida eu nasci no dia 9 de junho de 1901, sou filho de Aristides Cedraz de Oliveira e Antonia Leopoldina Carneiro da Silva. Ela teve 6 filhos, 3 moças e 3 homens. A pimeira Aylda, tomou o apelido de Didi, a segunda Otília, a terceira Ercília, tomou o apelido de Iaiá, o quarto foi Manoel com o apelido de Nequinha, mas esse morreu antes que eu conhecesse, o quinto foi Aloysio, nasceu no dia 14 de abril de 1898, e o sexto foi Hildebrando, que é eu mesmo, seu Pequeno. e como eu já disse nasci no dia 9 de junho de 1901. Meus padrinhos de batismo foi o padre Marcolino Madureira, vigário de Conceição do Coité e o de crisma foi Raimundo Nonato de Couto, Tabelião de Notas também daqui de Conceição de Coité, e a madrinha de batismo foi Adélia Cedraz de Oliveira, irmã de meu pai, morava na fazenda Queimadinha de baixo, município de Riachão do Jacuipe. Como era um menino muito doentinho, minha mãe ficou amamentando até o terceiro ano, como não era possivel continuar resolveu me levar para deixar com minha madrinha na Queimadinha, assim pra poder desmamar. Então como era muito pegado com minha irmã, a Iaiá, essa ficou comigo alguns meses lá. E também eu era garrado, pra dormir, com um xale que minha mãe tinha e ele ficou lá também. Eu só dormia agarrado com esse xale e eu não peguei chupeta, pegava dois dedos, pra chupar os dedos na hora de dormir, agarrado com o xale.

Então essas historias que eu vou contar, desse principio, quem me contava era Iaiá, minha irmã. Eu, a primeira coisa que eu achei muito interessante lá, eu com três anos de idade tinha que ter uma coisa que me interessava brincar, e lá criavam patos na fazenda. Na frente tinha um tanque grande de nome Rabicha, e tinha muito pato, e tinha uma pata com uma ninhada de filhinhos pequenininhos, tudo muito bonitinho, proque realmente os patinhos pequenininhos são bonitinhos. Botava uma bacia grande com água, com os bichinhos pra nadar, eu queria porque queria pegar, assim dizia minha irmã. Mas não deixavam, se não matava. E os patinhos gostam de mosca, então ficava pegando mosca pra dar pros patinhos, diziam que na hora que eu ia cochilar ficava ‘vô pegar mosca pra da meus patinhos pa tome’.

Então eu fui crescendo, desenvolvendo, menininho esperto, e lá na fazenda também foi criado um primo meu que era filho de uma irmã de minha mãe e de um irmão de meu pai, então chamava-se José Cedraz Neto, com o apelido de Sinhô, ele devia ter uns onze anos mais ou menos, da idade de Iaiá. E todo mundo gostava de mim, ele então pegou comigo que ave maria, é uma amizade comigo, só andava agarrado com ele.

Então aí fui desenvolvendo, fui crescendo e tal, depois que eu já estava acostumado, minha madrinha me fazia muita vontade, com muito carinho, tinha uma tia também por nome Antônia, que tratava Totonha, então essa me queria muito bem também mas muito malvada ela me pegava e me melava de carvão, só achava bonito quando tava sujo, todo sujo de carvão, mas não me encomodava era sorri… (nesse trecho a gravação foi interrompida por alguns segundos, parece que alguem apertou o botão de gravar quando essa fita estava no gravador) … e fez uns curraizinhos de (mavarisco?) tinha muito lá e botou (busu?) com o gado, e eu ficava ali de baixo brincando. Brincando ali eu devia ter uns quatro anos, e assim lá vai eu crescendo. E a coisa também que lá tinha cabras, o que eu mais gostei foi quando me levou pro chiqueiro das cabras, os cabritinhos tudo que eu ficava encantado com aquilo, e como fiquei mesmo.

Era uma fazenda que tinha várias coisas para a distração de menino, tinha do lado direito uma casa com a tenda de ferreiro, que o velho, ele era… ele não tinha… era uma família que não tinha um certo plano de vida pra ganhar dinheiro não, só pra gastar com besteira, pra viver apenas comendo e pronto. Ele tinha um cercado duma base de ums trezentas tarefas, não tinha nada plantado, mas vivia concertando a cerca pras cabras não entrar, não sei porque. E aí, mais adiante um pouquinho tinha uma casinha com uma velha, chamava Iana, essa velha viveu 105 anos. E do lado esquerdo continuava pegado com casa uma oficina de marceneiro, o marceneiro chamava seu Euzebio, não era muito chegado pra ele não. Continuando a casa velha mais antiga, morava uma velha com o nome Francisca, tratava tia Chica, ela era fabricante de louça de barro, trabalhava muito bem, fazia talhas, fazia pote de carregar água de 15/20 litros, fazia panela, tigela, porcelana que chamava prato, xícara, até cachimbo. Quando queimava de um buraco, muito grande, botava bosta de boi seca, muita coisa que queimava e ficava uma beleza, vendia tudo. Mas a velha trabalhava só coitada, não tinha tempo pra satisfazer as encomendas que tinha, mas eu ficava por ali ela me dava uma coisa. Aí o velho que trabalhava na tenda de ferreiro, vinha um ferreiro do Riachão, trabalhava uma semana caçando os ferros que ele queria, tudo quanto ele queria fazer, e ia embora. Depois veio um ferreiro do lado de São Vicente do Bom Despacho, de nome Tadeu, esse rapaz criou uma amizade comigo… Eu era menino esperto mesmo, não era brincadeira não, ia pra tenda puxar o fole dele. Ele fazia um chocalhinho pra mim botar no meu gado, fazia uma foicezinha, um machadinho, uma coisa, me dava tudo pra eu brincar, e eu não saia dali, só saia da tenda quando ia bater um ferro, saia faisca como o diabo e eu corria, mas voltava de novo. Ele bem comigo uma coisa.

E essa velha Chica tinha um filho por nome Luis, tinha uma porção de filhos, tinha dois filhos mais velhos um pouco, outro mais novo um pouco, esses dois eram meus camaradas, Antonio e Albertino, nós viviamos brincando juntos e etc. Aprendi a nadar logo, duas cabacinhas amarradas uma na outra, eles me dava e eu aprendi a nadar, eu era um peixe. Naquilo tinha muita coisa para distração mas nada pra mim igual as cabras e os cabritinhos. Que o senhor me levava para ajudar a prender as cabras de tarde, e apartar os cabritos, de manhã ia tirar leite, ai eu levantava cedo pra ajudar e tirar leite de uma cabra e coisa, na fazenda em tempo de seca o leite era de cabra mesmo. Agora vaca tinha assim uma vaca ou duas quando chovia que tinha verde, porque os velhos não tinham interesse, não trabalhavam pra ter pasto, não tinha nada, só tinha as roça de plantação lá pra diante, por nome Pó da Serra, do Mourão, a roça de Iana, a de João da Mata, tudo isso tinha lá. Um pezinho de cajueiro, um pezinho de pinha tinha nessas capoeiras, o que tinha lá era pouco. Mas meu interesse maior eram as cabras, ave maria, eu ficava sonhando com as cabras. Compadre Sinhô me pegava e levava pra prender tudo. era uma coisa fora de série.

E no outro lado do rio, tem o rio Tocó que divide a Queimadinha de cima. Essa Queimadinha de cima foi do meu bisavô, então quem ficou morando lá foram as irmãs do meu avô. Meu avô chamava-se José, tratava Zuza, e a velha Maria Joana, nós tratavamos, mãe Iaiá. Pai Zuza e Mãe Iaiá. Ela ficava fiando algodão, fazendo linha e aqueles novelão. Não sei pra que, a vida toda ali sentada num estrado, a vida fiando e o velho saia pro mato, cortava uma madeirinha, tinha um carro com oito bois, aquele cercado de 300 tarefas só pra botar esses bois ali, não tinha mais nada. Uma falta de certo interesse, e os bois de carro comendo rama, besteira. O carril chamava-se Pio, me queria muito bem também, quando ia buscar madeira eu ia no carro, esse movimento de uma fazenda. Se disser é capaz até de ninguém acreditar porque foi até 8 anos que eu fiquei lá. Era a idade de 7 pra 8 anos, 7 anos minha madrinha boto pra eu estudar até meio dia, de tarde eu ia brincar com meus currais, e coisa, de tardinha prender cabra, de manhã tirar leite, era esse movimento que eu tinha lá.

E o Tadeu meu amigo, não me soltava, ficava na tenda por ali, mas na Queimadinha de Cima que é das velhas tias, irmãs de meu avô, eu só alcancei duas, então casou também na mesma família, com a irmã de minha mãe um irmão de meu pai, Octaviano e Luiza, tratava Lulu. Logo aí, é perto uma fazenda da outra, se grita de cá ouve de lá, Queimadinha de Cima e a Queimadinha de Baixo. Então tinha três filhos lá de Otaviano, que era um trio, muito danadinhos, mas gostavam de mim demais. Eu era pequenininho mas muito esperto, eles queriam bem. Aonde tinha um irmão deles maior do que eu, mas mole, Sinhô, Sinhozinho, eles não queriam no meio não, esse trio era uma coisa fora de série, era Otavio, Ozias e Oscar (Moreno, Lili e Ioiô), esses três. E me chamava pra lá e eu andava no meio deles, e ave maria.

Tinha um depósito na casa de … (não entendi)… tinha um depósito, todo sábado eles faziam festa com cavaquinho, eu ficava logo garrado no cavaquinho, batendo no pandeiro, e o diabo tudo ali, todo mundo cantando, e chegava gente de fora. Samba a noite toda dia de sábado pra domingo, e o velho Otaviano não se importava não, ficava os meninos fazendo festa, esses meninos faziam picula todo diabo. Até roubar milho na roça dos outros, milho maduro, melancia e o diabo, e Otaviano botava a mão na cabeça, mas eu no meio deles porque eu era muito esperto, pequenininho assim, mas ave maria, era um perigo! Mas quando eu voltava para a queimadinha de baixo pra brincar com os meninos Antonio e Albertino, tinha duas cachorrinhas, ia pro mato caçar, matar mocó e tudo. Essa vidinha lá, isso foi indo, foi indo, quando foi 1909, Aloysio meu irmão, começou a ir pra lá pra me conquistar pra trazer pro Rio das Pedras. Mas eu imaginava sair por causa das cabras, ave maria. Minha madrinha tinha me dado cabra e tudo, e eu estudando também, lá tinha uma menina também chamada Corina, essa era mais velha do que eu uns 4 ou 5 anos, rude, botava pra estudar e ficava chorando em cima dos livros, e eu comecei e com poucos dias eu já passava por ela e não era sopa não. Então Aloysio bateu, ela não queria consentir, até que conseguiu. E a gente andava a pé do Rio das Pedras para a Queimadinha, por dentro da fazenda Galheiro, saia la na Boi Manso,… (não entendi)…, Queimadinha. Mas Aloysio não era um menino muito chegado a tantas coisas, o temperamento dele era coisa toda diferente, toda estranho de menino, porque não tinha um brinquedo que Aloysio tivesse. Eu brincava com negócio de grade, tudo isso e aquilo, cavalo de pau pra eu monta. Aloysio não, não tinha nada de brinquedo, pra me distrai. Tinha um tal de uns eixos na parte dos fundos da casa, que fizeram uns currais, ele me ajudou, ele me ajudou a fazer os currais de novo, chifre, botava chifre, não era buzio não, era chifre, tudo chifre, era meu gado, fazia cavalo, a roça de mandioca, meu pai plantava mandioca, pegava maniva, com aquele troço fazia a cabeça do cavalo, tudo direitinho e ave maria, era um horror. Então, eu gostava de trabalhar e era esperto mesmo. No primeiro ano, os trabalhadores iam lá pra cima pra capinar, plantar feijao em tempo de inverno e eu entendi de capiná um pedacinho cá embaixo, os homesn quando viram eu pequenininho, danado, … (não entendi)… plantar feijão, eu tive um saco de feijão, minha mãe vendeu, eu fui arranjando um dinheirinho, eu tive todo o interesse de ter um dinheirinho. Aloysio meio mole, não sei como. Afinal de contas que foi indo, indo 1910, 1911, 1912, ai eu ia pra Queimadinha, passava lá um dia ou dois, a velha vinha pra cá, minha madrinha, passava oito dias aí com a gente. E fui levando a vida assim.

Quando foi 1912 o vaqueiro da fazenda adoeceu e meu pai mandou chamar um médico que tinha no Coité, por nome Dr. José Amancio, mas ele tinha um filho estudante, inteligente, chamava-se Reginaldo, ele então veio ver o vaqueiro chamado Paulino, muito doente, febre e coisa. Mas chegou aí deu fé das meninas e apaixonou por Didi. Ficou ai e não saiu mais daí. Não saiu mais daí, o Paulino ficou são, e ele nas férias dele só tava ai, não saia mais daí, Reginaldo, apaixonou-se por Didi. Então, quando foi 1913 houve uma seca, a água do Rio das Pedras, o tanque era pequenininho, acabou logo, o gado com sede, e o velho mandou o gado pra Queimadinha e mandou eu pra lá, pra ajudar a dar água ao gado, ali na fonte do Rabicha, tinha uma minação grande, aquela região, toda a região só dava água ao gado lá. Limpava, que botava muita água, botava cocho pra dar pro gado e eu ficava ajudando. Tanto que quando choveu a trovoada tinha morrido uma vaca e eu fui ajudar a tirar o couro e tudo, tinha um … (não entendi) … nessa época, hoje não sei quanto é. Eu sei que eu tava doente com uma tosse, e era tosse convulsa, piorei e minha mãe mandou buscar e eu fui pro Rio das Pedras com essa tosse, era tosse convulsa. Teve trabalho pra ficar são, então foi indo, foi indo, fiquei são, isso 1913,

Em 1914 o Reginaldo disse, Coronel tava saindo um (cisto?) no meu rosto, no lado. Me chamava de Ioiô, porque minha mãe e minhas irmãs me chamavam de Ioiô, meu pai e Aloysio me chamavam de Pequeno, e com esse eu fiquei, meu apelido era Ioiô Pequeno, aí continuava, cada um chamava de um nome. Ioiô ou Pequeno, e aí ele me chamava de Ioiô, porque a namorada  dele me chamava de Ioiô. Coronel vou levar Ioiô pra Salvador pra tirar esse cisto, porque é um rapaz, tá ficando rapazinho, um defeito no rosto, ai o senhor só paga a despesa do transporte e a pensão, pra tirar esse ai fica por minha conta, o diretor de lá é meu amigo, é meu professor Dr. Gouveia, lá no hospital Sta Izabel, tira lá mesmo, não tem nada não. Aí fomos, vomitei a viagem toda, o trem saiu de manhã, foi chagar de tarde lá em Salvador, vomitei, só faltou soltar as tripas, enjoado. Cheguei em Salvador doente e tal, e o hotel onde ele hospedava era o maior hotel lá de Salvador, o Meridional, hotel bom, ali logo no início da Rua Chile, da Castro Alves pra Rua Chile.

E ali eu fiquei, ele ia pro colégio, eu ficava ali, três dias, dois dias eu melhorei, e em frente tinha lá uma loja grande pra mim as duas Américas ali. E tinha na vitrine um cavaquinho muito bonito, rapaz ainda tinha um estojo de papelão vermelho bonito, mas era quinze mil reis, eu só tinha levado vinte mil reis no bolso, pedi pra me dar por dez o cavaquinho, mas não, não, era quinze, e fiquei apaixonado. TInha um senhor de idade que ficava toda tarde tocando cavaquinho na porta. Salvador nessa época era muito atrasado ainda, esse homem ficava tocando cavaquinho ali e eu assistindo ali nas portas da loja pra ganhar uma gorjetazinha por ali, mas eu não saia da loja, e os caixeiros achavam aquilo muito interessante, e eu querendo comprar o cavaquinho mas o dinheiro não dava. Aí era dinheiro pouco, depois eu gastei tres contos, tres contos não, tres mil reis e fiquei só com 17, o que é que eu faço, dá aqui só fico com dois, e se Dr Reginaldo não tiver o dinheiro pra eu voltar, eu tenho que tá com o dinheiro no bolso, se não. Ai eu fui chorando, pedindo, ai foram me operar no fim da semana. Fim da semana tiraram o quisto, aí deram os pontos e tive que levar mais seis dias pra eu ficar lá em Salvador, mais seis dias pra tirar os pontos ... (não entendi) … Fiquei ali pra ver se eles me vendiam o cavaquinho e tal, ia lá pro hospital e voltava, conhecendo um pouco Salvador, ele me levava, o Reginaldo né, o estudante, futuro cunhado. Então nisso, até que quando foi o fim da outra semana, já perto de eu vir embora, já pra tirar os pontos, tiraram os pontos e eu cheguei e me deram o cavaquinho. Ficaram com pena de mim e me deram por doze mil reis e eu comprei, vixe nossa senhora, ai corri la pro hotel, fiquei lá afinando o cavaquinho pra eu ver e tal, como era coisa muito boa o cavaquinho, e fiquei louco pra ir me embora. Até que foi o fim de semana, ele me trouxe pra Calçada, me botou no trem, (atulou?) a mala, me deu a nota, o papelzinho, o recibo e botou na classe, botou o cavaquinho na rede do trem, me recomendou lá um amigo e tal, eu vim. Cheguei na estação de Salgada já encontrei o rapaz aí, veio me buscar, tiramos a mala, trouxe a mala de cabeçote, eu com o cavaquinho. Vinhemos embora. Ixe nossa senhora, pra mim foi a coisa mais livre do mundo. Daí eu começei a desenvolver tocar cavaquinho, isso foi 1914.

Quando foi 1915 tornou a secar os tanques do Rio das Pedras, uma porção de vacas, gado, aí entrava a seca morria metade, era um caso sério. Mas no Rio das Pedras tinha muito gravatá, o gado se servia de gravatá, não tinha outro recurso. Então em 1915 secou os tanques e meu pai tinha mandado cavar uma minação, essa deu água aí pra dar a umas sessenta reses e as ovelas, mas não dava pra mais, o outro gado puxou pra Queimadinha, e eu fui de novo pra lá. Lá eu fiquei pra ajudar a dar água ao gado, mas o gado não ficou, se esparramou no mundo, ficou poucas reses. Fiquei por lá até quando chuveu.

Quando chuveu o Reginaldo já tinha feito o pedido, já era noivo e garantiu que assim que se formasse vinha casar. Então choveu trovoada e eu vim embora pro Rio das Pedras. Então, aí meu pai tinha um violão, e eu pegava o violão e não podia abraçar o braço do violão, com as mãozinhas pequenas e Aloysio nunca pegou em nada, nada. Não sei que natureza era aquela, ninguém sabia o que é que ele queria. Agora ele era inteligente, pra letra, pros livros ele era inteligente. Se meu pai tivesse gosto ele talvez fosse um homem formado. Mas eu não, eu ave maria, de gado, de cavalo, eu montava, ele tinha medo de montar, só montava num cavalo velho que tinha, não montava em outro, eu montava em qualquer um. Mamãe brigava, não queria que eu fosse dar água aos animais, porque eu era demais. É assim mesmo, cada um tem uma natureza. De forma que quando foi o fim do ano Reginaldo escreveu à noiva que podia ir a gente pro Coité que ele ia se formar naquele mês e que vinha se casar. De fato veio mesmo, foi homem de palavra. Meu pai foi com a gente todo pro coité e lá eu, junto com uns rapazes que tinha lá, o Zuquinha, o Lero, Bandolim, Cavaquinho, tudo, fiquei no meio deles e ave maria, desenvolvi, um coisa fora de série.

Na casa que era a casa do pai de Dr. Reginaldo, na casa onde eu estava, na casa do velho Dr. Amancio, tinha um piano velho da irmã dele, e eu a vida era bater piano pra ver se aprendia a tocar também, era chegado muito a essas coisas. Afinal que, eu tava com 14 anos, não tinha não, 13 anos e tanto, ia fazer 14 anos em junho. Foi quando veio o casamento e tal, e depois do casamento ele foi pra Jacobina, e Otília foi também, minha irmã com a irmã que casol, e eí ela voltou, isso em 1915, no fim, no fim pra 1916. Foram pra Jacobina, arranjaram uns animais por ali naquelas fazendas, os amigos deram animais, foram, o rapaz foi levar, deixaram lá. Logo Otília escreveu depois que era pra mamãe me mandar pra lá, que era pra me preparar, fazer roupa, que era pra eu ir pra Jacobina estudar, que me botava na escola lá, que tinha acertado com as professoras. Naquela idade, mas elas aceitaram. Quando eu vou, não foi um mês, com pouco tempo tava fazendo meu enxoval pra eu ir, escreveu dizendo que tinha recibido carta do pai e dos irmãos pra ir pra São Paulo e que ia pra São Paulo, pronto. Com poucos dias eles chegaram no Rio das Pedras com todo mundo, aí ficaram, combinaram e em vez de eu ir, não, combinaram que Aloysio já tava com 18 anos, não é possivel que um rapaz desse não tinha um futuro. Então pegaram, prepararam Aloysio pra ir com ele, pra trabalhar em uma farmácia que Dr. Amancio tinha lá em São Paulo, num povoado por nome Sobrado, então eles foram pra lá. O Juca estudava no Rio Preto, o irmão, e eles foram para esse povoado de nome Sobral. Aloysio foi trabalhar na farmácia, Aloysio era muito inteligente, rapaz preparado, então lá deu certo, a natureza dele deu certinho pra farmácia, e eu fiquei.

Assim que viajou, eles viajaram e eu fui levar em Salgada, eu voltei, logo no domingo fui paciar na trancada, Compadre Belmiro, casado com a filha natural do meu pai chamava Ubaldina. Pegado daqui pra lá, dia de domingo, cheguei lá cumpadre Belmiro convidou: Vamos alí na chapada? Bora. Pegou um animal me deu, adiante tinha uma casinha, um rapaz dando palha a um cavalinho, um potrinho bonitinho, castanho. Cumpadre Belmiro ‘Quer vender?’, montou, fiquei apaixonado, aí é 120, é 100 e tal. Aí o rapaz pra 115, aí foi pra 110. Compadre Belmiro ‘Compra?’, eu digo ‘olhe, meu pai vendeu um boi meu por 105, ele tem que me dar esse dinheiro, e vai me  inteirar com 5 mil reis pra eu poder comprar esse potro. ‘Belmiro eu quero esse potro’, fui me embora, aí ficou com o potrinho por 110 e me mandou dizer que tava comprado. E meu pai pra me dar esse dinheiro, ave maria, foi um castigo, brigou, foi um barulho danado pra poder me dar esse dinheiro, além dos meus 105 pra interar mais 5, aí ave maria. Mas acabou me dando, minha mãe bateu até que me deu, eu fui buscar logo o potrinho, panhei logo um saco de estopa pra ir montado no pêlo. Quando cheguei na porta com o potrinho, que ele viu ‘é você tem um cavalo, mas você tem pasto pra botar’, eu digo, ‘ô meu pai tem ai, o tempo tá bom, tem palha palha de milho, tem tudo, eu vou aguentando, não se importe não sinhô’. Ele não tinha pasto também, tudo era besteira, os capim que tinha era bobagem, não tinha quase nada de pasto. Era um homem que, ele foi vaqueiro uns tempo, mas não tinha coragem para botar o cavalo solto. Ele ensinou o cavalo (jura páu?) o cavalo meteu debaixo de um páu, quebrou três costelas.  Aí, ele ficou numa rede, e esse homem ficou essa mania, só fazia ler jornal, não trabalhava, não fazia nada. Tinha uns trabalhadores, plantava mandioca ali pra fazer a farinha pra comer, pra dar comida aos trabalhadores todos, minha mãe que comia pouco pra dar de comer a tanta gente. E nisso eu tinha comadre Rola, a Eufrosina, com a idade de antes de 20, 15 anos 16. As meninas também era perto dela só mais velha sete anos. Morava no sul e veio pra aqui, ficou morando com as meninas, então, tinha uma tal fonte de fora, o tanque era dela, o tanque velho arrombado, naquelas capoeiras ali perto. Eu fiz, ‘Cumadre Rola tu me dá pra eu fazer um pastinho ali atrás da trincheira da fonte de fora?’, ‘Pode fazer Ioiô’, me chamava de Ioiô. Chamei um rapaz com nome Bernardo de Cristina e outro Mané Tampinha e não sei como me virei não, fiz 4 tarefas de roçado. Essas 4 tarefas de roçado queimei, (coivarei?), passei cercado, fiz um (digitório?), um bocado de gente veio me ajudar fazer a cerca, todo mundo ajudou, a madeira foi difícil como o diabo pra dá, mas eu fiz aquilo com sacrifício. O dia de fechar, o batalhao ali, um bocado de gente, tinha rés, mandou eu botar pra fora, eu fui tanger, me estrepei meu pé. Eu era um menino tão perigoso, quando ficava 15 dias são…”

Continua do outro lado da fita, fica para um próximo post. Para baixar as fitas que já estão na internet é só procurar no 4shared: http://www.4shared.com/u/h2WAH_c2/luanaoliveira.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário