Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Possidônio e Maria Sophia

 

Possidônio Ramos de Oliveira se casou com Maria Sophia da Cunha, que passou a se chamar Maria Sophia de Oliveira.

Não sei quantos filhos tiveram mas encontrei os seguintes nos registros da comarca de Conceição do Coité:

Benvinda Ramos de Oliveira, nasceu 20 de novembro de 1884, foi batizada em 25 de dezembro de 1884.

José Ramos de Oliveira, nasceu 27 de fevereiro de 1886, foi batizado no dia seguinte, 27 de fevereiro de 1886.

Davina Ramos de Oliveira, nasceu 01 de maio de 1887, foi batizada 24 de julho de 1887.

Primitiva Ramos de Oliveira, tenho datas conflitantes para ela, um documento que encontrei diz que nasceu 27 de novembro de 1891 e foi batizada 25 de dezembro do mesmo ano. Em outro não cita a data de nascimento, mas o batismo consta como 05 de maio de 1889.

Emília Sofia de Oliveira, minha bisavó, nasceu em 02 de janeiro de 1901, faleceu em 25 de Setembro de 1990. Foi casada com José João de Oliveira. Está enterrada junto com ele em Valente-BA. Creio que o nome de solteira dela era Emília Sofia Ramos de Oliveira, mas deve ter tirado o Ramos, pois conheci ela como Emília Sofia de Oliveira.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Hildebrando cedraz

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Hildebrando Cedraz

Nascido em Conceição do Coité – Bahia em 09 de junho de 1901

Pai: Aristides Cedraz de Oliveira

Mãe: Antonia Leopoldina da S. Carneiro (em alguns documentos depois de casada ela aparece como Antonia Leopoldina Cedraz de Oliveira).

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Diário Oficial da União 1911

 

Foram inscriptos no registro de lavradores, criadores e profissionaes do industrias connexas, conforme requereram, os seguintes senhores:

José Cedraz de Oliveira, lavrador e criador, proprietario da fazenda Queimadinha, no municipio do Riacho de Jacuhype, Estado da Bahia ;

Aristides Cedraz de Oliveira, lavrador o criador, proprietario da fazenda Rio das Pedras, no . municipio do Conceição de ·Coité, Estado da Bahia;

 

Pg. 24. Seção 1. Diário Oficial da União (DOU) de 11/06/1911

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Diário Oficial da União 1895

 

-Foram ag,gregados aos respectivos estados-maiores dos commandos superiores e dos corpos os seguintes officiaes da guarda nacional

 

ESTADO D.1. BAILIA

Comarca da Feira., de Sant'Anna

229' batalhão de infitntaria

Tenente-coronel-comma,ndante, João Manoel Amancio.

Estado-maior -Major - fiscal, Fiorentino Pinto da Silva ;

Capitão-ajudante, Martiniano Lopes da Silva

Tenente-secretario, Salustiano José da Cunha ;

Tenente-quartel-mestre, Aristides Gedracs de Oiiveira ;

Capitão-cirurgião, Victoriano Lopes da

l

companhia-Capitão, João Daniel Lopcs; Tenente, Manoel André de Souza Pinto

Alferes, Antonio Joaquim Ramos

.

de 'AI-..

moida e José Cedraes de

.

Oliveira Filho.'

2" companhia- Capitão,. Elpidio Amancio da Cunha ;

·.

Tenente, . José Ferreira da

: Silva; ·

Alferes, Thomaz Nery de Amorim e Jose Rodrigues Lima. ·

3a

companhia,

-Capitão, Vicente Feliciano de Oliveira;

Tenente, Joaquim Calixto da Cunha;

Alferes, Luiz dos Santos Moreira e 'João Francisco Xavier. ·-4 ,

companhia-Capitão; JuVenciO' Tavares da; Silva Carneiro;

Tenente, Pedro Ferreira Barkes;

Alferes Basilio da Silva Carneiro o José Innocencio de Carvalho.

 

Pg. 3. Seção 1. Diário Oficial da União (DOU) de 09/11/1895

Obs: Devido ao estado do texto creio que usaram um programa de reconhecimento de texto (OCR) ao digitalizarem o documento e não se deram ao trabalho de verificar o resultado.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Conceição do Coité – BA

 

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Praça 8 de Dezembro - Centro.

Esta foto é um registro triste da história da cidade, do final dos anos 60 e início dos anos 70. Primeiro, porque expõe um jardim destruído e abandonado pelo poder público e, também, porque mostra algumas casas “antigas", ao fundo, as quais poderiam ter sido conservadas, mas que, devido à especulação imobiliária, foram demolidas para dar lugar a uma casa comercial "moderna"!
Em nome do progresso nada se conserva!

Data da foto: Agosto de 1969.

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Praça 8 de Dezembro - Centro.

A mesma praça 36 anos depois...
Bastante diferente!

Data da foto: 24 de Maio 2006.

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Rua João Benevides – Centro.

Foto de 06-01-1963, feita com uma máquina “Xereta”, sem nenhum recurso técnico. Notem os postes de madeira no meio da rua, e as casas humildes.

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Rua João Benevides – Centro.
Data: Novembro de 1968.

Foto feita do alto do extinto Abrigo Marajoara, provavelmente num dia de domingo, tendo em vista a inexistência de veículos circulando e as crianças passeando a vontade junto ao Canteiro Central....
Todas essas casas que aparecem à esquerda foram demolidas, dando lugar a pequenos prédios comerciais.

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Rua João Benevides – Centro.
Data: Outubro de 1968.

Esta foto foi feita na mesma época da postada dia 29 p. passado, entretanto a coloco como curiosidade, pra poder mostrar um aspecto da “Feira Livre” da cidade, a qual funcionou ali até meados do ano de 1970, quando então foi deslocada para a Praça do Mercado.

Nota: a feira acontece toda sexta-feira, e é considerada a maior da região sisaleira.

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Rua João Benevides – Centro.

Mesmo local da foto anterior, só que feita ao nível da rua, dez anos antes.
Observem os postes de madeira no meio da rua.

Nota:
Foto publicada na "Enciclopédia dos Municípios Brasileiros", edição de 02 de julho de 1958, do IBGE, sem o devido crédito.

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Rua João Benevides - Centro.

Com o mesmo ângulo da foto anterior, porém, 26 anos depois.
Observem as mudanças ocorridas na cidade, neste período!

Data da foto: Fevereiro de 1989.

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Rua João Benevides - Centro.

Mesmo local, 40 anos depois...
Das casas simples que se via na foto em p & b só existe uma remanescente.
Sinal de progresso: sinaleiras de trânsito; orelhões de telefonia fixa; e recipientes para lixo fixados aos postes;
Sinal de civilidade (e obediência às leis): motoqueiros usando capacete;
Lado negativo: galhardetes pendurados ao longo da via pública.

Data da foto: 18-12-2002.

 

Obs: Fotos tiradas do Flickr de pfragoso

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO COITÉ: PODER E POLÍTICA NO SÉCULO XIX – Capítulo 2

 

Autora: Iara Nancy Araújo Rios

CAPITULO II

Política e Poder na Freguesia do Coité

O estudo do poder e da política, durante muito tempo, foi visto a partir das heranças dachamada “História Rankeana”, sendo a dimensão política admitida essencialmente a partir e através do Estado, realizando apenas uma história militar ou diplomática, centrando-se nas batalhas, nas guerras e negociações envolvendo os diferentes Estados, numa perspectiva dehistória positivista. Para Peter Burke, este foi o primeiro conjunto de características da história “tradicional”.

É a partir da década de 1920 que se dá o início de uma crítica mais sistematizada a esta história "tradicional", que se realizou através de duas vertentes principais. A primeira seria constituída a partir dos anos 20, na França, pela crítica dos Annales, principalmente por Lucien Febvre e March Bloch. A história deslocava seu foco fundamental de análise para aspectos relativos à atividade humana em seu sentido mais pleno, passando por um processo de reconstrução de seu objeto de estudo, constituído o estudo dos processos relativos à figura e à ação humana.

A segunda crítica à produção historio gráfica do século XIX foi definida pela historiografia marxista. O econômico surgia então como o elemento delimitador e determinante das relações de produção, categoria fundamental para a análise e compreensão das relações entre os homens no interior da sociedade.

Porém a crítica à História Política, em termos mais amplos, viria a partir da década de 1970, caracterizada por um novo modo de fazer história inaugurado por Michael Foucault. Alguns estudiosos como Paul Veyne e Roger Chartier, Jacques Revel, Patrícia O’Brien, Jean Baudrillard, entre outros, têm se dedicado na análise do impacto e influência de Foucault na historiografia como um todo.

Entre os estudiosos que analisaram a influência de Foucault na historiografia brasileira, destaca-se Margareth Rago em artigo sobre o “efeito Foucault” na historiografia brasileira ela argumenta:

De qualquer maneira, de um lado ou de outro, os historiadores não puderam passar incólumes ao ‘furacão Foucault’ e, assim como até mesmo os anti-marxistas tiveram em algum momento de suas vidas incorporar conceitoscomo classes sociais, infra-estrutura sócio-econômica e relações sociais de produção, os historiadores anti-foucaultianos não puderam prescindis dasnoções de discurso, poder disciplinar, genealogia e sobretudo dacontundente crítica a idéia da transparência da linguagem.

O poder não existe, para Foucault, enquanto uma coisa ou algo que se dá ou que setoma, mas apenas através das relações entre os corpos, entre o micro-poderes que sedifundiria no interior do corpo social. O Estado não seria mais considerado o único órgãodetentor ‘do poder’ e, conseqüentemente, dos aparelhos opressores. O poder, considerado enquanto uma estratégia ultrapassa e supera a idéia de centro regulador e retira do Estado a capacidade de condenar e oprimir.

Os grandes pontos de convergência entre Michael Foucault e a História Política é a descaracterização e minimização do papel do Estado na sociedade disciplinar e a falta derelação entre este Estado “em migalhas” e o papel centralizado/centralizador do Estado que fundamentou, e ainda fundamenta, estudos de poder e do político na História Política.

Com relação às hierarquias, Michael Foucault argumenta que

O ápice e os elementos inferiores da hierarquia estão em uma relação de apoio e de condicionamento recíprocos, eles se ‘sustentam’(...) estas táticas foram inventadas, organizadas a partir de condições locais e de urgências particulares. Eles se delinearam por partes antes que uma estratégia declasse as solidificasse em amplos conjuntos coerentes.

Considerando as relações de poder nas esferas sociais, é que pretendemos, então, demonstrar algumas relações de poder constituídas na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, analisando ‘o poder’ enquanto uma relação de forças que envolvem todos os indivíduos de uma determinada sociedade, privilegiando alguns elementos que demonstram os jogos de força, as lutas constantes na esfera local.

A propriedade de terras e escravos, o sistema eleitoral, o comércio, os cargos administrativos e a Guarda Nacional foram analisados enquanto células de poder, desempenhando determinados papéis e constituindo dispositivos de poder, porém articulados entre si e entre as decisões e organizações do Estado, visto também enquanto uma das agências de poderio político na sociedade da segunda metade do século XIX.

2.1 Institucionalização do poder: mandonismo local

O poder local pode ser caracterizado pela política que se realiza através de favores pessoais concedidos por um grupo dominante à comunidade local, sendo ainda permeado pelas relações de compadrio e de amizade que aproximam e prendem as pessoas. Segundo Vitor Nunes Leal estas relações implicam uma série de arranjos e compromissos que podemser assim listados:

[...]arranjar emprego; emprestar dinheiro; avaliar títulos; obter crédito em casas comerciais; contratar advogado; influenciar jurados; estimular e ‘preparar’ testemunhas; providenciar médico ou hospitalização nas situações mais urgentes; ceder animais para viagens; conseguir passes na estrada de ferro; dar pousada e refeição; impedir que a polícia tome as armas de seus protegidos, ou lograr que as restitua; batizar filho ou apadrinhar casamento; redigir cartas, recibos e contratos, ou mandar que ofilho, o caixeiro, o guarda-livros, o administrador ou o advogado o façam; receber correspondência; colaborar na legalização de terras; compor desavenças; forçar casamento em casos de descaminho de menores, enfim uma infinidade de préstimos de ordem pessoal, que dependem dele ou de seus serviçais, agregados, amigos ou chefes.

No sentido de melhor compreender algumas das esferas através das quais as relaçõesde poder se desenvolveram na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, foram selecionados seis elementos: a propriedade agrícola, a escravidão, a guarda nacional, o comércio, o sistema eleitoral e os cargos administrativos.

2.1.1 A terra e a legitimação de poder

A grande propriedade rural é um tema bastante discutido na Historiografia Brasileira, principalmente relacionado com a História Econômica e com a História Agrária, inclusive porque esta é uma questão que intriga os estudiosos da História do Brasil e sua configuração fundiária, considerando-se que os problemas da terra ainda se apresentam como os de maior necessidade de resolução na busca pelo desenvolvimento do país.

Várias questões referentes à História Agrária enquanto campo de pesquisa foram levantadas por Maria Yedda Linhares, destacando a importância das novas abordagens relacionadas ao plano da História Regional, enfatizando três elementos de estudo: a terra – o meio ambiente natural; os homens – a população que ocupa e que age sobre a terra; e as técnicas – a forma e os meios utilizados pelas pessoas para atuarem na terra em que ocupam. Estes elementos variam de acordo com as condições socialmente determinadas e com períodos históricos e regiões específicas.

O século XIX se caracteriza por transformações econômicas, políticas e sociais. Além do processo de independência do Brasil e a conseqüente organização do Estado nacional, a historiografia demonstra um intenso processo de modificação das relações de trabalho a partir de 1850, data em que se consolida a Lei Eusébio de Queiroz (Ver Anexo I), abolindo o tráfico de escravos africanos. O ano de 1850 foi marcado por um conjunto de transformações como reformas políticas e econômicas referentes a Guarda Nacional, ao processo eleitoral e o estabelecimento da resolução que determinou a aquisição da propriedade pelo reconhecimento da posse da terra, através da Lei de Terras (Ver Anexo II), de 18 desetembro, que determinava o acesso a terra apenas pela compra e/ou aforamento.

A Resolução de 17 de julho de 1822, que anulou o regime das sesmarias, permitiu alegitimação de propriedades de muitos posseiros sem títulos, caracterizando o período compreendido entre 1822 e 1850 como a fase áurea do posseiro, terminologia largamente utilizada pela historiografia, por considerar que a posse tornou-se a forma mais freqüente de aquisição de domínio sobre as terras.

A anulação do sistema de sesmarias confunde-se com o processo de emancipação da colônia como argumenta Lígia Osório Silva:

a suspensão do regime de concessão de sesmarias quase que simultaneamente à declaração da independência, não pode ser vista como uma coincidência. As contradições entre o senhoriato rural da colônia e a metrópole em torno da questão da apropriação territorial contribuíram significativamente, também para a ruptura definitiva dos vínculos coloniais.

Ligia Osório Silva ressalta, ainda, que a independência alimentou a predominância do latifúndio e que apenas quando as transformações na escravidão começaram a acontecer ocorreram mudanças no Estado Imperial, entre elas a proposta através da Lei de Terras em 1850. Esta lei, porém, não viria solucionar os problemas da grande propriedade, mas “tornou-se um instrumento de legalização de novos latifúndios”, dificultando o desenvolvimento das pequenas propriedades através de lacunas da própria lei que facilitava o seu não cumprimento.

Vera Lúcia Amaral Ferlini chama a atenção para o fato de que a colonização não impediu a formação da pequena propriedade, mas o seu desvinculamento da dinâmica implantada pela exportação, cultivando ainda que de maneira indireta, produtos para abastecer o mercado externo e, ao mesmo tempo, assegurando o acesso restrito a terra. A autora atenta para as barganhas e o jogo de poder nos quais estavam inseridos senhores deengenho, donos de grandes propriedades, os lavradores de cana, donos de pequenas propriedades e, ainda, grupos intermediários despercebidos pela polarização senhor/escravo.

Entre 1855 e 1858, em cumprimento da Lei de Terras de 1850, as terras da Freguesiado Coité foram declaradas no livro de Registros Eclesiásticos da Freguesia sendo finalizada em 1858. O registro contém oitenta e nove declarações com um total de oitenta e quatro proprietários, porém é facilmente percebível que ocorreu negligência no cumprimento da Lei, o se pode confirmar por ser a quantidade de proprietários bem maior, cerca de noventa e duas pessoas deixaram de prestar a declaração, todavia aparecem na comunhão das fazendas declaradas.

Este é o caso, por exemplo, de João Gonçalves de Macedo, não declarante, mas queem sete registros aparece como possuidor de fazendas como Matto Grosso e Valente. Nestamesma situação estão, entre outros, José da Costa Ferreira, que em cinco registros contacomo dono de terras na fazenda Salgada, José de Souza dono da fazenda Bom Sucesso relatado em quatro registros, Manoel José da Cunha como as fazendas Paulista, na Queimada do Curral e fazenda Berimbao, em seis registros, José Paolino de Oliveira, sendo citado em cinco registros como possuidor das fazendas Sacco do Marco e Vargem Grande e o Capitão José Carneiro da Silva, dono da fazenda Serra Vermelha, em cinco registros.

As tabelas seguintes apresentam algumas características das declarações

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A Tabela I demonstra que na maioria das declarações a propriedade das terras foi assegurada através da compra ou da herança, muitas vezes até indicando o antigo proprietário.

Podemos perceber através da Tabela II que há um predomínio de proprietários com apenas uma ou duas propriedades declaradas, porém, através da análise das próprias declarações pode-se constatar que algumas pessoas que declararam apenas uma propriedade eram donos também de outras.

As descrições das fazendas demonstram claramente a inoperância da Lei de Terras nas próprias declarações, seja pelo silenciamento da origem da propriedade ou de outras informações, como pela delimitação imprecisa, talvez a fim de burlar a legislação e fugir dos impostos territoriais estabelecidos pós-independência. A data limite para legalização das terras foi o ano de 1854, ficando a cargo dos párocos a responsabilidade de fazer os registros e enviar os livros ao governo central, vigorando até os primeiros anos republicanos.

Quanto a delimitação, a descrição abaixo serve enquanto exemplo preciso:

Aos dez dias do mez de Março de mil oitocentos e cincoenta e oito naFreguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité o Padre Severo CuimAtuá em cumprimento à Lei, e Regularmento para o registro das terras deoà registro as do seo possessorio pela maneira seguinte:O Padre Severo Cuim Atuá vai dar a registro uma fazenda de terras própriasdenominada Santa Luzia sita na Freguesia de Nossa Senhora da Conceiçãodo Coité, que possue em comum com outros donos que houve por compra aJoão Lopes Guimaraens; e sua mulher, que extrema com a fazenda do Umbuzeiro na Lagoa de Manoel Luiz, e com as mais hareas confinantes, onde direito for. Fazenda de Santa Luzia nove de Março de mil oitocentos e cincoenta e oito. Assignado o Padre Severo Cuim Atuá. O Vigário Francisco Furtado de Mendonça. (Grifos nossos)

Esta declaração não foi um caso isolado que demonstrou ausência de de limitação, outras registram apenas o dono e o nome da fazenda usando, muitas vezes, elementos da natureza enquanto fronteiras.

Lígia Osório Silva demonstra que a Lei de Terras de 1850 foi mais um dos instrumentos para conciliar interesses de vários grupos sociais. Segundo a autora,

a lei foi elaborada como parte de um projeto global para a sociedade – a estratégia Saquarema de transição para o trabalho livre – mas a sua aplicação à sociedade foi o resultado de um processo no qual as diferentes camadas sociais interessadas entraram em conflito e encontraram os meios para acomodar o ordenamento jurídico aos seus interesses.

Márcia Motta no seu trabalho sobre os conflitos vivenciados pela posse da terra no Brasil do século XIX aponta para a personificação do poder privado exercido pelos senhores de terras. Segundo a autora,

o fato dos fazendeiros se autodenominarem senhores e possuidores de terras significava que eles tinham o domínio sobre a terra e sobre os homens que ali habitavam” e que “as fronteiras das fazendas dependiam do poder do fazendeiro, e nada tinham a ver com delimitações físicas precisas e inquestionáveis.

O jogo de interesses entrava, muitas vezes, em colisão, causando choques tanto entre os próprios proprietários, quanto entre proprietários e não-proprietários. Segundo Ana MariaOliveira,

os conflitos em torno da propriedade agrária foram freqüentes e, posteriormente, manobrados pelas práticas do coronelismo. Diante dasrestrições estabelecidas pela Lei de Terras para a ocupação das terras devolutas, prevaleceram os artifícios e a sagacidade dos interessados em obter e/ou ampliar os seus domínios agrários.

Lígia Osório Silva estabelece um paralelo entre a propriedade agrícola e a mão-de-obra cativa, demonstrando que “a necessidade de uma mudança na atitude do Estado Imperial em relação à propriedade da terra [que] somente impôs quando a escravidão começou a ser seriamente ameaçada”. Trabalhando neste mesmo sentido de associação entre a terra e a escravidão, José de Souza Martins defende que “durante a crise do trabalho servil, o objeto da renda capitalizada passa do escravo para a terra, do predomínio num para o outro”, argumentando que “num regime de terras livres, o trabalho tinha que ser cativado; num regime de trabalho livre, a terra tinha que ser cativada”. 

Não apenas a terra simbolizava poder, mas também a posse da mão-de-obra escrava, constituindo os elementos primordiais que moldavam e manipulavam comportamentos na esfera pública e privada da sociedade, construindo e reproduzindo relações de dominação.

2.1.2 Os donos dos outros: a escravidão

A organização e reordenação do trabalho no Brasil do século XIX projetava algumas mudanças no perfil da sociedade brasileira, o “controle” sobre a unidade de produção permitia, entretanto, um domínio relativo sobre a mão-de-obra. Enquanto objeto de estudo, a escravidão tem sido analisada sob vários aspectos, dentre eles o da polaridade “recôncavonegro escravista X sertão branco e de trabalho livre”. Esta polaridade permitiu a construção de modelos explicativos entre os quais eles encontram-se os estudos de Gilberto Freyre que explica a formação social do Brasil a partir de dois segmentos sociais: o senhor e o escravo, localizados especificamente nas regiões de exploração de cana-de-açúcar.

Quanto a escravidão no sertão da Bahia, são poucos os estudos que foram realizados, podemos citar a dissertação Escravos, Quilombolas ou Meeiros? Escravidão e Cultura Políticano Médio São Francisco (1830-1888) de Ricardo Moreno Pinho defendida recentemente no Mestrado em História na Universidade Federal da Bahia, e os trabalhos desenvolvidos por Erivaldo Fagundes Neves rompendo a dicotomia recôncavo X sertão e explorando universos no interior baiano que não estavam imunes ao trabalho escravo. Através dos trabalhos de Erivaldo Fagundes Neves podemos perceber que a escravidão se fez presente no sertão da Bahia, servindo também enquanto elemento e símbolo de poder local, deixando suas marcas, conflitos e resistências como em qualquer outra sociedade do recôncavo.

Reafirmando a intensidade e ampliando o universo da escravidão no Brasil, João José Reis e Flavio Gomes asseguram que a escravidão penetrou cada um dos aspectos da vida brasileira e que onde houve escravidão houve resistência. E de vários tipos. 

Na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité não foi possível identificarmos a quantidade exata dos escravos em cada fazenda, porém através do cruzamento de várias fontes - como cartas de alforria, notas de compra e venda e hipotecas de escravos – foi realizado um levantamento da quantidade de escravos por proprietário. É o que demonstra a tabela seguinte:

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Percebemos que havia predominância de pequenos plantéis de trabalhadores escravos desenvolvendo atividades em pequenas unidades territoriais. Nestas unidades territoriais havia um grupo específico, local que seria o responsável pela reiteração do sistema escravista, recriando estratégias de dominação e mantendo o controle tanto da mão-de-obra escrava, quanto das novas formas de relacionamentos que foram se estruturando ao longo da segunda metade do século XIX.

Ressaltamos que o pequeno número de escravos pode levar-nos a perceber o desenvolvimento da mão-de-obra familiar na região, sendo uma área de pequenos proprietários de temas, os trabalhos desenvolvidos poderiam contar com a participação de senhores e escravos. Esta e outras questões referentes à escravidão no sertão baiano dos Tocós ainda carecem de estudos e aprofundamentos que infelizmente não puderam ser desenvolvidos neste trabalho, mas que podem se considerar para a realização de um próximo trabalho, como por exemplo, algumas informações a respeito da morte dos escravos, uma vez que no Livro de Óbitos da Freguesia do Coité entre 1856 e 1870 consta a morte de quarenta e dois escravos, inclusive entre eles sete africanos, e ainda alguns escravos sendo enterrados na Matriz, onde geralmente eram enterrados as pessoas mais ilustres de uma sociedades. Este é o caso de Ana, escrava de José Joaquim de Santana, morta em 01 de Março de 1857 e enterrada no Adro da Matriz, como também o de Joaquina, escrava de Antonio da Silva que faleceu em 08 de dezembro de 1864 e que foi enterrada na Varanda da Igreja. O caso de maior destaque é o de Maria que foi enterrada na Sagrado da Matriz, o lugar de maior privilégio em 31 de maio de 1869, e que não consta seu proprietário.

Outro caso é o de Venâncio, que foi sepultado gratuitamente no Sagrado em 24 de julho de 1868, constando apenas que mereceu por ter sido um “Voluntário da Pátria” e de ser natural da Freguesia D’Oliveira.

A morte é apenas um dos pontos a serem explorados, não apenas para os escravos, mas também para outros casos, como o de suspeitas de envenenamento ocorrido com Capitão Antonio Manuel Mâncio, como consta suspeita de sua filha e ainda o de Theodozia Maria, que morreu em 31 de dezembro de 1865 após ter tomado um remédio por engano dado por um filho natural do Prof. José Conrado. Sem deixar testamento, morreu solteira aos 90 anos e também foi enterrada no Sagrado da Matriz.

Além da morte, o casamento entre escravos também é um indicativo das condições regionais da escravidão. Não pretendo me adentrar nas questões relacionadas ao morrer nem aos casamentos especificamente de escravos, tive apenas a intenção de demonstrar a necessidade de estudos das relações sociais distanciadas da Capital e do Recôncavo, apontando elementos ainda inexplorados a respeito das relações escravistas na Bahia e no Brasil do século XIX.

2.1.3 Capitães a serviço da ordem

Uricoechea assinala que não foram apenas os senhores de terras e de escravos que usufruíram poder e prestígio na elaboração de valores sociais próprios no Brasil agrário, mas que outro grupo também marca “um estilo de vida peculiar e uma honra social característica, circundando seus membros com a distância social e a exclusividade típica dos grupos estamentais, os militares”.

Durante o período colonial, os militares estavam organizados em grupos distintos, entre eles a guarda costeira que tinha o objetivo primordial de defender o litoral brasileiro contra os corsários e invasões externas, o Exército Real que também era chamado de Tropa de Primeira Linha – ou apenas Tropa de Linha - sendo os membros assalariados, com a obrigação de dedicar seu tempo integral às atividades, o que os caracterizava profissionalmente.

As milícias eram consideradas a Segunda Linha, adequada às funções auxiliares e compostas por civis não-assalariados que dedicavam um tempo parcial a estas funções. ATerceira Linha era as Ordenanças, responsáveis pela esfera municipal, composta por civis que não se alistavam para as atividades regulares nem para milícias e que não recebiam qualquer pagamento.

Fundada em 1831, a Guarda Nacional demonstrava a fragilidade e a dificuldade de legitimação do poder central, em contrapartida, constituía-se em instrumento de poder de um grupo específico da esfera social. Esta força miliciana, geralmente controlada pelos senhoresde terras, era destinada à manutenção da ordem interna, possibilitando a aceitação e a imposição dos seus interesses na sociedade, agindo em situações adversas como a respeito das fronteiras da província, atuando no município, nas paróquias e curatos.

A guarda nacional estava subordinada aos Juízes de Paz, Criminais, Presidentes de Província e Ministro da Justiça e deveria ser composta por brasileiros de idade entre 21 a 60 anos e terem renda para serem eleitores.

A criação e a consolidação da Guarda Nacional está inserida no processo de formação do Estado-Nação, num momento de instabilidade social, cujo foco da repressão deveria estar concentrado no escravo. Heloisa Fernandes sugere que a Guarda Nacional deva ser visualizada “como um produto derivado do processo jurídico-político que desemboca na independência política e na realização da dominação agrária”.

O conceito de dominação, presente em Max Weber caracteriza o dominador enquantoum agente social que exerce seu poder seja no quadro administrativo ou na esfera pessoal, segundo o autor, dominação é a “probabilidade (normalmente) confiável de que haja uma ação dirigida especialmente à execução de disposições gerais e ordens concretas, por partede pessoas identificáveis com cuja obediência se pode contar” e também “a probabilidadede encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis”, ou seja, é imprescindível despertar e cultivar a crença em sua legitimidade.

Em 1850, a Lei n. 602, de 19 de setembro trouxe a primeira reforma realizada na Guarda Nacional, estabelecendo que todos os oficiais tivessem patente e por ela pagassem, além do selo, a quantia equivalente a um mês de soldo, igual a dos oficiais de 1ª. linha, de igual posto. Segundo Denise Moura,

Cada vez mais sua personalidade se aristocratiza, insinuando feições e gestos de ‘milícia eleiçoeira’, voltando as costas para o povo (...) urdindo-se conchavos com autoridades, que passaram a nomear oficiais inferiores e subalternos.

Na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, na segunda metade do século XIX, eram geralmente os membros da Guarda Nacional, principalmente os capitães por serem o número maior de patentes - como demonstra a tabela abaixo - que serviam de intermediários como na entrega de cartas de alforria escritas nas residências senhoriais para serem devidamente registradas, sendo procuradores em negociações de compra e venda e padrinhos de casamento e batizados.

A tabela seguinte demonstra as Patentes da Guarda Nacional na Freguesia do Coité.

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A predominância da patente de Coronel era comum em todo o Império brasileiro, enquanto uma forma de poder político que ocorreu principalmente no meio rural. A patente de coronel, porém, não ficou restrita ao serviço militar passando a ser usado para distinguir pessoas com poder político em determinadas regiões, principalmente proprietários de terras com poderes para militares, ou pessoas com prestígio político.

O termo e as características do coronelismo são heranças da Guarda Nacional, uma vez que os chefes locais mais destacados ocupavam nela os postos mais elevados, no caso, de coronéis, seguidos de majores e capitães. A Guarda Nacional foi extinta logo após a proclamação da República, porém persistiu a denominação de “coronel” e a política do “coronelismo” na considerada Republica Velha.

A Guarda Nacional serviu enquanto uma instituição de origem política, voltada a para a manutenção e defesa da ordem das províncias e municípios numa época em que prevaleceram o paternalismo e a pessoalidade nos ajustes políticos.

2.1.4 Sistema eleitoral: alguns decidem por todos

Com a fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, legitimou-se um poder local com a formação da Mesa Paroquial da Freguesia e a escolha de Eleitores e Juiz de Paz como os representantes legais da comunidade.

O Capitão Antonio Manuel Mâncio, proprietário de terras e escravos foi eleito em 09 de Setembro de 1856, com 598 dos 603 votos, como o Primeiro Juiz de Paz, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité. Porém, antes de eleito, exercia a função por indicação do Presidente da Província da Bahia Francisco Gonçalves Martins, também conhecido como Barão de São Lourenço, que esteve nesta função entre 1848 a 1852 e 1868 a 1871.

Após a sua morte do Capitão, em 20 de abril de 1856, seu genro o Alferes Antonio Apolinário da Mota assume a função de Juiz de Paz. A morte do Capitão Mancio não está bem esclarecida no registro de óbito. A causa aparece com uma suspeita que não foi apurada. O documento traz o seguinte: “moléstia de peito ou febres, ou envenenamento como afirmou sua filha Alexandrina, sem requerer corpo delito”.

A base do nosso estudo foi a legislação eleitoral de 1878 que alargou, de forma considerável o direito de voto. Até este ano, o direito ao voto era atribuído a todos os cidadãos portugueses e estrangeiros naturalizados com mais de 25 anos, salvo nalguns casos em que se admitiam eleitores com 21 anos, que comprovassem possuir, nas Assembléias Paroquiais, uma renda anual de cem mil reis ou possuir, para votação de deputados, uma renda de duzentos mil réis.

A lei eleitoral de 1878 permitiu o direito de voto aos cidadãos de idade igual ou superior a 21 anos e atribuiu algumas exigências: o censo, a prova de chefia de família e na capacidade de ler e escrever. Os efeitos desta lei podem ser analisados na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, através da Ata de eleições de 1881. Os eleitores faziam parte da elite dominante que ocupava, geralmente, as esferas do poder local. Eram eles

∗Prof. Florentino Pinto da Silva

∗Pe. Marcolino Francisco de Souza Madureira

∗José Calixto da Cunha

∗José Braz Lopes

∗Manoel Joaquim Ramos

∗Manoel Cedrais de Oliveira Júnior 

∗João Manoel Amâncio

∗Antonio Joaquim Ramos D’Almeida

∗Eduardo Francisco Ferreira

∗Raymundo Nonato de Couto

∗João Lopes da Silva

∗Jerônimo Carneiro da Mota

∗Tito Ferreira da Silva

∗Antonio Manoel Mancio

∗Victoriano Lopes da Silva

∗Victoriano Antonio D’Oliveira

∗Manoel Lopes da Silva

∗João Thirbúcio da Cunha

∗Manoel Joaquim D’Araujo

∗Luiz Pacomio de Souza

∗Manoel José da Cunha Júnior 

∗Antonio Felix de Araújo

∗Aprígio Leôncio da Cunha

∗Amâncio José D’Oliveira

∗Firmino José D’Oliveira

∗Gonçalo José Avelino

Alguns destes eleitores além de desempenharem outras atividades de destaque na Freguesia eram ligados por algum laço de parentesco com outras esferas de poder, constituindo um grupo dominante interligado por funções administrativas ou outros tipos de relações, a exemplo as relações pessoais. Eis alguns exemplos:

Além de eleitor,

José Braz Lopes era Capitão da Guarda Nacional, servindo ainda enquanto procurador de algumas pessoas na realização de compra e venda de terras e escravos.

Antonio Joaquim Ramos D’Almeida foi testemunha do matrimônio de José Braz Lopes e Delmira Bernardina do Espírito Santo, entre outros, realizado em 23 de janeiro de 1866, o que aponta a existência de laços de convivência amistosa.

Eduardo Francisco Ferreira era casado com Joanna Carollina de Jesus, filha de João José da Mota, grande possuidor de terras na Freguesia, além de ter sido testemunha de vários casamentos e prestar serviços como procurador de Amaro Ferreira dos Reiz desde 15 de dezembro de 1866.

João Manoel Amâncio, além de Capitão, era filho do também Capitão Antonio Manuel Mancio, o primeiro Juiz de Paz da Freguesia, eleitor da Freguesia e também testemunha de vários casamentos.

Raymundo Nonato de Couto foi o 1º Escrivão de Paz da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, em 1864. Quando se casou com Justina Maria de Jesus em 27 denovembro de 1866, teve Eduardo Francisco Ferreira com testemunha.

João Lopes da Silva, filho do Capitão Manoel Lopes da Silva, também eleitor, era possuidor de muitas terras e escravos. O Capitão foi testemunha do casamento de Tito Ferreira da Silva com Anna Joaquina de Oliveira realizado em 27 de fevereiro de 1862.

Jerônimo Carneiro da Mota, além de testemunha de muitos matrimônios, também realizou transações comerciais com procurador do Alferes Antonio Apolinário da Motta, de Antonio Ferreira da Silva e de Manoel Antonio de Oliveira.

Victoriano Antonio D’Oliveira recebeu Francisco e Joana no valor de 900$000(novecentos mil réis) e suas crias Raymundo e Gabriela no valor de 600$000 (seiscentos milréis), num total de 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis), como doação de Capitão Manoel Lopes da Silva e Philipa Lopes Maria de Jesus em 16 de novembro de 1877.

João Thirbúcio da Cunha era genro do eleitor e Tenente Manoel Joaquim Ramos e filho de Manoel Antonio de Oliveira. Irmão do Alferes Manoel Anaclito da Silva, de Antonio Manoel de Araújo e ainda de Vallentim, filho ilegítimo de seu pai com Quintiliana, escrava de José Antonio de Oliveira. Era ainda sobrinho do Capitão João Pereira da SilvSanta Roza, por este ser irmão de seu pai.

Florentino Pinto da Silva, além de eleitor, também era Professor desempenhando funções em outra esfera institucionalizada, a educacional.

Manoel José da Cunha Júnior trocou a Faz. Algodões no valor de 100$000 (cem milréis) pela Faz. Maxixe no mesmo valor de Luiz Pacomio de Souza, também eleitor e testemunhas de muitos casamentos realizados na Freguesia.

Manoel Joaquim D’Araujo foi testemunha de vários casamentos e ainda era compadre de José Joaquim de Santa Ana, possuidor de terras e escravos e sogro de Victoriano Lopes da Silva, também eleitor da Freguesia e teve Tito Ferreira da Silva e Manoel Joaquim de Araújo como testemunhas do seu matrimônio.

Aprígio Leôncio da Cunha era filho de Antonio Manuel da Cunha, lavrador e negociante como demonstra o Indicador Pessoal da Freguesia e teve como testemunhas do seu casamento com Redosina Tranquilina do Amor Divino o Capitão João Manoel Amâncio e o Alferes Antonio Apolinário da Mota.

Antonio Felix de Araújo teve José Braz Lopes e João Thirbucio da Cunha como testemunhas do seu matrimônio com Maria Bernardina do Espírito Santo em 17 de julho de 1871.

Manoel Joaquim Ramos era Tenente e, além de possuir terras e escravos, serviu como Procurador do Capitão Agostinho Valenti Figueredo e de Bernardo José da Cunha. Sua Filha Antonia Bernardina de Jesus era casada com José Nunes da Mota, filho de JoãoJosé da Mota, também sogro do eleitor Eduardo Francisco Ferreira.

José Calixto da Cunha serviu várias vezes como testemunha de matrimônios.

Pe. Marcolino Francisco de Souza Madureira, foi ordenado presbítero por Dom Manoel Joaquim da Silveira em 03 de janeiro de 1864 e nomeado enquanto vigário da Freguesia do Coité em 16 de julho de 1869, tomando posse em 17 de agosto de 1869. Nasceu em 03 de janeiro de 1833 e era natural de Jequiriçá (BA), vivendo por cem anos, até 09 demarço de 1933. Durante todo este período na Freguesia, desempenhou atividades que não estavam apenas relacionadas com as questões eclesiásticas, como a reforma e ampliação da Igreja Matriz que contou com o apoio de Coronel João Manoel Amâncio, a construção do cemitério com a capela em 12 de janeiro de 1876 e a instalação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus em 1879, mas também exerceu cargos políticos fazendo parte do Conselho Municipal exercendo o cargo de Intendente Local.

Em abril de 1897, durante seu mandato de intendente municipal, recebeu um comunicado do governo estadual autorizando o tesouro “a entregar a essa Intendência aquantia de 3:700$000 (três contos e setecentos mil réis), relativos ao auxílio do Estado à instrução primária desse município, de acordo com o art. 13 da lei orgânica do ensino”. Em 03 de dezembro de 1923 foi nomeado Arcipreste.

Mesmo não se fazendo uma análise de toda população eleitoral, devido a falta de informações, podemos verificar que a “democratização” da vida política não revolucionou a estrutura geográfica de participação política cujo poder manteve controlado, ao longo do período considerado, a partir do espaço ocupado pelo grupo dominante local.

2.1.5 Cargos Administrativos : exercício e status

Os Tabeliães de Notas de Oficio, os Agentes dos Setores Educacionais e os Cargos Eclesiásticos desempenhavam outra esfera de poder. Eram os Tabeliães de Notas de Oficio os responsáveis pela confecção dos documentos oficiais de registros de compra e venda de imóveis e escravos - escrituras e procurações públicas, das alforrias e das atas eleitorais, testamentos públicos, formalizando juridicamente à vontade das partes em questão.

O 1º Escrivão de Paz de da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, foi Raymundo Nonato de Couto que assumiu a função em 1864, sendo também eleitor da Freguesia.

Os Setores Educacionais também eram instrumentos de disciplinarização e deformação de opiniões. Na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité apenas três professores foram encontrados: José Conrado de Araújo Marques, Florentino Pinto da Silva e D. Eulália Alexandrina da Rocha e Oliveira.

José Conrado de Araújo Marques, além de professor, também exerceu o cargo de Escrivão no ano de 1857, como consta no 1º Livro de Escrituras. Em 1865 foi procurador de José Antonio da Costa e Silva, possuidor de muitas fazendas e também entregou algumas alforrias, como a de Pedro, escravo do Tenente Antonio Manoel Mâncio, em 29 desetembro de 1866, a de Maria, escrava de Rita Maria de Jesus, em 05 de junho de 1867, a de José, escravo de Manoel Lopes da Silva e Fellipa Maria de Jesus, em 05 de junho 1867,e ainda assinou a alforria do escravo Pedro, propriedade do Capitão Manoel Lopes da Silva. Era casado com Joaquina Maria de Jesus e, sobre ela, foi encontrado apenas o seu registro de óbito datado em 02 de abri de 1871, aos 35 anos, morte esta causada por “moléstia interna” e enterrada com “encomenda solene”.

Florentino Pinto da Silva, também era eleitor e casou-se com Francelina, filha do Capitão Manoel Lopes da Silva, como demonstra o registro de casamento datado em 21 de janeiro de 1881.

Quanto a D. Eulália Alexandrina da Rocha e Oliveira, poucas informações existem, apenas duas procurações do ano de 1875. A primeira passada a Francisco Martins Alves para receber dinheiro na Tesouraria Provincial, e a segunda passada a seu marido Felinto Ferreira D’Oliveira e a seu cunhado Capitão João Ferreira D’Oliveira para vender terras na Freguesia da Igreja Nova, Termo de Alagoinhas.

Um documento da Câmara Municipal de Feira de Santana endereçado ao Vice-Presidente da Província da Bahia em 1860, constando a existência de

clamorosa privação em que se acham os habitantes das longínquas Freguesias de Nossa Senhora da Conceição do Coité e Riachão do jacuípe, das Aulas de Instrução Primária que foram antes da definição da Diretoria pelo regulamento organizado de 28 de dezembro de 1860

Em abril de 1897, o Padre Marculino Madureira reafirma a carência da instrução primária enviando outro documento pedindo auxílio às autoridades políticas de Feira deSantana.

Quanto aos cargos eclesiásticos, cabia a Igreja Católica o papel de salva guardar os bons hábitos e os bons costumes da sociedade, através das leis e ordens designadas por Deus.

Muitas vezes, o espaço de atuação do pároco não correspondia apenas ao seu lugar geográfico de pastoreio, sendo, muitas vezes, alargado por um processo de ascensão e desempenho que o instituía numa elite representativa e privilegiada.

O perfil dos clérigos na sociedade baiana no século XIX foi analisado por Cândido da Costa e Silva que identificou o clero reconhecido como “beletrista ajustado ao brilho do eruditismo dominante”.

O Estado era o responsável por controlar as atividades eclesiásticas até o final do século XIX, por meio do regime de padroado, cabendo ao Estado nomear e remunerar párocos e bispos e ainda conceder licença para construir igrejas. Porém, após a proclamação da República ocorreu a separação entre Igreja e Estado em 07 de janeiro de 1890, acabandocom o padroado garantindo a liberdade religiosa e reconhecendo o caráter leigo do Estado.

Em 1756 ocorreu construção da Capela local nas terras ofertadas por João Benevides, sendo instituída a devoção a Nossa Senhora da Conceição, e em 1763 foram os registrados os óbitos referentes a Capela de Nossa Senhora da Conceição do Coité nos registros da Freguesia de São João Batista da Água Fria, da qual era filial.

Cinco párocos que exerceram funções na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité foram identificados: Padre Manoel Santos Vieira, durante os anos de 1856 a 1864, Padre Francisco D’ São João Emiliano, entre os anos de 1864 a 1869. O Padre Severo Cuim Atuá, declarante de terras em 1858 e Padre Prudente, não sendo encontrados documentos a respeito de atividades desempenhas na Freguesia, nem eclesiástica, nem de outra natureza. Porém, o maior destaque está para o Padre Marculino Madureira que desempenhou além das funções paroquiais entre os anos de 1869 a 1933, outras funções políticas. Natural de Jequiriçá, Bahia, foi ordenado presbítero por Dom Manoel Joaquim da Silveira em 03 de janeiro de 1864 e nomeado como vigário de Coité em 16 de julho de 1869, tomando posse na Paróquia de Coité em 17 de agosto de 1869, e torna-se vigário colado em 27 de maio de 1871. Realizou a reforma e ampliação da igreja, construiu o cemitério com acapela em 12.01.1876 e instalou devoção do Sagrado Coração de Jesus em 1879. Assinou doação de Cyrillo, feita por Joaquim Gonçalves Gordiano a seu filho Manoel Gonçalves Gordiano, em 07 de Agosto de 1880. Era eleitor da paróquia, e em 03 de dezembro de 1923 foi nomeado Arcipreste. Foi um dos primeiros Intendentes Municipais, falecendo em 09 de Março de 1933 com mais de cem anos de idade.

2.1.6 Comércio, poder e controle de riquezas.

O contato com uma variada documentação referente à Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, constando a compra e venda de terras e escravos, cartas de alforrias, registros eclesiásticos de óbitos, batismos e casamentos, indicadores de registros de hipotecas, atas, inventários, trocas de imóveis, doações entre outros, permitiu a identificação de uma incidência de transações comerciais, envolvendo a mão-de-obra cativa e a propriedade agrária, justamente no período em que a Bahia, segundo Kátia Mattoso, “adormecia”,incitando questionamentos sobre a transição da mão-de-obra escrava para o trabalho livre na segunda metade do século XIX.

Alguns estudos realizados recentemente – leia-se a partir das décadas de 1980 e 1990 – apresentam indicativos que questionam teorias generalizantes, onde especificidades são aguçadas e demonstram a fragilidade de tais abordagens, indicando a necessidade de re-interpretações dos modelos explicativos que predominaram durante décadas. 

Neste sentido, encontram-se as pesquisas realizadas por Erivaldo Fagundes Neves sobre a estrutura fundiária de Igaporã, na região da Chapada Diamantina, no sertão baiano, desvendando um processo de “minifundiação” e testemunhando a importância desta temática para a compreensão do processo de formação e desenvolvimento do Estado Nacional, argumentando que “a História do Brasil não deve ser o somatório das histórias regionais”, mas que estes estudos indicam variáveis relevantes na compreensão da formação do Estado Nacional Brasileiro, despercebidas nas pretensões generalizantes.

“Da Sesmaria ao Minifúndio” de Erivaldo F. Neves demonstra também a existência de relações sócio-econômicas, centradas em atividades como a policultura que, em algumas regiões desenvolvia-se numa dinâmica própria além da agro-exportação, pondo em cena outros atores sociais que extrapolavam o binômio senhores/escravos.

Simultaneamente à ocupação do interior, desenvolveu-se uma “produção do auto-abastecimento capaz de gerar excedente para o mercado regional e interprovincial (...) promovendo acumulação interna e formação da pequena propriedade fundiária” que não se submetiam à grande lavoura monoprodutora destinada a fornecer produtos para o comércio europeu.

Discordando de Caio Prado Júnior que visualiza o auto-abastecimento como algo insignificante, argumentando que a grande lavoura era o grande nervo econômico, enquanto “a produção dos gêneros de consumo interno – a mandioca, o milho e o feijão, que são os principais – foi um apêndice dela, de expressão puramente subsidiária”, Erivaldo Neves não considera a policultura sinônimo de produção de subsistência, apesar de utilizar o termo “auto-abastecimento”. A policultura, segundo o autor, ultrapassou a produção destinada apenas para o consumo dos próprios produtores, gerando excedentes que dinamizaram “o segmento mercantil interno da economia colonial, sem controle direto da metrópole”, possibilitando a formação de uma estrutura sócio-econômica específica legitimada no poder privado local, que também se reproduzia com a utilização da mão-de-obra escrava.

João Luís Fragoso privilegiando a praça mercantil do Rio de Janeiro do final do século XVIII até os trinta primeiros anos do século subseqüente, percebeu a existência de uma acumulação mercantil que se revestia na hierarquia local, consolidando um grupo social especifico: a elite mercantil. O autor atenta ao processo de formação de um grupo de negociantes envolvido no comércio interno colonial, permitindo uma acumulação endógena que era investida na própria comunidade mercantil residente, sendo que “nem todo excedente precisava necessariamente retornar à produção”.

Considerando o desencadeamento do processo de formação das pequenas propriedades discutido por Erivaldo Fagundes Neves, percebemos nos Registros Eclesiásticosda Freguesia de Nossa Senhora de Conceição do Coité, que a partir de 1850, a propriedade da terra “circulava” em compra e vendas constantes, levando as grandes propriedades da região do semi-árido baiano a se reorganizarem em pequenos e médios proprietários. 

Na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité algumas pessoas com patentes da Guarda Nacional destacaram-se tanto nos papéis políticos desempenhados na freguesia como também nas transações comerciais realizadas. É o caso, por exemplo, do Tenente Antonio Manuel Mâncio, filho do Capitão Antônio Manoel Mâncio, assim como também do Capitão José Carneiro da Silva, e do Capitão Manoel Lopes da Silva, entre outros. 

Nos Registros Eclesiásticos de 1858 aparecem as Fazendas Mucambo no valor de 140$000 (cento e quarenta mil réis) em 25 de março de 1858 e Berimbau (VND) em 12 deabril de 1858 como pertencentes ao Tenente Antonio Manuel Mancio, porém outras fazendas suas, não declaradas surgem em outros registros, como é o caso das seguintes fazendas: a Paulista, que consta no registro de Antonio Manuel Mâncio em 25 de março de1858, com o valor de 4$406 (quatro mil e quatrocentos e seis mil réis).

A Fazenda Queimada do Curral aparece na mesma situação no registro de Manoel Lopes da Silva de 02 de março de 1858, com o valor de 16$000 (dezesseis mil réis), e aindacomo comunhão em três partes de terras no Registro de Antonio Ferreira de Oliveira em 07 de março de 1858, sem o valor declarado e no registro de Antonio Manuel Mancio em 25 demarço de 1858, com o valor de 4$406 (quatro mil e quatrocentos e seis mil réis). A Sacco dos Marco no valor 140$000 (cento e quarenta mil réis) no registro de Antonio Manuel Mancioem 25 de março de 1858.

A experiência do Capitão José Carneiro da Silva demonstrou que sua Fazenda Serra Vermelha foi citada em vários registros apesar de não ter sido registrada. Em 14 de abril de 1858 no registro de Lino da Costa Ferreira e em 20 de abril de 1858 nos registros de Mariados Santos, no de Anna Maria, e no de João Manoel da Costa.

Quanto ao Capitão Manoel Lopes da Silva, declarou no ano de 1858 as seguintes fazendas: Mucambo, em 02 de março de 1858 valendo 150$000 (cento e cinqüenta mil réis), Gangorra, em 02 de março de 1858 valendo 15$000 (quinze mil réis) e Queimada do Curral, em 02 de março de 1858 valendo 16$000 (dezesseis mil réis), porém a Fazenda Santa Roza que não foi declarada aparece em sete outros registros, como no de Manoel Ferreira da Silva feito em 12 de março de 1858, e ainda nos três registros feitos por Ritta Maria de Jesus e emoutros três declarados por Izabel Perpetua de Jesus, todos feitos na mesma data e sem valor declarado, e o interessante é que mesmo ele não tendo declarado a Fazenda Santa Roza, foi ele que assinou pelas duas senhoras em suas respectivas declarações.

Em 20 de abril de 1857 encontra-se uma compra da Faz. Vargem no valor de 200$000 (duzentos mil réis), sendo que esta propriedade, além de não ter sido declarada, também não constou como comunhão em nenhum outro registro. Existem ainda mais duas compras de terras, uma da Fazenda Santa Roza datada em 07 de junho de 1867 no valor de 240$000 (duzentos e quarenta mil réis) e outra da Fazenda Rio do Peixe no valor de 1:000$000 (um conto de réis), porém a data encontra-se ilegível.

Quanto aos escravos, Apollinaria aparece como sua propriedade empregada na lavoura, tendo ainda comprado José por 600$000 (seiscentos mil réis) em 22 de junho de 1859, e alforriado em 05 de junho de 1867 valendo 900$000 (novecentos mil réis), porém só tendo sido efetivada a alforria em 24 de março de 1870 após ter sido assinada pelo Prof. José Conrado de Araújo Marques.

Em 23 de maio de 1876, o Capitão Manoel Lopes vendeu Custodia, com 12 anos, cria de Apolinária da lavoura por 400$000 (quatrocentos mil réis), e ainda doou, em 16 denovembro de 1877, duas escravas com suas respectivas crias somando num total de 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis) a Victoriano Antonio D’Oliveira, também eleitor desta Freguesia, como já foi relatado anteriormente.

Consta ainda uma desistência de herança em 03 de fevereiro de 1868 após o falecimento de Clemente Jose Lopes e Maria de Tal, beneficiando José de Souza Pinto, porém não foi possível estabelecer qualquer tipo de relação envolvendo estas quatro pessoas.

A documentação estudada deixa perceptível que a partir da segunda metade do século XIX, ocorreu em Coité, um crescimento no número de transação comerciais de terras eescravos. Alguns documentos mostram que escravos eram comprados e pouco tempo depois,vendidos. No dia 01 de Maio de 1865, Thibúrcia, escrava de Joaquim Lopes Guimaraens foi comprada por Pedro Alexandrino dos Santos, sendo vendida à Carolina Maria Lopes no mesmo dia. O escravo Isidoro passou pelo mesmo processo no dia 13 de fevereiro de1867. Seu dono, João José da Motta vendeu-o ao Alferes José Félix dos Campos e este revendeu a José Nunes da Silva Carneiro.

Erivaldo Fagundes ressalta a intensificação de um comércio interprovincial de escravos da policultura de Caetité, no Alto Sertão da Serra Geral da Bahia, para a monocultura do café, na fronteira agrícola do oeste paulista no período de “crise” da escravidão e argumenta que “sempre se negociou cativos intra e inter-regionalmente, mas a mercancia interna da segunda metade do século XIX teve caráter específico, não se configurando ‘mero substituto’ do tráfico atlântico, mas sua continuação”.

Quanto aos escravos do Tenente Antonio Manoel Mancio podemos citar alguns que foram comercializados: Maria, Martinho, Simoa, Custodias, Pedro Anacleto, Benedito e Honório, este último havido por doação de sua tia Anna Joanna de Jesus pelos bons serviços prestados. O Tenente Antonio Manuel Mancio, além de eleitor da Paróquia, serviu como procurador de Simão Satyro Lopes Guimaraens para venda de terras e bainda entregou alforrias para serem registradas.

O Capitão João Manoel Amâncio também negociou escravos, como Herculana vendida no valor de 200$000 (duzentos mil réis) em 25 de março de 1868, anteriormente comprada a Bernardino José da Cunha, comprou Marcolina, cria de Francisca, com 09 para 10 anos de idade no valor de 500$000 (quinhentos mil réis) em 20 de março de 1871 e no mesmo dia a vendeu no valor de 550$000 (quinhentos e cinqüenta mil réis), comprou Francisca, cria de Maria, com 08 anos por 500$000 (quinhentos mil réis) em 04 de março de1872, comprou João com 32 anos de idade no valor de 1:200$000 (um conto e duzentos milréis) em 12 de novembro de 1874 e ainda comprou Sabino com 20 anos de idade no valor de 600$000 (seiscentos mil réis) em 24 de maio de 1875.

Após o falecimento da sua esposa Felismina Tranquilina do Amor Divino, o Capitão João Pereira Valladares, inventariou os bens do casal, contando com as fazendas e os escravos os bens chegaram em cerca de 26.420$000 (vinte e seis contos e quatrocentos e vinte mil réis) na primeira avaliação, restando ainda 11.973$003 (onze contos, novecentos e setenta e três mil e três réis) em créditos e dívidas a receber, o que somando agremia-se um total de 32.393$003 (trinta e dois contos, trezentos e noventa e três mil e três réis), restando o débito de 6.250$000 (seis contos e duzentos e cinqüenta mil réis), sem contar com as despesas do inventário. 

Na vila de Nossa Senhora da Conceição do Coité “formada em 1893 por seis ruas e uma praça”, como caracterizou Francisco Vianna, a pecuária desempenhava uma parcela importante tanto no comércio local, quanto na comercialização com alguns centros econômicos importantes do período. Segundo Francisco Vianna

Os habitantes do município criam gado vaccum, cavallar, suíno, lanígero, caprino e muar e lavram fumo, algodão, mandioca, batatas, etc. Sua principal industria é a fabricação de redes, pannos de algodão, fumo de rolo, e descaroçamento de algodão, com cujos productos commercia a villa com a capital, alagoinhas, Feira de Sant’Anna, Serrinha, Bomfim, Jacobina,Monte-Alegre, etc.

Além de terras e escravos, a ocupação do interior do estado da Bahia conta também com a criação de gado e com o desenvolvimento de atividades para o auto-abastecimento através da policultura.

Maria Isaura Pereira de Queiroz caracteriza a fortuna como “um dos meios principais de se fazer benefícios no Brasil” e que “as vias de acesso à fortuna foram principalmente a herança, o casamento e o comércio”. No próximo capítulo, o casamento e a família são os objetos de estudo que permitem perceber como relações sociais e de poder são construídas emantidas numa dada sociedade.

 

http://pt.scribd.com/doc/63533123/Dissertacao-Nossa-Senhora-da-Conceicao-do-Coite-%E2%80%93-Poder-e-Politica-no-Seculo-XIX

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Diário Oficial da União 1916

 

Obs: Devido ao estado do texto creio que usaram um programa de reconhecimento de texto (OCR) ao digitalizarem o documento e não se deram ao trabalho de verificar o resultado.

 

603° batalhão de infantaria

Estado-maior -Major fiscal, Francisco Fera raiva Coutinho ;

Tenente secretario, Domingos de Freitas Oliveira

Tenente quartel-mestre, João Passos dos Prazeres

Capitão cirurgião. Januario Joaquim da Silva.

21 companhia -Capitão, Saturnino José dos Santos ;

Tenente, José de Oliveira Reis.

3 companhia -Tenente, Candido Ramiro de Mattos.

4a companhia -Capitão, José de Souza Moa

·

nozes ; ·.

Tenente, Antonio Dantas, da

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dc hifania. ·

·'472° baia

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Estada-maior -Tenonte-coronel 'comnlalldj

dante, Oscar de Andrade.

201." regimento de cavallaria

4· esquadrão -Capitão, Josué Franciscd

Martins.

Comarca de Serrildia (presumo que seja Serrinha)

50' batalhão de artilharia do posição

Esiado-maior -Tenente-coronel commatt.;

dante, Eustorgio Pinto Gueda.

Major fiscal, Aristides Cedraz de Oliveira:

Capitão ajudante, José Lopes da Silva.

I a bateria -Capitão, Zeferino Gonçalvd

Pastor.

2" tenentes, Leopoldino Ramos Gordiano

Amancio José da Cunha.

2° bateria -Capitão, Manoel Ramos Cor,

diano.

03

2 tenentes, José Candido do Carmo e Jo-Á

vino Martins dos Santos.

31 bateria -Capitão, Belmiro Cedraz

da

Oli2‘0.e,itreatientes,

Juvenal Antonio do Oliveira e

Alfio Pinto da Silva.

4' bateria -Capitão, José Caetano Mascaranhas.

2°' tenentes, Tiburtino Ferreira. da Silva e

Augusto Cedraz do Oliveira.

0 regimento de artilharia do campanha

59

Estada-maior -Major fiscal, Pedro Trinka

Tavares da Silva Carneiro.

la bateria -Capitão, Moysés Nunes Gora

diano.

2" tenentes, Augusto Carlos de Oliveira e

João Rodrigues Mascarenhas.

2' bateria -Capitão, Aloisio Cedraz

di

203 tenentes, José Pinto da Silva e

chiadas Antonio de Oliveira.

3° bateria-Capitão, Abilio de Araujo.

·

2" tenentes, Benigno Antonio de Oliveira

Ludovico Lopes de Araujo.

4' bateria -Capitão, Durval da Silva

Pinto.

2° tenente, João Pinto da Silva.

 

Pg. 3. Seção 1. Diário Oficial da União (DOU) de 17/09/1916

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Toinho e Ana

 

Ana Carneiro Rios nasceu em 28 de abril de 1908, na fazenda Calderãozinho. Filha de Getúlio Carneiro Rios e Ruth Carneiro Rios. Sua avó Clara Rios que era parteira fez seu parto. Foi batizada dia 06 de agosto. Foi morar em Valente com 10 anos para estudar. Virou professora.

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Conheceu Antônio Felix de Araújo Junior, conhecido por Toinho, natural de Conceição do Coité, onde se casaram e viveram.

Antônio era comerciante de tecidos, Ana passou a ajudá-lo na casa comercial. Por questões financeiras Antonio teve que fechar a loja e foi morar na fazenda Peixe, de propriedade de sua mãe, e se iniciou na atividade agro-pecuária. Essa atividade também não deu certo e Toinho vai tentar a vida em itabuna, deixando Ana e os filho na casa dos tios dela em Valente. Antonio retornou do Sul da Bahia com algum dinheiro e a familia se mudou novamente para Conceição do Coité, indo morar na fazenda Peixe. Por causa da seca se mudam para Valente onde Antonio foi trabalhar no escritorio do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca e Ana comprou uma fábrica de balas. Depois de reunir algumas economias voltaram definitivamente para Conceição do Coité.

Antônio abre um açougue e Ana continua com a fábrica de balas e costura para fora.

A família foi numerosa, foi constituida de nove rebentos.

Filhos de Antônio e Ana:

Almir Ney de Araújo, Valdir Araújo Rios, Everton Rios de Araújo, Hamilton Rios de Araújo, Valmir Araújo Mota e Vandir Araújo Gordiano. Não descobri os nomes dos outros três.

Ana morreu em 25 de abril de 1959. Antônio ainda era vivo quando ela faleceu.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Hildebrando Cedraz - Missa de 100 anos

 

Conceição do Coité, 09-06-2001

Na missa de 100 anos de Hildebrando Cedraz foi distribuido um livrinho da missa, na primeira página havia o seguinte:

Missa solene em Ação de graças pelos “100 anos” de vida de Hildebrando Cedraz – Pequeno

Bom dia…

Pequeno Cedraz nasceu em 09 de junho de 1901, filho do Senhor Aristides Cedraz de Oliveira e da Sra Antonia Leopoldina Cedraz de Oliveira.

Uniu-se em Laços Matrimoniais com Idália Gordiano Cedraz em 26 de abril de 1928.

Para a felicidade do casal e para formar uma família Deus lhes concederam seis filhos: Homero Gordiano Cedraz, Mariá Cedraz de Oliveira, Abelardo Gordiano Cedraz, Francisco Gordiano Cedraz, Raimundo Gordiano Cedraz, e Maria das Graças Cedraz de Almeida.

Homem do Campo, batalhador, agropecuarista, chegou em Ichu em Outubro de 1932, ano este de grande seca e o comércio arrasado. Comprou a casa de Antonio Piu e instalou o seu comércio. A maior dificuldade encontrada foi arranjar uma casa para abrigar sua família. Só tinha no vilarejo as residências dos fundadores. Alojou sua família na fazenda Rio das Pedras e ia todos os dias para Ichu montado em animal pois na época não existia na região outro meio de transporte.

A situação veio ficar maisagradável só no ano seguinte (1933) onde houve uma safra boa e aí pôde o senhor pequeno erguer o seu comércio, sua fazenda e transferir a família para Ichú.

Homem de grandes ideais. Queria ver de qualquer forma o progresso chegar a Ichú.

Em 1937 foi eleito vereador pelo município de Riachão do Jacuípe e aí a sua garra, valentia e coragem de lutar por um Ichú livre crescia cada vez mais.

Em 1962 com grande esforço também da sua parte Ichú passou a ser cidade.

Foi o primeiro prefeito de Ichú, exerceu seu mandato de 1963 à 1967.

Dizia ele: “Sinto muita felicidade e orgulho em governar este lugar porque é o começo de uma jornada.”

Pelos designos de Deus Homero e Francisco ainda quando crianças foram para a eternidade. hoje são anjos cantando louvores.

Só bem mais tarde que dois de seus filhos ente-queridos partiram também para a morada eterna. Seu outro filho Raimundo e sua esposa Idália. Com certeza de lá, estão felizes por esta data importante na vida de Pequeno Cedraz.

Hoje encontra-se o grande “Pequeno” com sua família crescida e os frutos desta alegria são os seus 18 netos e 31 bisnetos que com demais familiares, parentes e amigos nesta Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coité onde reside atualmente, unem-se para celebrar a vida, o dom mais precioso que recebemos de Deus. Vamos agradecer e louvar ao Deus Pai providente pelo seu amor por nós, pelos nossos amigos, pelas nossas famílias, pelos nossos sucessos e dificuldades. Pelo seu filho que nos salva e nos leva aos caminhos maravilhosos do amor. Vamos celebrar, festejar e cantar pelos “100 anos”, um século de vida deste maravilhoso ser que é Pequeno Cedraz. Para que esta celebração de Ação de Graças seja vivida por nós em profundidade e acolhida pelo senhor unamos os nossos sentimentos e entoemos em alegria o Canto de Entrada acolhendo o aniversariante, sua família e o presidente desta Eucaristia.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

História do Município – Conceição do Coité

 

Os livros históricos que discutem sobre o povoamento das terras do sertão baiano nos inclinam a pensar que nos primeiros tempos de colonização, já se abriam caminhos e se estabeleciam pousos nos vales, às margens dos rios Jacuípe e Tocos, no território que hoje compreende o município de Conceição do Coité.

Os criadores de gado, comerciantes dos sertões de Piauí e São Francisco, com o desenvolvimento desta criação, mandavam seus vaqueiros transportarem seus gados para comercializá-los nas grandes cidades e vilas existentes.

As boiadas eram sempre conduzidas nas direções dos rios, onde encontravam água fresca e pastagens abundantes. À borda dos rios se faziam pousos, erguiam-se os currais que davam origem às fazendas que por sua vez, originavam os futuros povoados. Na falta do rio mais próximo, os vaqueiros pousavam com as boiadas sob uma árvore sombrosa qualquer, onde existisse pastagem. A árvore mais frondosa então existente em nosso município, era a cuitezeira. Por essas e outras razões é que os vaqueiros e suas boiadas acampavam na “Fazenda Coité” sob a sombra de uma cuitezeira, arvore que deu o nome a Fazenda e que se tornou marco central para o desenvolvimento da cidade, com a construção, nas suas proximidades, da primitiva capela.

A terra onde se situava a “Fazenda Coité” se encontrava, a princípio, sob a jurisdição de Cachoeira, elevada à vila em 1698, para a qual for transferida a sede da Ouvidoria da Bahia. Em 1718, foi criado o arraial de São João Batista de Água Fria cuja sede foi transferida em 1832 para a vila de Nossa Senhora da Purificação do Campos em 1842, passando nossas terras a pertencerem a essas unidades administrativas.

Em 1855 o território de Conceição do Coité passou para o domínio da Vila de Feira de Santana, até que, em 1878, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jacuípe foi elevada à categoria de Vila, sendo-lhe anexada a nossa Paróquia. Somente em 1890 é que o município de Conceição do Coité foi criado e instalado, desmembrando-se de Riachão do Jacuípe. A partir daí, o município passou por uma fase de insustentação, chagando a ser suprimido em 1931; voltando conseqüentemente a integrar ao território do Município de Riachão do Jacuípe. Em 1933, o município foi restaurado, definitivamente, sendo a sede elevada à Categoria de Cidade em 1938.

As terras da Fazenda Coité, compreendidas entre a fazenda Boca da Caatinga, Mocambo, Berimbau, Pindá, Patos e outras das incomensuráveis sesmarias, pertencia a Francisca Joana Josefa da Câmara, viúva de D. Manoel de Saldanha, que teria vendido uma parte da mesma ao senhor Manoel Antonio dos Santos e outra parte a Joaquim de Sousa Benevides, pai de João da Cunha Benevides que posteriormente adquiriu estas por título de compra aos mesmos e por adjudicação pelo falecimento dos seus pais, moradores deste lugar.

A denominação de “Fazenda” sugere que ali existiam umas árvores da família das Bignoniáceas, denominada de “Coité”, dando origem posteriormente ao povoado, à freguesia, à vila, à cidade e conseqüentemente, ao município de Conceição do Coité.

Coité, segundo o etnógrafo Teodoro Sampaio, vem do tupi-guarani, cui + etê, significando vasilha ou cuia: a cunca do licurizeiro, a coité, a cuia da cabaça, etc.

Era norma canônica a garantia de construir capelas sobre o patrimônio de terras legalizadas por doação. Só assim as autoridades eclesiásticas admitiam essas casas de oração para o culto público. A capela foi construída por volta de 1756, em terras ofertadas pelo benemérito João Benevides, sendo doado “cem metros ao redor da igreja”, conforme diz a tradição.

A capelinha construída na antiga propriedade do Sr. João Benevides ainda existe. Logo após a criação da freguesia, sofreu constantes reformas a partir da posse do vigário Pe. Marcolino Madureira, que a ampliou com a construção da sacristia ao fundo. No mais, ainda conserva suas características primitivas.

Com a criação da freguesia em 1855 a denominação “Coité” ganhou um nova complementação, passando o lugarejo a ser conhecido por Nossa Senhora da Conceição do Coité. O topônimo se enriqueceu com o nome da santa que passou a fazer parte integrante da vida da localidade em todas as fases da sua história, exceto em 1931, quando o município foi extinto com esse nome, passando a chamar-se “Jacuípe”. Entretanto, foi só por pouco tempo, pois, dois anos após, em 1933, o município foi restaurado, voltando à denominação de Nossa Senhora do Coité, para a alegria de todos os coiteenses.

Conceição do Coité, pelo seu franco desenvolvimento e pela sua posição geográfica, era bastante cobiçada pelas cidades circunvizinhas.

Pelo pouco tempo de sua existência veremos que a mesma pertenceu a várias outras cidades mais desenvolvidas da época. Não obstante pertencer à Cachoeira, Água Fria, Irará, Feira de Santana e Riachão do Jacuípe, veremos que até Queimadas (que na época não passava de um simples arraial) tentou, através de Projeto em 1848, elevar aquele arraial à vila, pertencendo a Queimadas. Porém essa tentativa foi frustrada.

Logo após a criação da freguesia, marco propulsor do progresso e do desenvolvimento, Conceição do Coité desmembra-se da freguesia de Riachão do Jacuípe e passa para o domínio de Feira de Santana, que governou o município durante vinte e três anos, até 01 de agosto de 1878, quando volta a pertencer, juntamente com gavião, como distrito da vila de Riachão do Jacuípe, recém criada. Decorrido pouco tempo da criação da vila de Riachão do Jacuípe, o município de Conceição do Coité, pelo ato Estadual de 18 de dezembro de 1890, fica criado e desmembrado de Riachão, sendo instalado, definitivamente, a 30 de dezembro do mesmo ano. Essa forma perdurou até o ano de 1931, quando o movimento revolucionário anexou os pequenos municípios aos vizinhos de maior renda; medida antipática atribuída ao então Secretário do Interior e Justiça, Bernardino José de Sousa. Entretanto passageira como veremos a seguir: com o decreto estadual 7455 de 23 de junho de 1931,extingue-se o município de Conceição do Coité, que passa a chamar-se “Jacuípe”, cuja sede com esse nome foi a própria vila de Conceição do Coité, e o decreto 7479 de 08 de julho de 1931, extingue o município de Riachão do Jacuípe e, paradoxalmente, o seu território é anexado a este município de Jacuípe, sendo criado em sua sede uma subprefeitura.

Atendendo aos apelos e às províncias da população coiteense, o então governador do Estado e interventor federal, Juracy Magalhães, restaura o nome do município por meio do decreto 8528 de 07 de julho de 1933. Podemos dizer que Conceição do Coité também recuperou, assim, a sua autonomia político-administrativa, sendo a sede elevada a categoria de cidade pelo Decreto-Lei 10724 de 30 de março de 1938.

Na divisão administrativa de 1933, como nas divisões territoriais de 1936 e 1937, o município compunha-se de dois distritos: Conceição do Coité e Valente.  Em 1953 inclui-se também Retirolândia e Salgadália.

Valente foi desmembrada em 1958 e Retirolândia em 1962.

Vale salientar que em 1943, Luis Amâncio Moreira, prefeito municipal, atendendo a solicitação do advogado provisionado, Durval da Silva Pinto, envia à comissão Revisora do Quadro Territorial da Bahia, um documento propondo uma nova denominação ao município. Ao invés de Conceição do Coité, passaria a chamar-se Cuité, por ser a denominação atual uma palavra composta. A comissão não apreciou o documento, ficando a atual denominação, “Conceição do Coité”, até os dias de hoje.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Certificado de Reservista Emidio

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Coronel Antônio Felix de Araújo e família

 

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Porcina Rosa (nenê) e Antônio Felix de Araújo com os filhos.

Da esquerda pra direita em pé: Alice, Antonio (Toinho), Almira (Lulu), Alfeu, Amélia (Nelinha), Anisia (Zú), sentados estão Albertina (Lourinha) e Alberto (Beto).

Não tenho muitas informações sobre eles. Fui informada que Antônio Felix de Araújo foi casado três vezes e teve muitos filhos, não sei ao certo quantos.

Sei o nome de apenas duas das mulheres dele até o momento: Porcina Rosa de Araújo (não sei o sobrenome de solteira) e Maria Bernardina do Espirito Santo (casaram 17/07/1871). Ele teve vários filhos alguns dos quais estão na foto. Além desses encontrei registros de três filhos dele com Maria Bernardina: José (nascido 03/03/1878), Alfredo (nascido 15/03/1884) e Elvira (nascida 06/12/1890).

Um filho de Antônio Felix e Porcina Rosa que não está na foto é Otácilio de Araújo (Tilô). Ele nasceu em 15/04/1904 e faleceu 21/12/1990.

Almira nasceu em 15/09/1908 e faleceu 05/09/1982.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO COITÉ: PODER E POLÍTICA NO SÉCULO XIX – Capítulo 1

 

Autora: Iara Nancy Araújo Rios

 

RESUMO

O objetivo deste trabalho é identificar a composição do grupo dominante na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, no Sertão dos Tocós. Tal grupo que desempenhava atividades variadas na Freguesia, atuando enquanto eleitores, tabeliães, negociantes, senhores de terras ed e escravos, além de serem detentores de patentes. As principais fontes históricas foram as séries dos Registros Eclesiásticos de Terra, realizados na região em 1855, conforme a Lei de Terras de 1850,encontrando-se sob a guarda do Arquivo Público do Estado da Bahia. Os Livros de Notas, existentes no Arquivo Municipal de Feira de Santana e no Fórum Durval Silva Pinto, de Conceição do Coité, com informações sobre a compra e venda de terras permitiam a investigação dos arranjos locais e das relações de poder relacionados com a apropriação territorial que atingiam, sobretudo, pequenos e médios proprietários. A análise detais documentos demonstrou a existência de agentes sociais que extrapolam o clássico binômio senhor/escravo, comumente utilizado em estudos que se concentram na segunda metade do século XIX. Numa sociedade patrimonial e patriarcal, as relações pessoais (principalmenteo casamento e o apadrinhamento) eram elementos primordiais na conformação dos grupos sociais em questão. Os registros eclesiásticosde batismo, óbitos e casamento, parte do acervo do Bispado de Feira deSantana, evidenciam as relações de poder desempenhadas pelo grupo local.

INTRODUÇÃO

Ainda era noite. Apenas alguns raios teimavam em romper a escuridão e já se ouvia passos ligeiros a defenderem-se da agressividade dos mandacarus e dos insultos do cansanção.

Eram homens, mulheres e até crianças, na sua grande maioria negros ou mulatos,vestidos maltrapilhamente com arremedos mil, porém a caráter: chapéu de palha na cabeça, enxada na mão e facão amarrado na cintura. Não conversavam; apenas o berro de algumas mães que imploravam às crianças sonolentas que adiantassem o passo. Não se podia perder tempo. E, assim, enfileirados assimetricamente, desafiavam a escuridão em direção ao campo.

Diante da imensidão, o sisal verdejante; olhavam para o céu como se pedissem força a Deus e perdiam-se entre os espinhos cortando ferozmente cada palma de sisal que encontravam pela frente. Tudo aquilo parecia uma luta – e era uma luta. O sisal teria que ser vencido, num processo constante de cortá-lo, residá-lo, colhê-lo, amarrá-lo e pesá-lo. Estas eram - e ainda são - etapas repetidas num ritual diário numa guerra constante pelas obrevivência.

Sob os olhos atentos e com ar superior do capataz, aqueles trabalhadores rurais cumpriam os mesmos afazeres todos os dias, até o fim do dia. Esperavam o final de semana para receberem uma quantidade em dinheiro em troca daquelas fibras embranquecidas, quantia que mal dava para uma alimentação satisfatória. Estas fibras seguiam de caminhão para as várias batedeiras na cidade, onde outros trabalhadores, em condições não muito melhores, modelavam-nas para continuarem seu destino em outros Estados brasileiros e também para o exterior. 

Na cidade, os ares do progresso já marcavam o comportamento dos habitantes. Novos “senhores” enriquecidos com a exploração do trabalho no comércio das amarilidáceas conviviam e, ao mesmo tempo, mantinham distância dos trabalhadores quase sempre negros emulatos, pobres e analfabetos, sobreviventes de uma quase vida. 

Neste cenário, os “senhores” orgulhosos e satisfeitos alegam: “Aqui nunca houve escravidão!”, “Coité é a cidade do bem servir!”, “Cidade promissora e da modernização!”. A população não fala sobre a escravidão negra que existiu no século XIX; a historiografia fala pouco a respeito da escravidão no sertão da Bahia. E assim se construiu a memória e a imagem de Conceição do Coité: sob silêncios.

Ontem, a freguesia, os senhores de terra e de escravos, a policultura. Hoje, a cidade, o empregado, o sisal e o roçado. Assim, Conceição do Coité que no passado fora palco de “negociações e conflitos” envolvendo a mão-de-obra escrava, segue seu “ideal” de modernização sem alterar as relações de dominação que continuam presentes nas produções sisaleiras no limiar do século XXI. Exclusão social, baixo nível de vida, analfabetismo, preconceitos – são elementos que caracterizavam a sociedade brasileira dos finais do século XIX e continuam existindo em Conceição do Coité, onde os trabalhadores do campo, empregados dos donos das plantações de sisal encontram-se à margem da sociedade coiteense.

Esta proposta de trabalho, porém não visa discutir especificamente problemáticas que envolvam o silêncio sobre as especificidades das relações escravistas presentes na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité. Problematizo outro silêncio, não menos presente, não menos importante: o “não falar” da existência de escravos nesta região dos Tocós durante o século XIX, principalmente a partir de publicações que se deram no início do século XX , construindo e reproduzindo a história da cidade de Conceição do Coité sem a presença de conflitos sociais.

Este trabalho surgiu, principalmente, de inquietações relacionadas com o presenteda cidade sertaneja de Conceição de Coité, no interior da Bahia. O “não falar” sobre o cativeiro existente, seja do negro do século passado, seja das dominações e exclusões do sisal nas fronteiras do século XXI, serve enquanto suporte para a compreensão de inúmeras relações que construíram e ainda hoje mantêm a sociedade coiteense, sendo necessário o conhecimento do processo de consolidação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité.

O objetivo deste trabalho é discutir a constituição de um grupo dominante na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, no sertão baiano dos Tocós, sendo que seus componentes exerciam atividades enquanto eleitores, tabeliães, negociantes, senhores deterras e de escravos, além serem detentores de patentes, compondo, assim, uma elite dominante politicamente na Freguesia.

O estudo do poder e da política enquanto objetos de análise da história permite quese compreenda a formação e a consolidação de grupos que atuaram e, em alguns casos, ainda atuam nas diversas esferas da sociedade, e em diferentes momentos.

Esta relação de análise entre o passado e o presente foi abordado por Marc Bloch como “o oficio do historiador”, afirmando que “embora o momento atual, no sentido estritodo termo, não seja senão uma perpétua evanescência, a fronteira entre o presente e o passado não se desloca por isso num movimento menos constante”.

No Brasil do século XIX, especificamente em 1822, ocorre o rompimento político com a metrópole portuguesa sob a autoridade do herdeiro do trono português, D. Pedro, e a conseqüente adoção do regime monárquico de governo que traria a elite brasileira uma certa “estabilidade”, devido a não alteração do regime de trabalho escravo.

Em 1831, na sessão de 09 de maio, ocorreu a fundação da Guarda Nacional com o aval do Ministro da Justiça, o Padre Diogo Antônio Feijó, estabelecendo um, entre outros, mecanismo legal de poder para a elite brasileira. Esta instituição tornou-se a principal força auxiliar durante a Menoridade e inícios do Segundo Reinado, e, também, o elemento básicona manutenção da integridade nacional, sendo extintos os antigos corpos auxiliares das Milícias e Ordenanças e das Guardas Municipais, passando ela a efetuar, em seu lugar, o serviço da manutenção da ordem interna.

Além desta alteração no setor militar em 1831, todo período da segunda metade doséculo XIX foi um momento de grandes transformações. Na Europa, a Inglaterra, a Alemanha e a França despontam enquanto potências industriais. O desenvolvimento científico possibilitou novas invenções e descobertas que influenciaram novos modos de vida eapontaram novas perspectivas para a humanidade. 

No Brasil se assinala um longo processo de transformações que se deram em diversas esferas sociais. Nas relações de trabalho ocorreu a proibição do tráfico negreiro causando a emancipação gradual dos escravos e o aumento considerável de trabalhadores livres, também com a expansão da lavoura cafeeira, novas oportunidades de investimentos, urbanização - como em São Paulo e Rio de Janeiro – alterações de hábitos cotidianos atravésda implantação de transporte, iluminação a gás, serviços de água, esgoto e telefonia, semesquecer a expansão do setores do comércio, profissões liberais, funcionalismo público, a Guerra do Paraguai ficando evidente a fragilidades do país, os movimentos abolicionistas e também o republicano que culminam com o fim do regime monárquico em 1889.

A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, fundada em 1855, não se encontrava imune a este processo e foi estudada a partir de fontes variadas e dispersas. O primeiro passo foi correlacionar alguns trabalhos realizados anteriormente sobre a região dos Tocós com os documentos escritos, no intuito de perceber a elaboração das leituras referentes a Conceição do Coité.

Os livros A Família de Serrinha de Antonio José de Araújo, Contos e Histórias de Conceição do Coité de Marielza Carneiro D`Vilanova, Serrinha: A Colonização Portuguesa numa cidade do sertão da Bahia de Tasso Franco, Terra, Trabalho e Capital: Produção Familiar e Acumulação de Hugo Lovisolo, e Conceição do Coité: A Capital do Sisal, de Vanilson de Oliveira foram de grande valia no sentido de demonstrarem visões diferentes, porém complementares a respeito de Conceição de Coité.

As fontes primárias utilizadas foram os Registros Eclesiásticos da Freguesia do Coité dos anos 1855-1858 e o Livro de Tombo da Freguesia de Nossa Senhora da Conceiçãodo Coité de 1855 que se encontram no Arquivo Público do Estado da Bahia em Salvador, os Livros de Indicador Pessoal de Hipotecas correspondentes aos anos de 1865, 1866 e 1871, no Arquivo do Fórum Municipal Desembargador Felinto Bastos em Feira de Santana, os Livrosde Escrituras de 1856 à 1859 e de 1863 à 1868, no Arquivo Municipal de Feira de Santana, os Livros de Escrituras de 1869 à 1875 e de 1876 à 1883, e Inventários correspondentes aos anos de 1872 e 1894 no Arquivo do Fórum Municipal Durval da Silva Pinto em Conceiçãode Coité. Ainda em Feira de Santana no Arquivo da Secretaria do Bispado, foram consultados os Registros de Casamento da Freguesia entre 1855 e 1881 e os Registros de Óbitos de 1855 e 1881.

Mesmo com todo este conjunto de documentos muitas lacunas ficaram expostas neste trabalho, principalmente no que corresponde aos anos finais da abolição da escravidão, seja porque alguns documentos não foram encontrados, a exemplo do livro de escrituras de 1883 a 1888 ou ainda devido a variação de termos empregados ou a ausência de informaçõesnos documentos, dificultando a identificação do indivíduo no que se refere a sua atuação esituação social.

Considero que os maiores questionamentos envolvem a atuação da Igreja Católica neste período e também as relações escravistas. Sobre a Igreja, quase nada foi encontrado devido – como me foi relatado pelos paroquianos – a uma suposta enchente que destruiu os documentos que estavam sendo trazidos de Água Fria para a Freguesia do Coité no século XIX, e ainda por ocorrência de um incêndio na Igreja Matriz em 22 de fevereiro de 1872, porém nenhuma informação foi obtida sobre este respeito. 

No que se refere às relações escravistas, a documentação aponta especificidades desconsideradas pela historiografia da escravidão, como a porcentagem de alforrias compradas pelos escravos e principalmente no que se refere aos casamentos envolvendo escravos e livres, como também a constituição de famílias nestas condições.

O primeiro capítulo “Conceição do Coité e o Sertão dos Tocós: mito, imagens ememória” objetiva mapear/definir a região do Sertão dos Tocós e da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité tanto a partir de documentos oficiais como principalmente, através da produção literária, no intuito de identificar a construção de valores ecomportamentos presentes no mito de fundação da cidade e na reprodução desses valoresatravés da memória.

O segundo capítulo “Política e Poder na Freguesia do Coité” pretende discutir asatividades desempenhadas pela elite política local, envolvendo suas atuações no campoeleitoral, enquanto senhores e negociantes de terras e de escravos, detentores de patentes na Guarda Nacional, exercendo cargos administrativos de tabeliães e professores e, ainda,atuando como representantes do poder eclesiástico.

O terceiro capítulo “Família e Casamento” aborda as relações pessoais, principalmente as de casamento, pondo em evidência que a consolidação destes laços restringiam os espaços de contestação dos poderes, entre eles a questão de divisão territorial, e também legitimavam a dominação social.

Ao final deste estudo sobre poder e política na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, acredito que este trabalho não se resuma a explicar e estruturar respostas prontas, mas impulsione e desenvolva outras questões no desejo de elaborar e re-elaborar outros caminhos na compreensão da sociedade coiteense, baiana e, sobretudo, sertaneja.

CAPÍTULO I

Conceição do Coité e os Sertões dos Tocós: Mito, Imagens e Memória.

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A delimitação da região do Sertão dos Tocós é um tanto complexa. Muitas informações são destoantes e confusas, contando ainda com a variação de elementos caracterizadores com o passar do tempo.

A primeira caracterização da região encontra-se nas revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, com a declaração de terras de Guedes de Brito em 1676, que mencionaas terras dos Tocós, enquanto parte dos territórios que estavam sob seu domínio, situando-as “entre os rios Jacuípe e Itapicuru, por eles acima, por serem os ditos Tocós muito faltos de águas, haverem muitos matos, caatingas infrutíferas (...)”.

Antonio José de Araújo em 1926 desenvolve o trabalho “A família de Serrinha” e descreve a região em dois momentos: o primeiro com informações do século XVIII, o sertão dos Tocós também era conhecido como Pindá, e envolvia as fazendas Sacco do Moura, Serrinha, Tambuatá, Massaranduba, Pindá e Cuyaté

Eis o que era o sertão dos Tocós em 1723. Uma porção de sitios de lavourae criação, a pequena distancia uns dos outros (...) que separados por  pequenas distancia entre si, se ligavam pela comunidade de interesses dos seus habitantes.

No segundo momento, com as informações correspondendo ao século XX, a região foi descrita com a abrangência dos municípios de Tucano, Aracy (Raso), Queimadas, Conceição do Coité, Serrinha e Riachão do Jacuípe. 

Nesta região, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, que teve seu nome inspirado na devoção a Nossa Senhora da Conceição e na cuitizeira que ficava próxima ao tanque de Cuyaté, servia enquanto principal ponto de descanso para viajantes e pasto para o gado que seguiam em direção as minas de Jacobina onde a atividade mineradora era desenvolvida desde o século XVII, como relatou o Mestre de Campos Joaquim Quaresma Delgado, nos roteiros das velhas estradas de gado do sertão escritos em 1731. Esta estrada, descrita por Francisco Viana, cortava o Sertão dos Tocós “adiante de Cuyaté, tomava ás direitas para Tiuba, ou Itiuba, como se diz hoje, e Joazeiro, no rio S. Francisco, e ás esquerdas para Jacobina” e foi aberta por Garcia D’Ávila entre 1654 e 1698 e, posteriormente, melhoradas pelo Coronel Pedro Barbosa Leal com a fundação da vila deSanto Antonio de Jacobina em 1720.

Ainda no século XVIII, um marco importante foi a construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Coité iniciada em 1756 nas terras ofertadas por João Benevides à Santa de sua devoção: Nossa Senhora da Conceição, que é a padroeira da cidade. A Capelade Nossa Senhora da Conceição do Coité era filial da Freguesia de São João Batista da Água Fria, e o primeiro sepultamento, o de Ritta Barros, ocorreu em 06 de novembro de 1763. Desde este período, realizava-se às sextas-feiras, uma pequena feira ao redor da capela havendo trocas de mantimentos e produtos de fazendas da região, tendo ocorrido, posteriormente, a fixação da feira livre neste dia que perdura até hoje.

Devido a facilidade do acesso, a Fazenda do Coité permitia o comércio de produtos oriundos de outras localidades, sendo ainda ponto de aquisição de gado para as fazendas daregião e para a Capital, como consta no Livro de Registro de Entrada de Gado nos currais de Salvador entre os anos de 1784 a 1789, encontrando-se o registro da descida de reses do sertão de Tocóz (ou Tocós) ao lado de outras regiões do norte para a capital da Bahia.

As terras da Fazenda Coité, uma das que existiam na Freguesia, pertenceram a Francisca Joana Josefa da Câmara, viúva de D. Manoel de Saldanha, e foram dividas entreJoaquim de Souza Benevides e Manoel Antonio dos Santos, que compraram-nas aos herdeiros dos Guedes de Brito, sendo posteriormente unificada quando Joaquim de Souza Benevides comprou a parte de Manoel Antonio dos Santos. Após a morte de Joaquim Benevides, João Benevides, seu filho, vendeu-a, em 1808, a Manoel Manso da Cunha.

Em 1819, os naturalistas Spix e Martius passaram pela “estrada das boiadas” até Juazeiro e flagraram no Arraial do Coité, no sertão baiano dos Tocós, conflitos na saga decombate à seca na região, registrando no livro “Viagem pelo Brasil”, práticas que demonstram a atuação do poderes locais e comportamentos da época. Eis o que viram:

Na fazenda Patos, onde pernoitamos, acharam os animais uma pequena poça de água verde para qual se precipitaram com avidez. Animaram-se, assegurando que estava vencida a maior dificuldade, pois no pequeno Arraial de Coité a seis léguas de Patos, uma abundante fonte jorrava do rochedo. Na tarde de 4 de março chegamos a esse lugar da promissão; qual não foi, porém, nossa angústia, quando vimos de perto! Uma fenda da rocha de granito fora tornada acessível por um fosso, e ali estava uma pessoa comum a cuia apanhando a água, que gotejava. Mais de 30 indivíduos, mulherese moças, estavam reunidos em redor dessa fonte do deserto, para descerem segundo a ordem do juiz local, ali presente; os homens traziam fuzis, para,em caso de necessidade, fazerem valer os direitos dos seus. Com a água que bastasse aos animais exaustos, não se podia contar; e mesmo para os homens, quando eu pedi uns sorvos, obitive a arrogante resposta: - “A água aqui é só para nós, e não para ingleses vagabundos”. Um soldado reformado forneceu-nos, comprada, certa porção de água, e aconselhou-nos a seguir viagem nessa mesma noite, em parte por não nos poder nos garantir segurança aqui, em parte porque, a noroeste de Coité e talvez perto da estrada, pouco antes tinha havido trovoada. Resolvemos seguir este conselho, porque diversas mulas já se recusavam ao serviço e, além disso, dois dos nossos companheiros estavam atacados de violentos acessos de febre, pareceu-nos que maior demora nos ameaçaria de desgraça geral.

Percebe-se, neste registro, algumas tensões existentes que podem ser destacadas emtrês pontos:

- A presença do juiz local servindo enquanto instrumento de intimidação e coerção,fazendo “valer o direito dos seus”, ou seja, daqueles que pertenciam ao seu grupo ou lhe seram subordinados socialmente.

- A reação diante dos estrangeiros como se fossem ingleses, demonstrando a insatisfação com a ação das medidas inglesas no Brasil e, ainda, que o sertão não se encontrava isolado, nem sem conhecer as relações diplomáticas daquele momento.

- O soldado que ‘vende’ água para os viajantes desconsiderando os direitos assegurados pelo juiz local, e aproveitando da sua situação de poder institucionalizado.

Em 1855, a fazenda Coité foi elevada à categoria de freguesia pela Resolução Provincial de Nº 539, deixando de estar vinculada ao domínio de Água Fria e passando a pertencer a Vila de Feira de Sant’Ana, porém se manteve filiada à freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jacuípe. Esta condição perdurou até 1878, quando a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jacuípe foi elevada à categoria de Vila, com a anexação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coité.

A fundação Freguesia do Coité registrada na Resolução nº 539, de 09 de Maio de1855, apresenta a primeira delimitação de todo território da Freguesia. O Art. 2º descreve oseguinte:

A nova Freguesia se limitará da maneira seguinte:Pelo sul, começará a limitar coma Freguesia de Riachão de Jacuípe pelo rio Tocos, seguindo por este abaixo à Fazenda Poços e desta ao rio Jacuípe, passando pelas Fazendas Poço de Cima, Getiranas, Almas e Lage de Dentro. Pelo norte e noroeste, se extremará coma Freguesia de Queimadas pelo rio Jacuípe, seguindo por este acima até Cachoeirinha, à margem domesmo rio; d’ahi em linha recta até à Fazenda Baixa da Madeira na estradado Piauhi; desta a Fazenda Morro do Lopes e Serra Branca; e desta a Fazenda Trindade e desta pela estrada direita à Fazenda Pedra Alta. Peloleste, se limitará com Tucano pela Fazenda Capim, até o rio Poço Grande e por este acima até a Fazenda do mesmo nome. Pelo sueste, extremará com aFreguesia da Serrinha pela Fazenda Serra Vermelha e Salgada na estrada daSerrinha e d’ahi a se encontrar com o Riacho Pau-a-Pique e por este até o ponto divisório do rio Tocos.

A freguesia correspondia a uma das formas de organização Provincial do Império Brasileiro. Na capital da Bahia, esta unidade administrativa permitiu a formação de bairros da cidade, sendo definida a partir da referência eclesiástica, e servindo como centro das atividades religiosas sob o comando do pároco. Porém, no interior, o processo de institucionalização das freguesias permitiu a constituição de funções políticas, tendo o Juiz de Paz e o eleitorado como representantes da administração e do poder local. Posteriormente, as antigas freguesias interioranas permitiram a formação de inúmeras cidades na Bahia.

Em 1890, o Ato Estadual de 18 de Dezembro desmembra a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité de Feira de Santana, ficando vinculado eclesiasticamente àvila de Nossa Senhora do Riachão do Jacuípe. Porém, em 1931 foi promulgada a Lei de Organização Municipal por Artur Neiva, que suprime os pequenos municípios com menos de 20 mil habitantes e com arrecadação insuficiente, voltando Conceição do Coité a integrar-seao município de Riachão do Jacuípe. E, ainda, em 23 de Junho de 1931, o decreto nº 7455, acabou com a terminologia Conceição do Coité, passando a se chamar Jacuípe.

O restabelecimento do município aconteceu em 1933, quando o governador da Bahia Juracy Magalhães restaurou em definitivo o município de Conceição do Coité pelo Decretonº 8.528 de 07 de Julho 1933, sendo elevada à cidade pelo Decreto-Lei nº 10.724 de 30 deMaio de 1938.

A cidade de Conceição do Coité encontra-se cerca de 240 Km de Salvador, localizadana Zona Fisiográfica do Nordeste. O município está incluído no Polígono das Secas, numaárea de 1.789 Km² com mais de 55 mil habitantes nas áreas urbana e rural. Sua economia é basicamente comercial, contando com grande quantidade de propriedades agrícolas destinadas à produção de alimentos como o feijão, milho, mandioca, porém a maior parte dazona rural é utilizada na plantação e extração do sisal.

A antiga freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité permitiu a formação do município de Conceição do Coité e, posteriormente, o desmembramento de mais trêsmunicípios: Valente, pela Lei 1.016, de 12 de Agosto de 1958, Retirolândia pela Lei 1.752, de 27 de Julho de 1962 e, recentemente, São Domingos pela Lei 5.005, de 13 de Junho de1989, foi emancipado de Valente.

É importante evidenciar as especificidades da região, sem perder de vista sua articulação com as questões mais abrangentes que estavam em voga no Império Brasileiro. O local não pode ser apresentado enquanto a negação da existência de estruturas nas análises históricas, mas encontra-se num diálogo complementar entre o “micro” e o “macro”,convivendo e constituindo-se numa totalidade. As transformações ocorridas na Freguesia do Coité estavam inseridas em modificações vivenciadas no Império brasileiro, e também nas próprias condições da região.

A análise histórica enfocando o regional permite a visualização de relações eabordagens que emergem de questões mais específicas e direcionadas para as práticas cotidianas dos sujeitos históricos. Joana Neves argumenta que o geral e o local se articulamna construção da visão de história, sendo que

cada local é sempre o recorte de uma realidade mais ampla” e que “o local,fora de um contexto geral, é apenas um fragmento e o geral, sem o respaldodas realidades locais, é apenas uma abstração; e, neste caso, ambos estarão destituídos de sentido.

Erivaldo Neves demonstra esta inteiração entre o geral e o local afirmando que

a história do Brasil não deve ser ‘o somatório das histórias regionais’, entretanto, os estudos históricos locais e regionais ‘indicam as variáveis’mais ‘relevantes para a compreensão’ do processo de formação e desenvolvimento do Estado Nacional, enquanto ‘sistema global de relações.

A grande importância da História Regional é a idéia de que um espaço isolado não apreende a historicidade das contradições, mas é possível que uma análise do nacional seja viável quando se estabelecem relações entre as semelhanças que afloram no geral e o conjunto de multiplicidades e especificidades. Esta idéia de ligação entre as partes e o todo, nega a existência de fatos que se explicam por si próprios e estabelece que “cada elemento só pode ser compreendido no conjunto de suas relações com os outros, isto é, em relação ao todo, pela ação que opera sobre esse todo e a influência que esse exerce nele”.

Ronaldo Vainfas num diálogo entre abordagens da história sugere que mesmo originados de paradigmas distintos a História-síntese, que trata de questões mais abrangentes (paradigma iluminista), e a micro-história que se centraliza no ímpar, no particular (paradigma pós-moderno) podem se combinar e chega a sugerir que “talvez o ideal sejamesmo tentar buscar no recorte micro os sinais e relações da totalidade social, rastreando-se, por outro lado, numa pesquisa de viés sintético, os indícios das particularidades”. 

Neste sentido, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité foi vista enquanto uma sociedade em construção com modelo próprio e relações específicas que caracterizam suas particularidades, porém articuladas com o processo de formação do Estadonacional brasileiro.

Ao analisar o papel desempenhado pelas práticas e políticas de organização do território e a atuação dos poderes institucionalizados e privados na Freguesia do Coité, acompanham-se as transformações da propriedade agrária e de utilização da mão-de-obra, evidenciando a articulação entre o sertão baiano coiteense e as variações conjunturais, considerando, ainda, que esta realidade está inserida num processo dinâmico, conflituoso ecom transformações constantes, abordando discussões acerca do poder local, status e gruposde prestígio.

“Conceição do Coité nasce aberta para o mundo”. É assim que o Monsenhor Renato de Andrade Galvão caracteriza o processo histórico de formação e consolidação domunicípio de Coité. Para o Monsenhor Renato Galvão, esta cidade “plantada na vastidão dotabuleiro” pôde se projetar no comércio internacional do sisal graças às suas bases mercantisdesenvolvidas desde o início da ocupação do território, até a sua constituição enquanto a “Capital do Sisal”.

1.1 O Mito de Fundação

Ao estudar as raízes teleológicas do populismo, Marilena Chauí caracteriza a existência de mitos de fundação como uma solução no plano imaginário para resolver conflitos e tensões sociais. Segundo a autora, considera-se mito fundador 

porque , à maneira de toda fundatio, impõe um vínculo interno com o passado como origem (...). Um mito fundador é aquele que não cessa deencontrar novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valoorese idéias, de tal modo que, quando mais parece ser outra coisa, tanto mais é arepetição de si mesmo.

A respeito da origem dos Sertões dos Tocós foram encontrados poucos registros, eesse pouco é formado por informações soltas e desconexas que deixam muitos questionamentos e incertezas. As obras sobre a região reproduzem modelos e explicações derelatos dos conflitos e dominações entre colonizadores e indígenas, numa perspectiva quedurante muito tempo foi utilizada para demonstrar a inferioridade indígena na conformação dessa sociedade. 

No livro “Conceição do Coité: a Capital do Sisal”, o escritor Vanilson de Oliveira, trata o povoamento do sertão como se os colonizadores “bravios” estivessem desafiados os índios “primitivos” e, posteriormente livrado-se deles, que contribuíram apenas com designações geográficas na região e estabelecendo uma sociedade harmônica e sem conflitos. Segundo o autor,

as Entradas e Bandeiras deram-nos valiosas contribuições através de seus bandeirantes os quais, muitos destemidos, partiram do litoral ou dorecôncavo e por aqui transpuseram as nossas terras, enfrentando os perigosos índios que deixaram as marcas das suas presenças nos topônimosda região sertaneja.

Ainda sobre esta idéia, o autor cita algumas passagens de um documento que seria adeclaração de Guedes de Brito assegurando suas terras nas Fazendas Tocós e apresentando os índios que supostamente habitavam a região, os Cariocas, os Sapoias e os Carapaus. Além do livro não conter mais nenhuma informação sobre tais índios, o autor não apresenta a origem de suas afirmações.

Em outro trabalho, este tratando da colonização portuguesa no sertão baiano, Tasso Franco também aborda a dominação sobre os índios, que não são os mesmos que aparecemnas descrições de Vanilson de Oliveira, e ainda relata a experiência de Carlos Ott para “confirmar” a existências desses índios na região.

Segundo Tasso Franco,

não existem referencias históricas sobre os primitivos habitantes de Serrinha. Pesquisas do Prof. Carlos Ott, em Lage dos Caboclos, antiga aldeia de indios perto de Serrinha, em 1943, verificou um vocábulo da língua cariri num dos homens de mais de 70 anos que se lembrava da palavra bauze ou badze, significando fumo. Em entrevista que realizei como Prof. Em sua residência dos Bandeirantes, em Salvador, 1996, disse queem Lage dos Caboclos havia um índio negro e velho, certamente fugidio do recôncavo, e moradores que adotavam praticas da cultura indígena. Os primeiros habitantes foram os cariris com aldeias nos Sertões dos Tocos ou Pindá nas proximidades dos rio Tocos (índios tocos), em Beritingas (índio berintiga), em Lage dos Caboclos, nos Tapuios (hoje Tapuio, município de Araci) e no Saco dos Tapuyos (na direção de Candeal).

O autor além de informar os índios da região, amplia suas idéias descrevendo-os e caracterizando-os:

Os tocó e berintiga pertenceram a camada mais primitiva dos indígenas brasileiros. Não existem vestígios dessas tribos no município, salvo em Lage dos Caboclos onde houve forte miscigenação com os negros, predominando hoje esta raça. Cultivavam milho, feijão e mandioca viviamem malocas e casas de taipa, umas próximas das outras, e, ao contrario das tribos que habitavam o São Francisco, mais numerosas e organizadas, eram praticamente indefesos aos ataques dos colonizadores. Os índios acreditavam num ente superior e tinham seus pajés – sacerdotes. O índio eralivre e dono dos seus atos e buscava os alimentos na colheita, na caça e na pesca.

Outros registros referentes a tais índios habitando nesta região não foram encontrados, nem sobre outros que poderiam ter existido. No geral, esta descrição está inserida na visão dualista criada pelos românticos brasileiros no final do século XIX que buscavam construir um mito originário para o Brasil, e que segmentava os índios apenas em duas categorias, os Tupis (bons, mansos, civilizáveis e amigos) e os Tapuias (maus, ferozes, inferiores e inimigos).

Tasso Franco aprofunda a perspectiva da inferioridade demonstrando a inabilidade indígena para a guerra, facilitando a ocupação e o extermínio.

Os sesmeiros preferiam matar os índios e ocupar suas terras e praticamente não encontravam resistência nessa tarefa, pois as organizações indígenas eram nômades ou quase nômades, e dotadas de precária organização militar que se limitavam a caça e a pesca.

Os índios, considerados inferiores, foram deixados de lado emprestando apenas o nome para caracterizar aquela região: O Sertão dos Tocós.

A imagem do passado glorioso foi estabelecida através da predisposição geográficada região, que a permitia ser ponto de parada para longas viagens no interior da Bahia possibilitando bom atendimento aos que por lá passassem. Conceição do Coité seria um ponto de apoio indispensável para o cumprimento dos diversos objetivos que mobilizavam viajantes, criadores de gado e comerciantes para o interior.

Kátia Mattoso ressalta a importância dos criadores de gado na conquista do interior, e apresenta Tucano, uma das cidades dos sertões dos Tocós, como um dos exemplos para afirmar as suas idéias de dominação indígena e povoamento. Demonstra:

À conquista das regiões litorâneas seguiu-se a ocupação do Agreste por missionários, criadores de gado e lavradores. As concentrações populacionais fizeram-se primeiro em torno de aldeamentos de índios,criados por jesuítas e franciscanos. Tal é a origem das povoações deItapicuru, Jeremoabo, Pombal, Soure e Tucano.

Um outro elemento serviu para compor a imagem de Conceição do Coité: a cuitizeira ou cuité. Uma árvore de pequeno porte, que se tornou o símbolo da cidade por servir como sombreamento e ponto de descanso para as boiadas que passavam, como também por porqueem seus frutos (cabaças ou cuias) se armazenava a água que facilitava o percurso das longas viagens. Segundo Vanilson de Oliveira,

as boiadas eram sempre conduzidas na direção dos rios, onde encontravam água fresca e pastagens abundantes. Nas margens dos rios, os vaqueiros faziam pousos e, quando achavam um local, agradável, erguiam os currais, originando-se, assim, os futuros arraiais. Na falta do rio mais próximo, arranchavam em uma fazenda, onde estivesse arvore com bastante sombra, pastagens e água. A cuitizeira, naquela época, era uma das arvores de maior  porte em nossa vegetação caatingal e tem uma copa muito apreciada. Ela produz um fruto redondo chamado de Coité, de grande utilidade para os sertanejos (...). Por este e outros fatores, o arraial foi crescendo.

Tasso Franco citando Antonil reafirmou a predisposição da região dos Tocós em bem tratar os viajantes e servir de boas pastagens aos animais. Segundo Antonil, “... tomando depois a mesma direção até Serrinha, lugar de excelentes moradores e onde havia excelente rancho e algumas fazendas de criação de gado”. Esta idéia está tão presente na história da cidade, que o Hino a Nossa Senhora da Conceição do Coité tem a seguinte estrofe:

image

É possível perceber as mesmas idéias: local de dinamismo e de bem tratar aos que passavam. O lema é o “serviço” ao outro que faz a cidade avançar em direção ao divino.

Assim, Conceição do Coité surgiu enquanto um local tranqüilo, acolhedor e, ao mesmo tempo, dinâmico e progressista.

Faremos então, uma análise mais apurada de como a história e a memória do município demonstra um passado harmônico e glorioso que foi construído através da literatura regional, que reproduziu os elementos do mito de fundação, possibilitando acristalização de idéias, valores e, principalmente, da imagem da cidade.

... Não foi por acaso que o Monsenhor Galvão define Conceição do Coité “aberta para o mundo...”

1.2 Imagens da região: História, Memória e Literatura

A relação entre História e Literatura tem possibilitado a construção de diálogos entre diversas áreas do conhecimento humano, permitindo a ampliação de estudos, questões e análises referentes à busca de especificidades da sociedade brasileira.

A busca do especifico não exclui suas particularidades, mas faz compreender que a ciência é a fonte dos conhecimentos oficializados. De acordo com Marc Bloch, o conhecimento dos fragmentos estudados sucessivamente, cada um por si, não proporcionará jamais o conhecimento do todo; nem mesmo o dos próprios fragmentos.

Durante algum tempo, a história e a literatura foram vistas não apenas como áreas distintas do conhecimento, mas também de formas diferentes e contraditórias. A história seria objetiva, revelando a verdade através do estudo do passado, com o objetivo de reproduzir odiscurso oficial e de construir o poder do saber. Já a literatura considerada como obra ficcional, subjetiva, teria o discurso múltiplo e variado e atrairia pelo prazer de distrair.

Porém, estamos em um tempo diferente, no qual se busca uma relação mais aberta edireta entre História e Literatura e, de início, foram ampliadas as noções de História e deLiteratura.

A história compreendida simplesmente como “a ciência do passado” é uma idéia que não mais corresponde aos tipos de estudos que estão sendo realizados. Segundo Marc Bloch, a história seria antes de tudo uma investigação. O objeto da história é o homem; “melhor oshomens. Mais do que o singular, favorável a abstração, convém a uma ciência da diversidade, o plural, que é o modo gramatical da relatividade”.

O historiador não ressuscita o passado e, em conseqüência da ampliação do conceitode História, a noção de documento também sofreu alterações. A fonte ou o documento pode ser percebido como um vestígio do passado, mas não sua configuração; não são apenas os documentos escritos e oficiais que devem ser colhidos e analisados, mas toda produção humana, seja escrita ou não, oficial ou não, como a arquitetura, a literatura, a arte, alinguagem escrita, oral ou simbólica.

Servindo enquanto fonte para o historiador, o papel da literatura não se restringe a isso, mas é testemunho do esforço de criação individual, dos condicionamentos sociais, das dimensões culturais, das condições econômicas, dos conflitos éticos e das contradições políticas, que configuram o espaço em que foi gerado e publicado.

A literatura mesmo sem impregnar a importância inerente à objetividade cientificista também é resultante da construção humana e social, e tendo consigo aspectos imanentes desua caracterização. Segundo Luis Filipe Ribeiro a Literatura, enquanto instituição social viva,tem que ser entendida como um processo e uma inter-relação constante entre o autor, seumomento e o leitor. Como um

processo histórico, político e filosófico; semiótico e lingüístico; individual esocial, a um só tempo. Sua realidade transcende o texto para assumir odiscurso, que conta, minimamente, com as dimensões do enunciador, doenunciado e do enunciatário.

Qualquer produção de um indivíduo reflete os valores da sociedade em que ele vive etambém as aspirações e idéias que projetam para o futuro. Linguagens, crenças, visões de mundo e também desejos inscrevem-se nas marcas de seu tempo, permeiam e significam a produção, o autor e momento em que foi produzido. Autor e a obra são processos sociais e, por isso mesmo, históricos, ainda que tenham como significantes indivíduos reais, únicos e irrepetíveis.

A literatura é constituída por algo inexprimível, como abordou Michel Foucault, algoque poderia se chamar de fábula, no sentido rigoroso e originário do termo, não esquecendoque as fábulas, os mitos, as lendas e as narrativas marcam as gêneses da literatura e dahistória respectivamente.

Através da afinidade entre Historia e Literatura é percebível a complementaridade, a troca de elementos e significados, uma delas é a perspectiva de “dar voz” aos inúmeros autores da história e não apenas aos personagens principais, percebendo as relações de sociais e também de poder que foram estabelecidas, demonstrando a efervescência das vozes no cotidiano social, na construção da história e da memória.

O estudo da memória foi um dos elementos que possibilitou a ampliação do conceito de História e, conseqüentemente, originou métodos e abordagens como também diversificou questionamentos. A elaboração de memória enquanto objeto de estudo firma-se numa multiplicidade de símbolos associados às relações sociais vivenciadas numa determinada sociedade. A memória se auto-constrói, mas também pode ser imposta, enquadrada, adepender dos interesses que estão em jogo.

A memória vem sendo abordada tanto como um processo construção e reconstruçãode identidades, também como fragmentos da “resistência” de algo que tentou ser apagado e esquecido, ou não raras vezes como a intersecção das duas formas. “A memória é marcada, portanto, por dimensões de invenção seleção e combinação temáticas no social, que se diferenciam do passivo acúmulo, deixando patentes caracteres de disputa em sua definição” argumenta Marcos Silva, que evidencia uma relação íntima entre a memória e a(re)construção da identidade. Para o autor,

Ligar memória a identidades engloba da conta de multiplicidades (ninguém é somente negro ou mulher; abrigam inúmeras outras identidades, e sofrem transformações através de suas trajetórias), que quase nunca é harmônica, antes expõe tensões e disputas, as quais nem precisam se dar entre seres diferentes.

No trabalho “Memória, Esquecimento, Silêncio” de Michael Pollak, a memória é analisada a partir da sua indissociabilidade com a organização social da vida. O autor evidencia que as memórias são formadas a partir da interação do lembrar e do esquecer, e que geralmente refletem a consolidação de uma memória majoritária.

As fronteiras entre o dizível e o indizível, o confessável e o inconfessável, separa, em nossos exemplos, uma memória coletiva subterrânea da sociedade civil dominada ou de grupos específicos, de uma memória coletiva organizada que resume a imagem que uma sociedade majoritária ou o Estado desejam passar e impor.

A constituição de estereótipos e de uma memória oficial forja a construção de laços e sentimentos de pertencimento a um determinado lugar, a uma origem e a uma história e de valores que devem ser perpassados em detrimento de outra historia e outros valores que devem ser esquecidos e negados.

O trabalho de Janice Theodoro intitulado “Memória e Esquecimento” analisa o descaso dos brasileiros em relação à preservação do patrimônio histórico. Pensar memória é também refletir sobre o esquecimento, argumenta a autora:

se desejamos refletir sobre memória e esquecimento devemos, inicialmente, lembrar que parte pequena do passado ficou registrado em objetos de cultura. Grande parte da memória histórica corresponde a ausências, perdas, ao que foi excluído, ao que deixou de ser registrado, por não fazer parte dos"grandes acontecimentos" responsáveis por mudanças profundas na vida política e econômica.

O não lembrado corresponderia ao lugar daquilo que não se diz, que se faz questão de ser esquecido e excluído da construção de uma memória, o que lhe garante um significado simbólico da dominação e imposição de valores, permitindo ao Estado a construção de umamemória da vitória do Estado Nacional.

Para reconhecer, conhecer de novo o nosso passado como um patrimônio, temos que nos identificar com ele. No caso da sociedade brasileira este processo é extremamente doloroso. Neste sentido, o esquecimento, e não a lembrança torna-se a pedra de toque de nossa memória. A nossa sociedade sempre esteve e, ainda está, alicerçada em fragmentos culturais cuja relação entre eles é de dominação. Olhemos a nossa história.

O trabalho “Memória e Sociedade” de Ecléa Bosi apresenta a importância das lembranças dos velhos na reconstituição de memórias e lembranças de São Paulo no inicio doséculo XX.

De início, a autora oferece leituras acerca dos velhos – e outros agentes sociais considerados “oprimidos” pelos estudos da sociedade, como a mulher e a criança – enquanto agente histórico que também assegura uma função social: “lembrar e aconselhar”, e principalmente “recuperar o tempo”. Argumenta:

O velho, de um lado, busca a confirmação do que se passou som seus coetâneos, em testemunhos escritos ou orais, investiga, pesquisa, confronta esse tesouro de que é guardião. De outro lado, recupera o tempo que correu e aquelas coisas que, quando as perdemos, nos fazem sentir diminuir e morrer.

Para Ecléa Bosi, um dos temas mais estimulantes é a memória enquanto construção social de um grupo:

quando um grupo trabalha intensamente em conjunto, há uma tendência de criar esquemas coerentes de narração e de interpretação dos fatos,verdadeiros ‘universos de discursos’, ‘universos de significados’, que dão ao material de base uma forma histórica própria, uma versão consagradados acontecimentos.

Ecléa não pensa memória apenas como construção, mas também enquantos ilenciamento, enquanto ausência de elaboração grupal em torno de certos acontecimentos ou situações. Neste caso,

(...) seria o de esquecer tudo quanto não fosse ‘atualmente’ significativo para o grupo de convívio da pessoa. É o que sucede às vezes: os fatos que não foram testemunhados ‘perdem-se’,’omitem-se’, porque não costumam ser objeto de conversa e de narração, a não ser excepcionalmente.

Porém o “lembrar” e o “esquecer” não podem ser vistos apenas enquanto instrumentosde registros de memória, vivenciados ou não por um grupo, mas também enquanto elementos que foram construídos historicamente. Um grupo que não vivenciou determinados acontecimentos do passado pode, pelo poder do saber, forjar numa memória elementos quesirvam para a legitimidade de valores do presente.

O processo de construção da memória da cidade de Conceição do Coité se fez pelo silêncio de elementos do passado e pelo não-dito. Não porque não fosse importante nem tivesse significado, mas porque se precisava construir um passado que justificasse a idéia de modernização e desenvolvimento sem informações que contradissessem o mito de fundação.

Confeccionou-se uma memória apenas com grandes homens e grandes eventos políticos, sem índios, sem negros e sem a participação do povo nas decisões e no processo social da cidade seguindo o caminho traçado pela história tradicional e, depois, positivista.

A literatura foi a matéria-prima oficial registrando, elegendo e, também ajustando e submergindo. Foi o ingrediente impar através da qual se organizou o culto a um passado e auma origem e criou um modelo de valores e ações que foram - e ainda são - repetidos ao longo da história.

O livro “A Família Serrinhense”, foi o primeiro trabalho encontrado sobre a região dos Tocós, escrito em 1926 por Antonio José de Araújo, Juiz de Direito de Jacobina. Neste livro, a região aparece como uma radiografia da vida particular das famílias que habitavam os sertões dos Tocós. Os Apollinarios, os Afonsos, os Oliveiras, os Silvas, os Mottas, os Santhiagos, os Carneiros e os Maya seriam o primeiros a habitarem a região, relacionando-se através de laços harmônicos de casamentos e amizades e também de trocas de favores, beneficiando a todos.

Ao longo do livro, o autor buscou comprovar sua herança genealógica de Bernardo da Silva, o primeiro morador do sertão dos Tocós que combateu e expulsou os índios, gerando descendência às famílias descritas e a todos que compõem a elite de Serrinha.

Para cada uma della terei um capitulo especial, ligado que estou pelo lado paterno as famílias de Tambuatá e Genipapo, e pelo lado materno à de Serrinha, ou a todos pelo sangue commum de Bernardo da Silva, o esquecido antepassado, cuja memória faríamos bem em resaçar, erguendo-lhe um monumento no logradouro mais importante do logar, ou tão apenas elle dando-lhe o nome venerando e digno de melhor acatamento por parte dos seus descendentes, que são todos os da élite Serrinhense.

O autor se empenhou apenas em fazer a descrição das genealogias de cada família que correspondia a ‘elite’ da região. Eram todas famílias boas e poderosas, sem conflitos e desentendimentos. E também – contraditoriamente - sem escravos. O segundo trabalho foi publicado muito tempo depois, em 1985. “Contos e Históriasde Conceição do Coité” de Marielza D’Vilanova, trata de um pequeno levantamento de contos antigos do município, com relatos folclóricos, cantigas e alegorias da região, sendo utilizado como paradidático nas aulas de História em escolas do ensino fundamental no município. Mesmo tendo-se tanto tempo após a publicação do único livro sobre a região, este reproduz a mesma imagem harmônica e em nada se refere sobre desentendimentos ou choques de interesses.Além de reforçar os valores os quais moveram e moldaram o trabalho de 1926, a autora complementa que Conceição do Coité seria um lugar protegido por Deus que seguia sua evolução natural no desenvolvimento material e espiritual. Neste trabalho, não fica separado a história da cidade e a história da Igreja Católica – também sem conflitos -, é como se fossem uma. A autora afirma o motivo de não existir desentendimentos: “a Fé une os coiteenses”.

Em 1987 foi publicado o trabalho de Vanilson de Oliveira, “Conceição do Coité: A Capital do Sisal”. Na introdução da 1ª edição do livro, o autor revela a importância do livro:

Eis aqui o primeiro livro histórico-cultural de Coité. É como se fosse uma radiografia de perfil mostrando sua gente, seus costumes, suas tradições e realizações de uma comunidade sertaneja pequena e simples, destemida e forte por enfrentar dificuldades do revés da natureza no sertão semi-árido.

As informações sobre fatos políticos da cidade são apresentadas por Vanilson de Oliveira desde os primeiros habitantes – os índios - até o ano de 1993, época em que o livro foi escrito, privilegiando os acontecimentos “históricos” dos “homens nobres” da localidade. O autor apresenta a todo o momento elementos do passado que comprovem a garra e força do sertanejo “simples e destemido” na construção de uma sociedade progressista e abençoada. Inicialmente, é a labuta com a natureza que caracteriza o coiteense: foram os índios – que também eram considerados parte da natureza selvagem – e depois os combate contra a seca que revelaram a força e o destemor do coiteense diante das dificuldades. O autor privilegia enquanto fatos históricos apenas três acontecimentos: a entrada da Coluna Prestes na cidade em junho de 1926, a fundação das sociedades recreativas locais a partir de 1937 e a convenção regional do sisal realizada na década de 1950. A história é concebida como a descrição de fatos, sem nenhuma conexão com outros acontecimentos do mesmo período. Dividido em nove capítulos, o livro retrata a visão de um coiteense sobre a sua própria história. Nos capítulos não aparece sequer uma vez a palavra escravidão ou algum outro sinônimo, nem alguma idéia que indicasse a existência de escravos em Conceição do Coité. Esses foram apagados ou talvez esquecidos da história da cidade, como se nunca tivessem existido, reafirmando o mito de fundação em que a cidade surgiu sem desigualdades sociais e sem conflitos. O trabalho de Hugo Lovisolo foi publicado em 1989 após ter sido desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Campinas.“Terras, Trabalho e Capital - Produção Familiar e Acumulação”, tem enquanto objetivo analisar e comparar duas unidades de produção familiar – ou seja, unidades em que as relações de parentesco são as mediadoras na vinculação do trabalhador – no processo de desenvolvimento capitalista no Brasil. As unidades estudadas foram no Rio Grande do Sul, precisamente em Cândido Godói, e em Conceição do Coité na Bahia. As distinções foram feitas entre as unidades “que acumulam” (maquinário, bens de produção, terra, gado, etc.) num processo normal de acumulação primitiva e as “aparentemente imunes” à dinâmica da acumulação. Cândido Godói foi caracterizada como aunidade “que acumula”, chegando a classificá-la como “pequeno-burguesa”, enquanto Conceição do Coité foi tida como uma unidade “camponesa” e imune ao processo de desenvolvimento que segue em direção a consolidação do capitalismo. Neste trabalho, um dos destaques foi dado a afirmação de que Conceição do Coitéapresenta a inexistência de “memória coletiva”, ao contrário do que aparece em Cândido Godói, onde os entrevistados reconstroem seu passado identificando-se com ele. O autor argumenta que

Os entrevistados de Coité não retêm, em sua memória coletiva, processo de ocupação ou colonização da região. Existem aqui vagas referências – ainda quando interrogados os moradores mais velhos – a certos parentes distantes, que teriam chegado a região produzindo seu povoamento (...) não achamos rastros de uma historia particular capaz de gerar a identidade social (...) A origem da região explica-se numa história mal fiada – e, ao que parece, suficiente para os atores -, que aponta para a existência de antepassados familiares, supostamente os primeiros a chegar e conseguir terra na região.

Em “A Memória e a Formação dos Homens” Lovisolo critica Furet por usar em determinados momentos de suas análises sobre a Revolução Francesa a idéia de que emalgum momento da história as pessoas fossem como “tábua rasa” e argumenta que “a tábuarasa é sem dúvida radicalmente contra a memória. A este modelo da terra arrasada contrapõe-se, há longo tempo, a percepção de que é na memória onde devemos achar as forças do presente e do futuro”.

Lovisolo caracteriza como “história mal fiada” a ausência de informações sobre o passado, apresentando várias lacunas existentes sobre a formação histórico-social da região. Segundo este autor, haveria apenas vagas referências sobre o processo de ocupação ecolonização da região, como o relato de Spix e Martius e o decreto administrativo da emancipação do município na década de 1930. A história de Conceição do Coité começaria a partir da introdução do sisal com a identificação de “um antes e um hoje” na região, trazendo mudanças na propriedade agrícola. Argumenta Lovisolo:

(...) a mudança inicia-se quando os produtores de agave começam a cercar as terras para proteger as plantações do gado. (...) A introdução do agave e de sua técnica de exploração tiveram efeitos vários sobre a produção e a reprodução das unidades familiares.

A ausência de informações não está presente apenas nos estudos realizados, mas também na vivência cotidiana das pessoas. Até a bem pouco tempo atrás a sociedadecoiteense alegava veementemente que na “cidade bem bonita, orgulho do sisal” não houvera escravidão negra, nem problemas locais, reproduzindo os valores que balizaram as primeiras obras referentes a região. Esta suposta harmonia teria como fundamento a proteção divina que emana na cidade, e que “une os coiteenses” como afirmou anteriormente Marielza D´Vilanova. O Hino Municipal glorifica:

Como aprisco de Cristo Jesus,sob a guarda da Virgem Maria,és Paróquia que esparge sua Luznestas plagas da heróica Bahia.

Ainda o trabalho de Tasso Franco aborda a influência da colonização portuguesa nos sertões dos Tocós e a consolidação de Serrinha enquanto cidade moderna e desenvolvida.

Este livro é a reafirmação e complementação de dados do livro “A Família de Serrinha” de Antonio José de Araújo, este é o objetivo do levanto de informações e dados:

O livro foi produzido com a finalidade de atualizar a documentação sobre a história de Serrinha. Desde quando Antonio José de Araújo, juiz de direitoda Comarca de Jacobina, escreveu o livro A Família de Serrinha, editado pela Tipografia O Serrinhense, em junho de 1926, era o segundo trabalho sobre o tema. A história escrita por Antonio José descrevia basicamente os ramos familiares, enquanto nosso trabalho continha dados atuais sobre avida da cidade, o esporte, a imprensa, figuras populares etc.

A história de Serrinha foi dividida em três períodos:O primeiro de 1612 a 1891, delimitando a abertura das estradas das boiadas até a elevação da cidade em 1891; o segundo período compreendido entre 1890 e 1969 foi caracterizado como a fase da “modernização”, com a instalação da Radio difusora em 1969 e completada com a instalação da Companhia do Vale do Rio Doce, em Teofilândia (ex-distrito de Serrinha); o terceiro e ultimo período que vai até 1995, continua a descrever os acontecimentos sem alterar a perspectiva de desenvolvimento. Um recorte temporal complexo para trabalhar, pois envolvem dinâmicas variadas que requerem habilidades de estudos e analises de dados impossíveis de serem acoplados. Tais estudos retratam e reafirmam um passado sem conflitos. São trabalhos sem problematizações que apenas descrevem a evolução linear dos Sertões dos Tocós na construção das cidades em direção ao progresso desejoso. Esta imagem de harmonia esconde os conflitos e tensões existentes em todas as sociedades, afinal, as relações sociais são permeadas pelas relações de poder, e onde há lutas pelo poder, há conflitos.

O esquecimento seria a negação deste passado cheio de arranjos internos para a manutenção do poder local que se revelava desigual e, sobretudo, escravista. A memória oficial fez a sua própria clivagem, legitimando a atuação de valores que foram absorvidos como verdade pela população durante muito tempo, mas que deixou seus rastros, no sentido de se fazer uma busca do jogo da memória/esquecimento, do qual emergeo sentido da história.

MAPA I

MAPA II

http://pt.scribd.com/doc/63533123/Dissertacao-Nossa-Senhora-da-Conceicao-do-Coite-%E2%80%93-Poder-e-Politica-no-Seculo-XIX