Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO COITÉ: PODER E POLÍTICA NO SÉCULO XIX – Capítulo 1

 

Autora: Iara Nancy Araújo Rios

 

RESUMO

O objetivo deste trabalho é identificar a composição do grupo dominante na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, no Sertão dos Tocós. Tal grupo que desempenhava atividades variadas na Freguesia, atuando enquanto eleitores, tabeliães, negociantes, senhores de terras ed e escravos, além de serem detentores de patentes. As principais fontes históricas foram as séries dos Registros Eclesiásticos de Terra, realizados na região em 1855, conforme a Lei de Terras de 1850,encontrando-se sob a guarda do Arquivo Público do Estado da Bahia. Os Livros de Notas, existentes no Arquivo Municipal de Feira de Santana e no Fórum Durval Silva Pinto, de Conceição do Coité, com informações sobre a compra e venda de terras permitiam a investigação dos arranjos locais e das relações de poder relacionados com a apropriação territorial que atingiam, sobretudo, pequenos e médios proprietários. A análise detais documentos demonstrou a existência de agentes sociais que extrapolam o clássico binômio senhor/escravo, comumente utilizado em estudos que se concentram na segunda metade do século XIX. Numa sociedade patrimonial e patriarcal, as relações pessoais (principalmenteo casamento e o apadrinhamento) eram elementos primordiais na conformação dos grupos sociais em questão. Os registros eclesiásticosde batismo, óbitos e casamento, parte do acervo do Bispado de Feira deSantana, evidenciam as relações de poder desempenhadas pelo grupo local.

INTRODUÇÃO

Ainda era noite. Apenas alguns raios teimavam em romper a escuridão e já se ouvia passos ligeiros a defenderem-se da agressividade dos mandacarus e dos insultos do cansanção.

Eram homens, mulheres e até crianças, na sua grande maioria negros ou mulatos,vestidos maltrapilhamente com arremedos mil, porém a caráter: chapéu de palha na cabeça, enxada na mão e facão amarrado na cintura. Não conversavam; apenas o berro de algumas mães que imploravam às crianças sonolentas que adiantassem o passo. Não se podia perder tempo. E, assim, enfileirados assimetricamente, desafiavam a escuridão em direção ao campo.

Diante da imensidão, o sisal verdejante; olhavam para o céu como se pedissem força a Deus e perdiam-se entre os espinhos cortando ferozmente cada palma de sisal que encontravam pela frente. Tudo aquilo parecia uma luta – e era uma luta. O sisal teria que ser vencido, num processo constante de cortá-lo, residá-lo, colhê-lo, amarrá-lo e pesá-lo. Estas eram - e ainda são - etapas repetidas num ritual diário numa guerra constante pelas obrevivência.

Sob os olhos atentos e com ar superior do capataz, aqueles trabalhadores rurais cumpriam os mesmos afazeres todos os dias, até o fim do dia. Esperavam o final de semana para receberem uma quantidade em dinheiro em troca daquelas fibras embranquecidas, quantia que mal dava para uma alimentação satisfatória. Estas fibras seguiam de caminhão para as várias batedeiras na cidade, onde outros trabalhadores, em condições não muito melhores, modelavam-nas para continuarem seu destino em outros Estados brasileiros e também para o exterior. 

Na cidade, os ares do progresso já marcavam o comportamento dos habitantes. Novos “senhores” enriquecidos com a exploração do trabalho no comércio das amarilidáceas conviviam e, ao mesmo tempo, mantinham distância dos trabalhadores quase sempre negros emulatos, pobres e analfabetos, sobreviventes de uma quase vida. 

Neste cenário, os “senhores” orgulhosos e satisfeitos alegam: “Aqui nunca houve escravidão!”, “Coité é a cidade do bem servir!”, “Cidade promissora e da modernização!”. A população não fala sobre a escravidão negra que existiu no século XIX; a historiografia fala pouco a respeito da escravidão no sertão da Bahia. E assim se construiu a memória e a imagem de Conceição do Coité: sob silêncios.

Ontem, a freguesia, os senhores de terra e de escravos, a policultura. Hoje, a cidade, o empregado, o sisal e o roçado. Assim, Conceição do Coité que no passado fora palco de “negociações e conflitos” envolvendo a mão-de-obra escrava, segue seu “ideal” de modernização sem alterar as relações de dominação que continuam presentes nas produções sisaleiras no limiar do século XXI. Exclusão social, baixo nível de vida, analfabetismo, preconceitos – são elementos que caracterizavam a sociedade brasileira dos finais do século XIX e continuam existindo em Conceição do Coité, onde os trabalhadores do campo, empregados dos donos das plantações de sisal encontram-se à margem da sociedade coiteense.

Esta proposta de trabalho, porém não visa discutir especificamente problemáticas que envolvam o silêncio sobre as especificidades das relações escravistas presentes na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité. Problematizo outro silêncio, não menos presente, não menos importante: o “não falar” da existência de escravos nesta região dos Tocós durante o século XIX, principalmente a partir de publicações que se deram no início do século XX , construindo e reproduzindo a história da cidade de Conceição do Coité sem a presença de conflitos sociais.

Este trabalho surgiu, principalmente, de inquietações relacionadas com o presenteda cidade sertaneja de Conceição de Coité, no interior da Bahia. O “não falar” sobre o cativeiro existente, seja do negro do século passado, seja das dominações e exclusões do sisal nas fronteiras do século XXI, serve enquanto suporte para a compreensão de inúmeras relações que construíram e ainda hoje mantêm a sociedade coiteense, sendo necessário o conhecimento do processo de consolidação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité.

O objetivo deste trabalho é discutir a constituição de um grupo dominante na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, no sertão baiano dos Tocós, sendo que seus componentes exerciam atividades enquanto eleitores, tabeliães, negociantes, senhores deterras e de escravos, além serem detentores de patentes, compondo, assim, uma elite dominante politicamente na Freguesia.

O estudo do poder e da política enquanto objetos de análise da história permite quese compreenda a formação e a consolidação de grupos que atuaram e, em alguns casos, ainda atuam nas diversas esferas da sociedade, e em diferentes momentos.

Esta relação de análise entre o passado e o presente foi abordado por Marc Bloch como “o oficio do historiador”, afirmando que “embora o momento atual, no sentido estritodo termo, não seja senão uma perpétua evanescência, a fronteira entre o presente e o passado não se desloca por isso num movimento menos constante”.

No Brasil do século XIX, especificamente em 1822, ocorre o rompimento político com a metrópole portuguesa sob a autoridade do herdeiro do trono português, D. Pedro, e a conseqüente adoção do regime monárquico de governo que traria a elite brasileira uma certa “estabilidade”, devido a não alteração do regime de trabalho escravo.

Em 1831, na sessão de 09 de maio, ocorreu a fundação da Guarda Nacional com o aval do Ministro da Justiça, o Padre Diogo Antônio Feijó, estabelecendo um, entre outros, mecanismo legal de poder para a elite brasileira. Esta instituição tornou-se a principal força auxiliar durante a Menoridade e inícios do Segundo Reinado, e, também, o elemento básicona manutenção da integridade nacional, sendo extintos os antigos corpos auxiliares das Milícias e Ordenanças e das Guardas Municipais, passando ela a efetuar, em seu lugar, o serviço da manutenção da ordem interna.

Além desta alteração no setor militar em 1831, todo período da segunda metade doséculo XIX foi um momento de grandes transformações. Na Europa, a Inglaterra, a Alemanha e a França despontam enquanto potências industriais. O desenvolvimento científico possibilitou novas invenções e descobertas que influenciaram novos modos de vida eapontaram novas perspectivas para a humanidade. 

No Brasil se assinala um longo processo de transformações que se deram em diversas esferas sociais. Nas relações de trabalho ocorreu a proibição do tráfico negreiro causando a emancipação gradual dos escravos e o aumento considerável de trabalhadores livres, também com a expansão da lavoura cafeeira, novas oportunidades de investimentos, urbanização - como em São Paulo e Rio de Janeiro – alterações de hábitos cotidianos atravésda implantação de transporte, iluminação a gás, serviços de água, esgoto e telefonia, semesquecer a expansão do setores do comércio, profissões liberais, funcionalismo público, a Guerra do Paraguai ficando evidente a fragilidades do país, os movimentos abolicionistas e também o republicano que culminam com o fim do regime monárquico em 1889.

A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, fundada em 1855, não se encontrava imune a este processo e foi estudada a partir de fontes variadas e dispersas. O primeiro passo foi correlacionar alguns trabalhos realizados anteriormente sobre a região dos Tocós com os documentos escritos, no intuito de perceber a elaboração das leituras referentes a Conceição do Coité.

Os livros A Família de Serrinha de Antonio José de Araújo, Contos e Histórias de Conceição do Coité de Marielza Carneiro D`Vilanova, Serrinha: A Colonização Portuguesa numa cidade do sertão da Bahia de Tasso Franco, Terra, Trabalho e Capital: Produção Familiar e Acumulação de Hugo Lovisolo, e Conceição do Coité: A Capital do Sisal, de Vanilson de Oliveira foram de grande valia no sentido de demonstrarem visões diferentes, porém complementares a respeito de Conceição de Coité.

As fontes primárias utilizadas foram os Registros Eclesiásticos da Freguesia do Coité dos anos 1855-1858 e o Livro de Tombo da Freguesia de Nossa Senhora da Conceiçãodo Coité de 1855 que se encontram no Arquivo Público do Estado da Bahia em Salvador, os Livros de Indicador Pessoal de Hipotecas correspondentes aos anos de 1865, 1866 e 1871, no Arquivo do Fórum Municipal Desembargador Felinto Bastos em Feira de Santana, os Livrosde Escrituras de 1856 à 1859 e de 1863 à 1868, no Arquivo Municipal de Feira de Santana, os Livros de Escrituras de 1869 à 1875 e de 1876 à 1883, e Inventários correspondentes aos anos de 1872 e 1894 no Arquivo do Fórum Municipal Durval da Silva Pinto em Conceiçãode Coité. Ainda em Feira de Santana no Arquivo da Secretaria do Bispado, foram consultados os Registros de Casamento da Freguesia entre 1855 e 1881 e os Registros de Óbitos de 1855 e 1881.

Mesmo com todo este conjunto de documentos muitas lacunas ficaram expostas neste trabalho, principalmente no que corresponde aos anos finais da abolição da escravidão, seja porque alguns documentos não foram encontrados, a exemplo do livro de escrituras de 1883 a 1888 ou ainda devido a variação de termos empregados ou a ausência de informaçõesnos documentos, dificultando a identificação do indivíduo no que se refere a sua atuação esituação social.

Considero que os maiores questionamentos envolvem a atuação da Igreja Católica neste período e também as relações escravistas. Sobre a Igreja, quase nada foi encontrado devido – como me foi relatado pelos paroquianos – a uma suposta enchente que destruiu os documentos que estavam sendo trazidos de Água Fria para a Freguesia do Coité no século XIX, e ainda por ocorrência de um incêndio na Igreja Matriz em 22 de fevereiro de 1872, porém nenhuma informação foi obtida sobre este respeito. 

No que se refere às relações escravistas, a documentação aponta especificidades desconsideradas pela historiografia da escravidão, como a porcentagem de alforrias compradas pelos escravos e principalmente no que se refere aos casamentos envolvendo escravos e livres, como também a constituição de famílias nestas condições.

O primeiro capítulo “Conceição do Coité e o Sertão dos Tocós: mito, imagens ememória” objetiva mapear/definir a região do Sertão dos Tocós e da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité tanto a partir de documentos oficiais como principalmente, através da produção literária, no intuito de identificar a construção de valores ecomportamentos presentes no mito de fundação da cidade e na reprodução desses valoresatravés da memória.

O segundo capítulo “Política e Poder na Freguesia do Coité” pretende discutir asatividades desempenhadas pela elite política local, envolvendo suas atuações no campoeleitoral, enquanto senhores e negociantes de terras e de escravos, detentores de patentes na Guarda Nacional, exercendo cargos administrativos de tabeliães e professores e, ainda,atuando como representantes do poder eclesiástico.

O terceiro capítulo “Família e Casamento” aborda as relações pessoais, principalmente as de casamento, pondo em evidência que a consolidação destes laços restringiam os espaços de contestação dos poderes, entre eles a questão de divisão territorial, e também legitimavam a dominação social.

Ao final deste estudo sobre poder e política na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, acredito que este trabalho não se resuma a explicar e estruturar respostas prontas, mas impulsione e desenvolva outras questões no desejo de elaborar e re-elaborar outros caminhos na compreensão da sociedade coiteense, baiana e, sobretudo, sertaneja.

CAPÍTULO I

Conceição do Coité e os Sertões dos Tocós: Mito, Imagens e Memória.

image

A delimitação da região do Sertão dos Tocós é um tanto complexa. Muitas informações são destoantes e confusas, contando ainda com a variação de elementos caracterizadores com o passar do tempo.

A primeira caracterização da região encontra-se nas revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, com a declaração de terras de Guedes de Brito em 1676, que mencionaas terras dos Tocós, enquanto parte dos territórios que estavam sob seu domínio, situando-as “entre os rios Jacuípe e Itapicuru, por eles acima, por serem os ditos Tocós muito faltos de águas, haverem muitos matos, caatingas infrutíferas (...)”.

Antonio José de Araújo em 1926 desenvolve o trabalho “A família de Serrinha” e descreve a região em dois momentos: o primeiro com informações do século XVIII, o sertão dos Tocós também era conhecido como Pindá, e envolvia as fazendas Sacco do Moura, Serrinha, Tambuatá, Massaranduba, Pindá e Cuyaté

Eis o que era o sertão dos Tocós em 1723. Uma porção de sitios de lavourae criação, a pequena distancia uns dos outros (...) que separados por  pequenas distancia entre si, se ligavam pela comunidade de interesses dos seus habitantes.

No segundo momento, com as informações correspondendo ao século XX, a região foi descrita com a abrangência dos municípios de Tucano, Aracy (Raso), Queimadas, Conceição do Coité, Serrinha e Riachão do Jacuípe. 

Nesta região, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, que teve seu nome inspirado na devoção a Nossa Senhora da Conceição e na cuitizeira que ficava próxima ao tanque de Cuyaté, servia enquanto principal ponto de descanso para viajantes e pasto para o gado que seguiam em direção as minas de Jacobina onde a atividade mineradora era desenvolvida desde o século XVII, como relatou o Mestre de Campos Joaquim Quaresma Delgado, nos roteiros das velhas estradas de gado do sertão escritos em 1731. Esta estrada, descrita por Francisco Viana, cortava o Sertão dos Tocós “adiante de Cuyaté, tomava ás direitas para Tiuba, ou Itiuba, como se diz hoje, e Joazeiro, no rio S. Francisco, e ás esquerdas para Jacobina” e foi aberta por Garcia D’Ávila entre 1654 e 1698 e, posteriormente, melhoradas pelo Coronel Pedro Barbosa Leal com a fundação da vila deSanto Antonio de Jacobina em 1720.

Ainda no século XVIII, um marco importante foi a construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Coité iniciada em 1756 nas terras ofertadas por João Benevides à Santa de sua devoção: Nossa Senhora da Conceição, que é a padroeira da cidade. A Capelade Nossa Senhora da Conceição do Coité era filial da Freguesia de São João Batista da Água Fria, e o primeiro sepultamento, o de Ritta Barros, ocorreu em 06 de novembro de 1763. Desde este período, realizava-se às sextas-feiras, uma pequena feira ao redor da capela havendo trocas de mantimentos e produtos de fazendas da região, tendo ocorrido, posteriormente, a fixação da feira livre neste dia que perdura até hoje.

Devido a facilidade do acesso, a Fazenda do Coité permitia o comércio de produtos oriundos de outras localidades, sendo ainda ponto de aquisição de gado para as fazendas daregião e para a Capital, como consta no Livro de Registro de Entrada de Gado nos currais de Salvador entre os anos de 1784 a 1789, encontrando-se o registro da descida de reses do sertão de Tocóz (ou Tocós) ao lado de outras regiões do norte para a capital da Bahia.

As terras da Fazenda Coité, uma das que existiam na Freguesia, pertenceram a Francisca Joana Josefa da Câmara, viúva de D. Manoel de Saldanha, e foram dividas entreJoaquim de Souza Benevides e Manoel Antonio dos Santos, que compraram-nas aos herdeiros dos Guedes de Brito, sendo posteriormente unificada quando Joaquim de Souza Benevides comprou a parte de Manoel Antonio dos Santos. Após a morte de Joaquim Benevides, João Benevides, seu filho, vendeu-a, em 1808, a Manoel Manso da Cunha.

Em 1819, os naturalistas Spix e Martius passaram pela “estrada das boiadas” até Juazeiro e flagraram no Arraial do Coité, no sertão baiano dos Tocós, conflitos na saga decombate à seca na região, registrando no livro “Viagem pelo Brasil”, práticas que demonstram a atuação do poderes locais e comportamentos da época. Eis o que viram:

Na fazenda Patos, onde pernoitamos, acharam os animais uma pequena poça de água verde para qual se precipitaram com avidez. Animaram-se, assegurando que estava vencida a maior dificuldade, pois no pequeno Arraial de Coité a seis léguas de Patos, uma abundante fonte jorrava do rochedo. Na tarde de 4 de março chegamos a esse lugar da promissão; qual não foi, porém, nossa angústia, quando vimos de perto! Uma fenda da rocha de granito fora tornada acessível por um fosso, e ali estava uma pessoa comum a cuia apanhando a água, que gotejava. Mais de 30 indivíduos, mulherese moças, estavam reunidos em redor dessa fonte do deserto, para descerem segundo a ordem do juiz local, ali presente; os homens traziam fuzis, para,em caso de necessidade, fazerem valer os direitos dos seus. Com a água que bastasse aos animais exaustos, não se podia contar; e mesmo para os homens, quando eu pedi uns sorvos, obitive a arrogante resposta: - “A água aqui é só para nós, e não para ingleses vagabundos”. Um soldado reformado forneceu-nos, comprada, certa porção de água, e aconselhou-nos a seguir viagem nessa mesma noite, em parte por não nos poder nos garantir segurança aqui, em parte porque, a noroeste de Coité e talvez perto da estrada, pouco antes tinha havido trovoada. Resolvemos seguir este conselho, porque diversas mulas já se recusavam ao serviço e, além disso, dois dos nossos companheiros estavam atacados de violentos acessos de febre, pareceu-nos que maior demora nos ameaçaria de desgraça geral.

Percebe-se, neste registro, algumas tensões existentes que podem ser destacadas emtrês pontos:

- A presença do juiz local servindo enquanto instrumento de intimidação e coerção,fazendo “valer o direito dos seus”, ou seja, daqueles que pertenciam ao seu grupo ou lhe seram subordinados socialmente.

- A reação diante dos estrangeiros como se fossem ingleses, demonstrando a insatisfação com a ação das medidas inglesas no Brasil e, ainda, que o sertão não se encontrava isolado, nem sem conhecer as relações diplomáticas daquele momento.

- O soldado que ‘vende’ água para os viajantes desconsiderando os direitos assegurados pelo juiz local, e aproveitando da sua situação de poder institucionalizado.

Em 1855, a fazenda Coité foi elevada à categoria de freguesia pela Resolução Provincial de Nº 539, deixando de estar vinculada ao domínio de Água Fria e passando a pertencer a Vila de Feira de Sant’Ana, porém se manteve filiada à freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jacuípe. Esta condição perdurou até 1878, quando a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jacuípe foi elevada à categoria de Vila, com a anexação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coité.

A fundação Freguesia do Coité registrada na Resolução nº 539, de 09 de Maio de1855, apresenta a primeira delimitação de todo território da Freguesia. O Art. 2º descreve oseguinte:

A nova Freguesia se limitará da maneira seguinte:Pelo sul, começará a limitar coma Freguesia de Riachão de Jacuípe pelo rio Tocos, seguindo por este abaixo à Fazenda Poços e desta ao rio Jacuípe, passando pelas Fazendas Poço de Cima, Getiranas, Almas e Lage de Dentro. Pelo norte e noroeste, se extremará coma Freguesia de Queimadas pelo rio Jacuípe, seguindo por este acima até Cachoeirinha, à margem domesmo rio; d’ahi em linha recta até à Fazenda Baixa da Madeira na estradado Piauhi; desta a Fazenda Morro do Lopes e Serra Branca; e desta a Fazenda Trindade e desta pela estrada direita à Fazenda Pedra Alta. Peloleste, se limitará com Tucano pela Fazenda Capim, até o rio Poço Grande e por este acima até a Fazenda do mesmo nome. Pelo sueste, extremará com aFreguesia da Serrinha pela Fazenda Serra Vermelha e Salgada na estrada daSerrinha e d’ahi a se encontrar com o Riacho Pau-a-Pique e por este até o ponto divisório do rio Tocos.

A freguesia correspondia a uma das formas de organização Provincial do Império Brasileiro. Na capital da Bahia, esta unidade administrativa permitiu a formação de bairros da cidade, sendo definida a partir da referência eclesiástica, e servindo como centro das atividades religiosas sob o comando do pároco. Porém, no interior, o processo de institucionalização das freguesias permitiu a constituição de funções políticas, tendo o Juiz de Paz e o eleitorado como representantes da administração e do poder local. Posteriormente, as antigas freguesias interioranas permitiram a formação de inúmeras cidades na Bahia.

Em 1890, o Ato Estadual de 18 de Dezembro desmembra a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité de Feira de Santana, ficando vinculado eclesiasticamente àvila de Nossa Senhora do Riachão do Jacuípe. Porém, em 1931 foi promulgada a Lei de Organização Municipal por Artur Neiva, que suprime os pequenos municípios com menos de 20 mil habitantes e com arrecadação insuficiente, voltando Conceição do Coité a integrar-seao município de Riachão do Jacuípe. E, ainda, em 23 de Junho de 1931, o decreto nº 7455, acabou com a terminologia Conceição do Coité, passando a se chamar Jacuípe.

O restabelecimento do município aconteceu em 1933, quando o governador da Bahia Juracy Magalhães restaurou em definitivo o município de Conceição do Coité pelo Decretonº 8.528 de 07 de Julho 1933, sendo elevada à cidade pelo Decreto-Lei nº 10.724 de 30 deMaio de 1938.

A cidade de Conceição do Coité encontra-se cerca de 240 Km de Salvador, localizadana Zona Fisiográfica do Nordeste. O município está incluído no Polígono das Secas, numaárea de 1.789 Km² com mais de 55 mil habitantes nas áreas urbana e rural. Sua economia é basicamente comercial, contando com grande quantidade de propriedades agrícolas destinadas à produção de alimentos como o feijão, milho, mandioca, porém a maior parte dazona rural é utilizada na plantação e extração do sisal.

A antiga freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité permitiu a formação do município de Conceição do Coité e, posteriormente, o desmembramento de mais trêsmunicípios: Valente, pela Lei 1.016, de 12 de Agosto de 1958, Retirolândia pela Lei 1.752, de 27 de Julho de 1962 e, recentemente, São Domingos pela Lei 5.005, de 13 de Junho de1989, foi emancipado de Valente.

É importante evidenciar as especificidades da região, sem perder de vista sua articulação com as questões mais abrangentes que estavam em voga no Império Brasileiro. O local não pode ser apresentado enquanto a negação da existência de estruturas nas análises históricas, mas encontra-se num diálogo complementar entre o “micro” e o “macro”,convivendo e constituindo-se numa totalidade. As transformações ocorridas na Freguesia do Coité estavam inseridas em modificações vivenciadas no Império brasileiro, e também nas próprias condições da região.

A análise histórica enfocando o regional permite a visualização de relações eabordagens que emergem de questões mais específicas e direcionadas para as práticas cotidianas dos sujeitos históricos. Joana Neves argumenta que o geral e o local se articulamna construção da visão de história, sendo que

cada local é sempre o recorte de uma realidade mais ampla” e que “o local,fora de um contexto geral, é apenas um fragmento e o geral, sem o respaldodas realidades locais, é apenas uma abstração; e, neste caso, ambos estarão destituídos de sentido.

Erivaldo Neves demonstra esta inteiração entre o geral e o local afirmando que

a história do Brasil não deve ser ‘o somatório das histórias regionais’, entretanto, os estudos históricos locais e regionais ‘indicam as variáveis’mais ‘relevantes para a compreensão’ do processo de formação e desenvolvimento do Estado Nacional, enquanto ‘sistema global de relações.

A grande importância da História Regional é a idéia de que um espaço isolado não apreende a historicidade das contradições, mas é possível que uma análise do nacional seja viável quando se estabelecem relações entre as semelhanças que afloram no geral e o conjunto de multiplicidades e especificidades. Esta idéia de ligação entre as partes e o todo, nega a existência de fatos que se explicam por si próprios e estabelece que “cada elemento só pode ser compreendido no conjunto de suas relações com os outros, isto é, em relação ao todo, pela ação que opera sobre esse todo e a influência que esse exerce nele”.

Ronaldo Vainfas num diálogo entre abordagens da história sugere que mesmo originados de paradigmas distintos a História-síntese, que trata de questões mais abrangentes (paradigma iluminista), e a micro-história que se centraliza no ímpar, no particular (paradigma pós-moderno) podem se combinar e chega a sugerir que “talvez o ideal sejamesmo tentar buscar no recorte micro os sinais e relações da totalidade social, rastreando-se, por outro lado, numa pesquisa de viés sintético, os indícios das particularidades”. 

Neste sentido, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité foi vista enquanto uma sociedade em construção com modelo próprio e relações específicas que caracterizam suas particularidades, porém articuladas com o processo de formação do Estadonacional brasileiro.

Ao analisar o papel desempenhado pelas práticas e políticas de organização do território e a atuação dos poderes institucionalizados e privados na Freguesia do Coité, acompanham-se as transformações da propriedade agrária e de utilização da mão-de-obra, evidenciando a articulação entre o sertão baiano coiteense e as variações conjunturais, considerando, ainda, que esta realidade está inserida num processo dinâmico, conflituoso ecom transformações constantes, abordando discussões acerca do poder local, status e gruposde prestígio.

“Conceição do Coité nasce aberta para o mundo”. É assim que o Monsenhor Renato de Andrade Galvão caracteriza o processo histórico de formação e consolidação domunicípio de Coité. Para o Monsenhor Renato Galvão, esta cidade “plantada na vastidão dotabuleiro” pôde se projetar no comércio internacional do sisal graças às suas bases mercantisdesenvolvidas desde o início da ocupação do território, até a sua constituição enquanto a “Capital do Sisal”.

1.1 O Mito de Fundação

Ao estudar as raízes teleológicas do populismo, Marilena Chauí caracteriza a existência de mitos de fundação como uma solução no plano imaginário para resolver conflitos e tensões sociais. Segundo a autora, considera-se mito fundador 

porque , à maneira de toda fundatio, impõe um vínculo interno com o passado como origem (...). Um mito fundador é aquele que não cessa deencontrar novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valoorese idéias, de tal modo que, quando mais parece ser outra coisa, tanto mais é arepetição de si mesmo.

A respeito da origem dos Sertões dos Tocós foram encontrados poucos registros, eesse pouco é formado por informações soltas e desconexas que deixam muitos questionamentos e incertezas. As obras sobre a região reproduzem modelos e explicações derelatos dos conflitos e dominações entre colonizadores e indígenas, numa perspectiva quedurante muito tempo foi utilizada para demonstrar a inferioridade indígena na conformação dessa sociedade. 

No livro “Conceição do Coité: a Capital do Sisal”, o escritor Vanilson de Oliveira, trata o povoamento do sertão como se os colonizadores “bravios” estivessem desafiados os índios “primitivos” e, posteriormente livrado-se deles, que contribuíram apenas com designações geográficas na região e estabelecendo uma sociedade harmônica e sem conflitos. Segundo o autor,

as Entradas e Bandeiras deram-nos valiosas contribuições através de seus bandeirantes os quais, muitos destemidos, partiram do litoral ou dorecôncavo e por aqui transpuseram as nossas terras, enfrentando os perigosos índios que deixaram as marcas das suas presenças nos topônimosda região sertaneja.

Ainda sobre esta idéia, o autor cita algumas passagens de um documento que seria adeclaração de Guedes de Brito assegurando suas terras nas Fazendas Tocós e apresentando os índios que supostamente habitavam a região, os Cariocas, os Sapoias e os Carapaus. Além do livro não conter mais nenhuma informação sobre tais índios, o autor não apresenta a origem de suas afirmações.

Em outro trabalho, este tratando da colonização portuguesa no sertão baiano, Tasso Franco também aborda a dominação sobre os índios, que não são os mesmos que aparecemnas descrições de Vanilson de Oliveira, e ainda relata a experiência de Carlos Ott para “confirmar” a existências desses índios na região.

Segundo Tasso Franco,

não existem referencias históricas sobre os primitivos habitantes de Serrinha. Pesquisas do Prof. Carlos Ott, em Lage dos Caboclos, antiga aldeia de indios perto de Serrinha, em 1943, verificou um vocábulo da língua cariri num dos homens de mais de 70 anos que se lembrava da palavra bauze ou badze, significando fumo. Em entrevista que realizei como Prof. Em sua residência dos Bandeirantes, em Salvador, 1996, disse queem Lage dos Caboclos havia um índio negro e velho, certamente fugidio do recôncavo, e moradores que adotavam praticas da cultura indígena. Os primeiros habitantes foram os cariris com aldeias nos Sertões dos Tocos ou Pindá nas proximidades dos rio Tocos (índios tocos), em Beritingas (índio berintiga), em Lage dos Caboclos, nos Tapuios (hoje Tapuio, município de Araci) e no Saco dos Tapuyos (na direção de Candeal).

O autor além de informar os índios da região, amplia suas idéias descrevendo-os e caracterizando-os:

Os tocó e berintiga pertenceram a camada mais primitiva dos indígenas brasileiros. Não existem vestígios dessas tribos no município, salvo em Lage dos Caboclos onde houve forte miscigenação com os negros, predominando hoje esta raça. Cultivavam milho, feijão e mandioca viviamem malocas e casas de taipa, umas próximas das outras, e, ao contrario das tribos que habitavam o São Francisco, mais numerosas e organizadas, eram praticamente indefesos aos ataques dos colonizadores. Os índios acreditavam num ente superior e tinham seus pajés – sacerdotes. O índio eralivre e dono dos seus atos e buscava os alimentos na colheita, na caça e na pesca.

Outros registros referentes a tais índios habitando nesta região não foram encontrados, nem sobre outros que poderiam ter existido. No geral, esta descrição está inserida na visão dualista criada pelos românticos brasileiros no final do século XIX que buscavam construir um mito originário para o Brasil, e que segmentava os índios apenas em duas categorias, os Tupis (bons, mansos, civilizáveis e amigos) e os Tapuias (maus, ferozes, inferiores e inimigos).

Tasso Franco aprofunda a perspectiva da inferioridade demonstrando a inabilidade indígena para a guerra, facilitando a ocupação e o extermínio.

Os sesmeiros preferiam matar os índios e ocupar suas terras e praticamente não encontravam resistência nessa tarefa, pois as organizações indígenas eram nômades ou quase nômades, e dotadas de precária organização militar que se limitavam a caça e a pesca.

Os índios, considerados inferiores, foram deixados de lado emprestando apenas o nome para caracterizar aquela região: O Sertão dos Tocós.

A imagem do passado glorioso foi estabelecida através da predisposição geográficada região, que a permitia ser ponto de parada para longas viagens no interior da Bahia possibilitando bom atendimento aos que por lá passassem. Conceição do Coité seria um ponto de apoio indispensável para o cumprimento dos diversos objetivos que mobilizavam viajantes, criadores de gado e comerciantes para o interior.

Kátia Mattoso ressalta a importância dos criadores de gado na conquista do interior, e apresenta Tucano, uma das cidades dos sertões dos Tocós, como um dos exemplos para afirmar as suas idéias de dominação indígena e povoamento. Demonstra:

À conquista das regiões litorâneas seguiu-se a ocupação do Agreste por missionários, criadores de gado e lavradores. As concentrações populacionais fizeram-se primeiro em torno de aldeamentos de índios,criados por jesuítas e franciscanos. Tal é a origem das povoações deItapicuru, Jeremoabo, Pombal, Soure e Tucano.

Um outro elemento serviu para compor a imagem de Conceição do Coité: a cuitizeira ou cuité. Uma árvore de pequeno porte, que se tornou o símbolo da cidade por servir como sombreamento e ponto de descanso para as boiadas que passavam, como também por porqueem seus frutos (cabaças ou cuias) se armazenava a água que facilitava o percurso das longas viagens. Segundo Vanilson de Oliveira,

as boiadas eram sempre conduzidas na direção dos rios, onde encontravam água fresca e pastagens abundantes. Nas margens dos rios, os vaqueiros faziam pousos e, quando achavam um local, agradável, erguiam os currais, originando-se, assim, os futuros arraiais. Na falta do rio mais próximo, arranchavam em uma fazenda, onde estivesse arvore com bastante sombra, pastagens e água. A cuitizeira, naquela época, era uma das arvores de maior  porte em nossa vegetação caatingal e tem uma copa muito apreciada. Ela produz um fruto redondo chamado de Coité, de grande utilidade para os sertanejos (...). Por este e outros fatores, o arraial foi crescendo.

Tasso Franco citando Antonil reafirmou a predisposição da região dos Tocós em bem tratar os viajantes e servir de boas pastagens aos animais. Segundo Antonil, “... tomando depois a mesma direção até Serrinha, lugar de excelentes moradores e onde havia excelente rancho e algumas fazendas de criação de gado”. Esta idéia está tão presente na história da cidade, que o Hino a Nossa Senhora da Conceição do Coité tem a seguinte estrofe:

image

É possível perceber as mesmas idéias: local de dinamismo e de bem tratar aos que passavam. O lema é o “serviço” ao outro que faz a cidade avançar em direção ao divino.

Assim, Conceição do Coité surgiu enquanto um local tranqüilo, acolhedor e, ao mesmo tempo, dinâmico e progressista.

Faremos então, uma análise mais apurada de como a história e a memória do município demonstra um passado harmônico e glorioso que foi construído através da literatura regional, que reproduziu os elementos do mito de fundação, possibilitando acristalização de idéias, valores e, principalmente, da imagem da cidade.

... Não foi por acaso que o Monsenhor Galvão define Conceição do Coité “aberta para o mundo...”

1.2 Imagens da região: História, Memória e Literatura

A relação entre História e Literatura tem possibilitado a construção de diálogos entre diversas áreas do conhecimento humano, permitindo a ampliação de estudos, questões e análises referentes à busca de especificidades da sociedade brasileira.

A busca do especifico não exclui suas particularidades, mas faz compreender que a ciência é a fonte dos conhecimentos oficializados. De acordo com Marc Bloch, o conhecimento dos fragmentos estudados sucessivamente, cada um por si, não proporcionará jamais o conhecimento do todo; nem mesmo o dos próprios fragmentos.

Durante algum tempo, a história e a literatura foram vistas não apenas como áreas distintas do conhecimento, mas também de formas diferentes e contraditórias. A história seria objetiva, revelando a verdade através do estudo do passado, com o objetivo de reproduzir odiscurso oficial e de construir o poder do saber. Já a literatura considerada como obra ficcional, subjetiva, teria o discurso múltiplo e variado e atrairia pelo prazer de distrair.

Porém, estamos em um tempo diferente, no qual se busca uma relação mais aberta edireta entre História e Literatura e, de início, foram ampliadas as noções de História e deLiteratura.

A história compreendida simplesmente como “a ciência do passado” é uma idéia que não mais corresponde aos tipos de estudos que estão sendo realizados. Segundo Marc Bloch, a história seria antes de tudo uma investigação. O objeto da história é o homem; “melhor oshomens. Mais do que o singular, favorável a abstração, convém a uma ciência da diversidade, o plural, que é o modo gramatical da relatividade”.

O historiador não ressuscita o passado e, em conseqüência da ampliação do conceitode História, a noção de documento também sofreu alterações. A fonte ou o documento pode ser percebido como um vestígio do passado, mas não sua configuração; não são apenas os documentos escritos e oficiais que devem ser colhidos e analisados, mas toda produção humana, seja escrita ou não, oficial ou não, como a arquitetura, a literatura, a arte, alinguagem escrita, oral ou simbólica.

Servindo enquanto fonte para o historiador, o papel da literatura não se restringe a isso, mas é testemunho do esforço de criação individual, dos condicionamentos sociais, das dimensões culturais, das condições econômicas, dos conflitos éticos e das contradições políticas, que configuram o espaço em que foi gerado e publicado.

A literatura mesmo sem impregnar a importância inerente à objetividade cientificista também é resultante da construção humana e social, e tendo consigo aspectos imanentes desua caracterização. Segundo Luis Filipe Ribeiro a Literatura, enquanto instituição social viva,tem que ser entendida como um processo e uma inter-relação constante entre o autor, seumomento e o leitor. Como um

processo histórico, político e filosófico; semiótico e lingüístico; individual esocial, a um só tempo. Sua realidade transcende o texto para assumir odiscurso, que conta, minimamente, com as dimensões do enunciador, doenunciado e do enunciatário.

Qualquer produção de um indivíduo reflete os valores da sociedade em que ele vive etambém as aspirações e idéias que projetam para o futuro. Linguagens, crenças, visões de mundo e também desejos inscrevem-se nas marcas de seu tempo, permeiam e significam a produção, o autor e momento em que foi produzido. Autor e a obra são processos sociais e, por isso mesmo, históricos, ainda que tenham como significantes indivíduos reais, únicos e irrepetíveis.

A literatura é constituída por algo inexprimível, como abordou Michel Foucault, algoque poderia se chamar de fábula, no sentido rigoroso e originário do termo, não esquecendoque as fábulas, os mitos, as lendas e as narrativas marcam as gêneses da literatura e dahistória respectivamente.

Através da afinidade entre Historia e Literatura é percebível a complementaridade, a troca de elementos e significados, uma delas é a perspectiva de “dar voz” aos inúmeros autores da história e não apenas aos personagens principais, percebendo as relações de sociais e também de poder que foram estabelecidas, demonstrando a efervescência das vozes no cotidiano social, na construção da história e da memória.

O estudo da memória foi um dos elementos que possibilitou a ampliação do conceito de História e, conseqüentemente, originou métodos e abordagens como também diversificou questionamentos. A elaboração de memória enquanto objeto de estudo firma-se numa multiplicidade de símbolos associados às relações sociais vivenciadas numa determinada sociedade. A memória se auto-constrói, mas também pode ser imposta, enquadrada, adepender dos interesses que estão em jogo.

A memória vem sendo abordada tanto como um processo construção e reconstruçãode identidades, também como fragmentos da “resistência” de algo que tentou ser apagado e esquecido, ou não raras vezes como a intersecção das duas formas. “A memória é marcada, portanto, por dimensões de invenção seleção e combinação temáticas no social, que se diferenciam do passivo acúmulo, deixando patentes caracteres de disputa em sua definição” argumenta Marcos Silva, que evidencia uma relação íntima entre a memória e a(re)construção da identidade. Para o autor,

Ligar memória a identidades engloba da conta de multiplicidades (ninguém é somente negro ou mulher; abrigam inúmeras outras identidades, e sofrem transformações através de suas trajetórias), que quase nunca é harmônica, antes expõe tensões e disputas, as quais nem precisam se dar entre seres diferentes.

No trabalho “Memória, Esquecimento, Silêncio” de Michael Pollak, a memória é analisada a partir da sua indissociabilidade com a organização social da vida. O autor evidencia que as memórias são formadas a partir da interação do lembrar e do esquecer, e que geralmente refletem a consolidação de uma memória majoritária.

As fronteiras entre o dizível e o indizível, o confessável e o inconfessável, separa, em nossos exemplos, uma memória coletiva subterrânea da sociedade civil dominada ou de grupos específicos, de uma memória coletiva organizada que resume a imagem que uma sociedade majoritária ou o Estado desejam passar e impor.

A constituição de estereótipos e de uma memória oficial forja a construção de laços e sentimentos de pertencimento a um determinado lugar, a uma origem e a uma história e de valores que devem ser perpassados em detrimento de outra historia e outros valores que devem ser esquecidos e negados.

O trabalho de Janice Theodoro intitulado “Memória e Esquecimento” analisa o descaso dos brasileiros em relação à preservação do patrimônio histórico. Pensar memória é também refletir sobre o esquecimento, argumenta a autora:

se desejamos refletir sobre memória e esquecimento devemos, inicialmente, lembrar que parte pequena do passado ficou registrado em objetos de cultura. Grande parte da memória histórica corresponde a ausências, perdas, ao que foi excluído, ao que deixou de ser registrado, por não fazer parte dos"grandes acontecimentos" responsáveis por mudanças profundas na vida política e econômica.

O não lembrado corresponderia ao lugar daquilo que não se diz, que se faz questão de ser esquecido e excluído da construção de uma memória, o que lhe garante um significado simbólico da dominação e imposição de valores, permitindo ao Estado a construção de umamemória da vitória do Estado Nacional.

Para reconhecer, conhecer de novo o nosso passado como um patrimônio, temos que nos identificar com ele. No caso da sociedade brasileira este processo é extremamente doloroso. Neste sentido, o esquecimento, e não a lembrança torna-se a pedra de toque de nossa memória. A nossa sociedade sempre esteve e, ainda está, alicerçada em fragmentos culturais cuja relação entre eles é de dominação. Olhemos a nossa história.

O trabalho “Memória e Sociedade” de Ecléa Bosi apresenta a importância das lembranças dos velhos na reconstituição de memórias e lembranças de São Paulo no inicio doséculo XX.

De início, a autora oferece leituras acerca dos velhos – e outros agentes sociais considerados “oprimidos” pelos estudos da sociedade, como a mulher e a criança – enquanto agente histórico que também assegura uma função social: “lembrar e aconselhar”, e principalmente “recuperar o tempo”. Argumenta:

O velho, de um lado, busca a confirmação do que se passou som seus coetâneos, em testemunhos escritos ou orais, investiga, pesquisa, confronta esse tesouro de que é guardião. De outro lado, recupera o tempo que correu e aquelas coisas que, quando as perdemos, nos fazem sentir diminuir e morrer.

Para Ecléa Bosi, um dos temas mais estimulantes é a memória enquanto construção social de um grupo:

quando um grupo trabalha intensamente em conjunto, há uma tendência de criar esquemas coerentes de narração e de interpretação dos fatos,verdadeiros ‘universos de discursos’, ‘universos de significados’, que dão ao material de base uma forma histórica própria, uma versão consagradados acontecimentos.

Ecléa não pensa memória apenas como construção, mas também enquantos ilenciamento, enquanto ausência de elaboração grupal em torno de certos acontecimentos ou situações. Neste caso,

(...) seria o de esquecer tudo quanto não fosse ‘atualmente’ significativo para o grupo de convívio da pessoa. É o que sucede às vezes: os fatos que não foram testemunhados ‘perdem-se’,’omitem-se’, porque não costumam ser objeto de conversa e de narração, a não ser excepcionalmente.

Porém o “lembrar” e o “esquecer” não podem ser vistos apenas enquanto instrumentosde registros de memória, vivenciados ou não por um grupo, mas também enquanto elementos que foram construídos historicamente. Um grupo que não vivenciou determinados acontecimentos do passado pode, pelo poder do saber, forjar numa memória elementos quesirvam para a legitimidade de valores do presente.

O processo de construção da memória da cidade de Conceição do Coité se fez pelo silêncio de elementos do passado e pelo não-dito. Não porque não fosse importante nem tivesse significado, mas porque se precisava construir um passado que justificasse a idéia de modernização e desenvolvimento sem informações que contradissessem o mito de fundação.

Confeccionou-se uma memória apenas com grandes homens e grandes eventos políticos, sem índios, sem negros e sem a participação do povo nas decisões e no processo social da cidade seguindo o caminho traçado pela história tradicional e, depois, positivista.

A literatura foi a matéria-prima oficial registrando, elegendo e, também ajustando e submergindo. Foi o ingrediente impar através da qual se organizou o culto a um passado e auma origem e criou um modelo de valores e ações que foram - e ainda são - repetidos ao longo da história.

O livro “A Família Serrinhense”, foi o primeiro trabalho encontrado sobre a região dos Tocós, escrito em 1926 por Antonio José de Araújo, Juiz de Direito de Jacobina. Neste livro, a região aparece como uma radiografia da vida particular das famílias que habitavam os sertões dos Tocós. Os Apollinarios, os Afonsos, os Oliveiras, os Silvas, os Mottas, os Santhiagos, os Carneiros e os Maya seriam o primeiros a habitarem a região, relacionando-se através de laços harmônicos de casamentos e amizades e também de trocas de favores, beneficiando a todos.

Ao longo do livro, o autor buscou comprovar sua herança genealógica de Bernardo da Silva, o primeiro morador do sertão dos Tocós que combateu e expulsou os índios, gerando descendência às famílias descritas e a todos que compõem a elite de Serrinha.

Para cada uma della terei um capitulo especial, ligado que estou pelo lado paterno as famílias de Tambuatá e Genipapo, e pelo lado materno à de Serrinha, ou a todos pelo sangue commum de Bernardo da Silva, o esquecido antepassado, cuja memória faríamos bem em resaçar, erguendo-lhe um monumento no logradouro mais importante do logar, ou tão apenas elle dando-lhe o nome venerando e digno de melhor acatamento por parte dos seus descendentes, que são todos os da élite Serrinhense.

O autor se empenhou apenas em fazer a descrição das genealogias de cada família que correspondia a ‘elite’ da região. Eram todas famílias boas e poderosas, sem conflitos e desentendimentos. E também – contraditoriamente - sem escravos. O segundo trabalho foi publicado muito tempo depois, em 1985. “Contos e Históriasde Conceição do Coité” de Marielza D’Vilanova, trata de um pequeno levantamento de contos antigos do município, com relatos folclóricos, cantigas e alegorias da região, sendo utilizado como paradidático nas aulas de História em escolas do ensino fundamental no município. Mesmo tendo-se tanto tempo após a publicação do único livro sobre a região, este reproduz a mesma imagem harmônica e em nada se refere sobre desentendimentos ou choques de interesses.Além de reforçar os valores os quais moveram e moldaram o trabalho de 1926, a autora complementa que Conceição do Coité seria um lugar protegido por Deus que seguia sua evolução natural no desenvolvimento material e espiritual. Neste trabalho, não fica separado a história da cidade e a história da Igreja Católica – também sem conflitos -, é como se fossem uma. A autora afirma o motivo de não existir desentendimentos: “a Fé une os coiteenses”.

Em 1987 foi publicado o trabalho de Vanilson de Oliveira, “Conceição do Coité: A Capital do Sisal”. Na introdução da 1ª edição do livro, o autor revela a importância do livro:

Eis aqui o primeiro livro histórico-cultural de Coité. É como se fosse uma radiografia de perfil mostrando sua gente, seus costumes, suas tradições e realizações de uma comunidade sertaneja pequena e simples, destemida e forte por enfrentar dificuldades do revés da natureza no sertão semi-árido.

As informações sobre fatos políticos da cidade são apresentadas por Vanilson de Oliveira desde os primeiros habitantes – os índios - até o ano de 1993, época em que o livro foi escrito, privilegiando os acontecimentos “históricos” dos “homens nobres” da localidade. O autor apresenta a todo o momento elementos do passado que comprovem a garra e força do sertanejo “simples e destemido” na construção de uma sociedade progressista e abençoada. Inicialmente, é a labuta com a natureza que caracteriza o coiteense: foram os índios – que também eram considerados parte da natureza selvagem – e depois os combate contra a seca que revelaram a força e o destemor do coiteense diante das dificuldades. O autor privilegia enquanto fatos históricos apenas três acontecimentos: a entrada da Coluna Prestes na cidade em junho de 1926, a fundação das sociedades recreativas locais a partir de 1937 e a convenção regional do sisal realizada na década de 1950. A história é concebida como a descrição de fatos, sem nenhuma conexão com outros acontecimentos do mesmo período. Dividido em nove capítulos, o livro retrata a visão de um coiteense sobre a sua própria história. Nos capítulos não aparece sequer uma vez a palavra escravidão ou algum outro sinônimo, nem alguma idéia que indicasse a existência de escravos em Conceição do Coité. Esses foram apagados ou talvez esquecidos da história da cidade, como se nunca tivessem existido, reafirmando o mito de fundação em que a cidade surgiu sem desigualdades sociais e sem conflitos. O trabalho de Hugo Lovisolo foi publicado em 1989 após ter sido desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Campinas.“Terras, Trabalho e Capital - Produção Familiar e Acumulação”, tem enquanto objetivo analisar e comparar duas unidades de produção familiar – ou seja, unidades em que as relações de parentesco são as mediadoras na vinculação do trabalhador – no processo de desenvolvimento capitalista no Brasil. As unidades estudadas foram no Rio Grande do Sul, precisamente em Cândido Godói, e em Conceição do Coité na Bahia. As distinções foram feitas entre as unidades “que acumulam” (maquinário, bens de produção, terra, gado, etc.) num processo normal de acumulação primitiva e as “aparentemente imunes” à dinâmica da acumulação. Cândido Godói foi caracterizada como aunidade “que acumula”, chegando a classificá-la como “pequeno-burguesa”, enquanto Conceição do Coité foi tida como uma unidade “camponesa” e imune ao processo de desenvolvimento que segue em direção a consolidação do capitalismo. Neste trabalho, um dos destaques foi dado a afirmação de que Conceição do Coitéapresenta a inexistência de “memória coletiva”, ao contrário do que aparece em Cândido Godói, onde os entrevistados reconstroem seu passado identificando-se com ele. O autor argumenta que

Os entrevistados de Coité não retêm, em sua memória coletiva, processo de ocupação ou colonização da região. Existem aqui vagas referências – ainda quando interrogados os moradores mais velhos – a certos parentes distantes, que teriam chegado a região produzindo seu povoamento (...) não achamos rastros de uma historia particular capaz de gerar a identidade social (...) A origem da região explica-se numa história mal fiada – e, ao que parece, suficiente para os atores -, que aponta para a existência de antepassados familiares, supostamente os primeiros a chegar e conseguir terra na região.

Em “A Memória e a Formação dos Homens” Lovisolo critica Furet por usar em determinados momentos de suas análises sobre a Revolução Francesa a idéia de que emalgum momento da história as pessoas fossem como “tábua rasa” e argumenta que “a tábuarasa é sem dúvida radicalmente contra a memória. A este modelo da terra arrasada contrapõe-se, há longo tempo, a percepção de que é na memória onde devemos achar as forças do presente e do futuro”.

Lovisolo caracteriza como “história mal fiada” a ausência de informações sobre o passado, apresentando várias lacunas existentes sobre a formação histórico-social da região. Segundo este autor, haveria apenas vagas referências sobre o processo de ocupação ecolonização da região, como o relato de Spix e Martius e o decreto administrativo da emancipação do município na década de 1930. A história de Conceição do Coité começaria a partir da introdução do sisal com a identificação de “um antes e um hoje” na região, trazendo mudanças na propriedade agrícola. Argumenta Lovisolo:

(...) a mudança inicia-se quando os produtores de agave começam a cercar as terras para proteger as plantações do gado. (...) A introdução do agave e de sua técnica de exploração tiveram efeitos vários sobre a produção e a reprodução das unidades familiares.

A ausência de informações não está presente apenas nos estudos realizados, mas também na vivência cotidiana das pessoas. Até a bem pouco tempo atrás a sociedadecoiteense alegava veementemente que na “cidade bem bonita, orgulho do sisal” não houvera escravidão negra, nem problemas locais, reproduzindo os valores que balizaram as primeiras obras referentes a região. Esta suposta harmonia teria como fundamento a proteção divina que emana na cidade, e que “une os coiteenses” como afirmou anteriormente Marielza D´Vilanova. O Hino Municipal glorifica:

Como aprisco de Cristo Jesus,sob a guarda da Virgem Maria,és Paróquia que esparge sua Luznestas plagas da heróica Bahia.

Ainda o trabalho de Tasso Franco aborda a influência da colonização portuguesa nos sertões dos Tocós e a consolidação de Serrinha enquanto cidade moderna e desenvolvida.

Este livro é a reafirmação e complementação de dados do livro “A Família de Serrinha” de Antonio José de Araújo, este é o objetivo do levanto de informações e dados:

O livro foi produzido com a finalidade de atualizar a documentação sobre a história de Serrinha. Desde quando Antonio José de Araújo, juiz de direitoda Comarca de Jacobina, escreveu o livro A Família de Serrinha, editado pela Tipografia O Serrinhense, em junho de 1926, era o segundo trabalho sobre o tema. A história escrita por Antonio José descrevia basicamente os ramos familiares, enquanto nosso trabalho continha dados atuais sobre avida da cidade, o esporte, a imprensa, figuras populares etc.

A história de Serrinha foi dividida em três períodos:O primeiro de 1612 a 1891, delimitando a abertura das estradas das boiadas até a elevação da cidade em 1891; o segundo período compreendido entre 1890 e 1969 foi caracterizado como a fase da “modernização”, com a instalação da Radio difusora em 1969 e completada com a instalação da Companhia do Vale do Rio Doce, em Teofilândia (ex-distrito de Serrinha); o terceiro e ultimo período que vai até 1995, continua a descrever os acontecimentos sem alterar a perspectiva de desenvolvimento. Um recorte temporal complexo para trabalhar, pois envolvem dinâmicas variadas que requerem habilidades de estudos e analises de dados impossíveis de serem acoplados. Tais estudos retratam e reafirmam um passado sem conflitos. São trabalhos sem problematizações que apenas descrevem a evolução linear dos Sertões dos Tocós na construção das cidades em direção ao progresso desejoso. Esta imagem de harmonia esconde os conflitos e tensões existentes em todas as sociedades, afinal, as relações sociais são permeadas pelas relações de poder, e onde há lutas pelo poder, há conflitos.

O esquecimento seria a negação deste passado cheio de arranjos internos para a manutenção do poder local que se revelava desigual e, sobretudo, escravista. A memória oficial fez a sua própria clivagem, legitimando a atuação de valores que foram absorvidos como verdade pela população durante muito tempo, mas que deixou seus rastros, no sentido de se fazer uma busca do jogo da memória/esquecimento, do qual emergeo sentido da história.

MAPA I

MAPA II

http://pt.scribd.com/doc/63533123/Dissertacao-Nossa-Senhora-da-Conceicao-do-Coite-%E2%80%93-Poder-e-Politica-no-Seculo-XIX

4 comentários:

  1. Querida Parabéns por este blog tão precioso! Sou da familia ,Lima,Araujo,Mota,Cunha e Simões Meu nome Ivonete Lima Cunha Irmes,mas sempre fui Nety! Nasci em Valente mas sai bebe p Salvador Moro em curitiba a decadas.Sempre estou lendo suas pesquisas e adoro,gostaria de saber mais sobre a imigração valentensse,pesquiso muitas coisas sobre nossa gente.Um feliz Ano novo e toda prosperidade p vc!bjos

    ResponderExcluir
  2. Querida Parabéns por este blog tão precioso! Sou da familia ,Lima,Araujo,Mota,Cunha e Simões Meu nome Ivonete Lima Cunha Irmes,mas sempre fui Nety! Nasci em Valente mas sai bebe p Salvador Moro em curitiba a decadas.Sempre estou lendo suas pesquisas e adoro,gostaria de saber mais sobre a imigração valentensse,pesquiso muitas coisas sobre nossa gente.Um feliz Ano novo e toda prosperidade p vc!bjos

    ResponderExcluir