Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Doações de escravos e quem vendia e comprava escravos?

Além da documentação já discutida, podemos encontrar vestígios de escravos nas escrituras de doações. Foi encontrado um total de 10 documentos deste tipo, totalizando em 15 escravos doados. Este é o caso de Clemente, 29 anos, cor fula, avaliado em 1:000$00 contode réis, doado pelos seus senhores Manoel José da Cunha e D. Ana Maria de Jesus a seu filho Manoel José da Cunha Júnior.

Assim, como esta doação foi feita, em quase todos os outros casos os doadores fazia mesta benevolência a parentes próximos como filhos e sobrinhos. Algumas situações evidenciam a doação de mais de um escravo ao mesmo tempo e ao mesmo beneficiado.

Dentre os exemplos encontrados, podem ser citados os escravos Salvador, 13 anos e Patrícia, cor fula, 19 anos, doados juntos pelo casal Capitão Manoel Lopes da Silva e D. Phillipa Maria de Jesus à donatária D. Francelina Lopes da Silva. Pelo sobrenome é possível perceber que havia uma relação de parentesco próxima, entre a donatária e um dos doadores, o que pode sugerir uma divisão de herança ou outra forma de doação dentro do mesmo núcleo familiar.

Dentre os casos encontrados, houve alguns em que as mães foram doadas com suas crias ao mesmo tempo; este foi o exemplo da escrava Joana, doada por seus senhores com “duas crias livres”. Esta doação foi feita pelo casal já citado no parágrafo anterior, possibilitando a identificação da ligação dos doadores com o donatário Victoriano Antonio de Oliveira, este era o esposo da filha do casal. Joana foi doada junto com o escravo Francisco, avaliados por 900$00 mil-réis.

Dessa forma, foi possível perceber que as doações ocorriam, em maior quantidade dentro de núcleos familiares, seja como forma de antecipar a divisão dos bens ou também para fazer benevolências. Outro dado apresentado é que a maioria dos escravos doados estavam inseridos na faixa etária de 13 a 31 anos de idade, considerada como idade produtiva.

Quem vendia e comprava escravos?

Em 1850 o tráfico negreiro foi proibido, modificando assim a dinâmica de compras deescravos africanos, o que ocasionou a intensificação do tráfico entre as províncias, principalmente do nordeste para o sudeste onde a demanda de mão-de-obra escrava era maior.

Segundo Neves “quem desejasse adquirir novas peças chegadas da África, teria de mandar comprá-las na Bahia, denominação comum a cidade de Salvador.” (NEVES, 2008, p. 271)

A partir da análise das fontes, foi perceptível que a maioria das comercializações dos escravos em Conceição do Coité se dava entre os próprios moradores da freguesia. Não foram encontrados vestígios de envolvimento direto com o tráfico de africanos, visto que o número encontrado foi relativamente pequeno, quando comparado ao número de escravos nascidos no país. Outro dado que podemos considerar, é que a quantidade de comercializações não indica a existência de um mercado de escravos. Orlando Barreto memorialista da cidade de Coité, aponta a existência de uma feira livre que comercializava escravos e animais (BARRETO,2004), mas nos documentos consultados a quantidade de escravos vendidos é relativamente pequena e o comércio se dava, na maioria dos casos, entre os próprios moradores de Coité.

Os moradores da freguesia que mais aparecem nas escrituras são o Capitão João Manoel Amancio (6), Aprígio Leoncio da Cunha (4), João Tibúrcio da Cunha (4),Victoriano Lopes da Silva (5 ) e Manoel Sedraes Júnior ( 5 ), todos moradores e fazendeiros da referida freguesia. Quanto aos escravos do Capitão João Manoel Amâncio, podemos citar alguns que foram comercializados. Em 1870 ele compra a escrava Marcolina por 500$00 mil-réis. Nove meses depois a vende ao Sr. João Nunes Lopes Sobrinho por 550$00 mil-réis. Em 1874 ele aparece efetivando a compra de João por 1:000$200 réis. Em 1875, ele compra a Sabino e a Benedito em 1881; no ano seguinte, ele comprou o escravo Clemente.

Também compraram escravos em Coité neste período, moradores de outras vilas e freguesias. Entre estes estava o Sr. Antônio Veríssimo Carneiro, de Riachão do Jacuípe; José Bernardino de Lima, de Queimadas e Basílio José Vieira, de Tucano. Todas estas regiões sãovizinhas da Freguesia de Coité, o que evidencia a existência de um pequeno comércio deescravos entre áreas vizinhas.

Na maior parte das vendas de escravos, não houve a especificação do motivo para a realização da negociação. Mas, dois casos merecem atenção por apresentar as motivações que levaram o proprietário a se desfazer dos cativos. O primeiro exemplo é do escravo José, cabra, menor de um ano de idade, vendido por sua proprietária D. Ritta Maria de Jesus ao professorJosé Conrado d Araujo Marques. Ao realizar a venda, a dona do pequeno José declara que assim a faz “só para satisfazer as dívidas de seu finado marido”. Assim, percebe-se que D.Ritta precisava realizar a venda para obter o recurso necessário ao pagamento de dívidas, o que nos remete a ideia de uma realidade onde para algumas famílias a venda de um escravo significava a obtenção de um recurso financeiro para suprimento de necessidades, especialmente na viuvez.

Deste modo, foi possível identificar o perfil dos escravos de Conceição do Coité encontrados nas fontes das últimas décadas da escravidão. Também foi possível perceber que a maioria dos escravos comercializados estavam em idade produtiva, que o comércio destes ocorria dentro da própria freguesia e era feito, na maioria dos casos, entre os próprios moradores e, quando haviam pessoas de fora envolvidos neste mesmo comércio, eram residentes em vilas e freguesias vizinhas.

No entanto, os escravos não estavam envolvidos apenas nas negociações de compra evenda. Eles eram sujeitos ativos que sonhavam e buscavam realizar seus desejos. Um dos grandes objetivos da maioria dos escravos era alcançar a liberdade, e para tanto, eles negociavam com o senhor dentro do seu cativeiro e das condições impostas pelo sistema escravista. No próximo capítulo a discussão será centrada na conquista da alforria pelos próprios cativos, ora comprando, ora conquistando com “bons serviços” ou até aceitando condições impostas pelos seus proprietários.

Fonte: Vestígios no tempo: escravidão e liberdade em Conceição do Coité-BA (1869-1888) - Edimária Lima Oliveira Souza

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