Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

História da Minha Vida – Fita 1, Lado B

 

Meu bisavô Hildebrando Cedraz (Pequeno) gravou diversas fitas, algumas com músicas (ele adorava tocar violão e cantar) e outras contando a história da vida dele. Consegui encontrar algumas dessas fitas e vou postar aqui. Para quem quiser ouvir é só conferir o audio abaixo, mas também coloquei a transcrição (vez ou outra é difícil de entender o que ele fala, então me desculpem se houver algum erro).

Obs: Uma parte das fitas já está no 4shared caso alguém queira baixar para ouvir http://www.4shared.com/u/h2WAH_c2/luanaoliveira.html

“… e de formas que, um dia era uma coisa era outra, quando chovia era frieira nos pés, era isso, era aquilo, e de formas que foi quando Dr. Motta resolveu vim de novo pra cá porque lá não deu certo. Tinha o noivo de minha irmã era Sossô, tinha pedido a meu pai que fez um roçado lá perto de Davi e trouxe semente de capim de nezinho, todos nós ai gora ficamos plantando capim de semente, porque a terra era uma dificuldade danada para plantar capim na terra, só dia de chuva, chuvendo a gente plantando, ai agora chegou o Dr. Motta com Aloysio, com todo mundo. Eustogio tava aqui com uma maquina perfuradora para perfurar poços artesianos, maquina movida a linha e água, a fogo e água. Então tudo devagar, mas já tinha perfurado um poço aqui na rua e outro no tanque do governo, daí tava perfurando na Santa Clara mas tinha que perfurar um no riacho, então Dr. Motta disse ‘Coronel, requera o senhor mais o Augusto, Jove, Belmiro, requerendo assim, uma porção de poços de vez, o governo, o secretário manda logo fazer. Então Jove disse, ‘não eu não vou requere, cumpadre Aristides tem, eu não preciso’. Compadre Augusto, Antonio e Belmiro requereram quatro poços, veio logo despachado da secretaria. Eustovio quando terminaou o serviço do Riacho do Martins essa máquina pra chegar no Rio das Pedras foi um castigo, devagarinho, nessa areia, foi quando chegou lá na ladeira do pelé foi precisar juntar gente para empurrar essa máquina porque ela não tinha força pra subir. Era um serviço e nós iamos encontrar, veio Aloysio, Dr. Motta tinha muito interesse nessas coisas, ele gostava, dai entupindo buraco e tal, mais de uma semana para chegar no Rio das Pedras, a maquina. Chegou a máquina, logo ai Aloyisio procurou, era afilhado de Jove, procurou para botar umas farmácias em sociedade mais Jove, o padrinho, com padre Vespasiano, sociedade da farmácia. Aloysio veio pro Coité. Foi quando Houve o casamento de Iaiá com Sossô, 1918. Então casou Iaiá com Sossô em 1918, Aloysio já estava aí em Coité, e Sossô entendeu de botar uma olaria, fazer uma olaria, ali defronte a fazenda Caiçara de Jove, mas na área que pertencia a meu pai, cercado da lavoura, que era do meu avô, essa área ali pertencia a meu pai. Ele fez a olaria de sociedade com Jove, que ninguém tinha dinheiro, Jove tinha um dinheirinho fazia a sociedade, mas não deu resultado a olaria, aí ele casado, não tinha outro jeito. Rapaz trabalhador, mas não tinha bons planos não. Resolveu vir pra coité pra botar uma fábrica de vinagre, Aloysio já tava aí, então ele veio pra Coité, morar na casa de Dr. Amancio, que era o pai de Dr. Reginaldo, cunhado. Então Sossô ficou ai em Coité, ai agora eu fiquei, não saia de Coité. 1918 foi a máquina que terminou fez o poço, só deu 15 metros e meio, pra perfurar demorou porque deu um rochedo de pedra danado, só cavava cinco centimetros por dia, quando passou esse rochedo deu n’água. O engenheiro chamava seu Teles e o representante era Figueiredo. Figueiredo então fez o calculo, dava pra dar água para 200 cabeças de gado a vontade. Então pararam com 15 metros e meio e foi pra Guanabara. Deu 30 metros e a água salgada, como se chama, Antonio Fructuoso, lá a Fazenda Boa Hora deu água melhorzinha, quando também foi pra Trancada deu salgada, aí foi-se embora. Então aí agora ficamos, compraram aquelas bombas, botou aquelas bombas, um trabalho danado, Figueiredo foi quem botou. Botou aquelas bombas puxadas a mão.

Pra dar pro gado se batia de manhã até de noite, mas porque vinha o gado de Jove, vinha o de Joaquim Guimarães, eu tinha um gadinho também, e tudo isso rendia o gado. Começava de cinco horas até dez horas da noite, era um serviço danado mas o gado vivia. Tudo muito bem, mas a vida do velho era falar, brigar porque o gado dele tava largado, Paulino não ligava, e não sei o quê, não tinha o interesse. 1919 eu com 18 anos e lá vai. Aí eu resolvi fazer como, entrar como vaqueiro, combinei com Paulino de nóis entrá como vaqueiro.

Logo em 18 eu fiz um roçado pra meu pai, plantei de capim de semente… em 19 fiz outro roçado pra ele, plantei de novo e fui botando pra frente, porque quando foi 1920 que eu entrei como vaqueiro, eu mesmo fiz meus couros, mamãe me ajudando, comprei couro de veado catingueiro mesmo, fiz meu jibão, perneira de vaquiero e tudo, uma sela velha que tinha lá de um parente dele de viajar, e foi indo, um burro russo que tinha na fazenda, muito bom até. Então, não foi nada não, pegamos 18 bois trazidos de um por um no campão, botei no pasto, engordou esses bois, logo ele começou a se melhorar, pegava dinheirinho emprestado a Jove, aí em diante começou a  se melhorar, e eu fazendo pasto pra ele. Como vaqueiro emm 1920 fiz outro roçado pra ele, em 1921 fiz outro, botando por cima capim e botando pra frente e lá vai a gente, botamo pra melhorar. Tinha um gado da porta que eu olhava, e esse gado rendia muito, o da caatinga era um gado muito espalhado, um gadinho pouco, longe, tinha gado até com duas léguas. Então pesamos esse gado todo, e foi pegando os bois, prendemos o gado todo, enxucalhamos, ferramos, tinha muito gado sem ferro, ferramos tudo e soltamos esse gado. Depois de uns 15 dias, sabe de uma coisa, vamos olhar aquele gado do lado de fora do incó, gado de longe, vamos fazer um passeio por lá. Fomos lá, chegando lá o gado todo afetado de aftosa, minha nossa senhora, torna a pegar esse gado e batemos, batemos pra junta, faltou uma vaca, tava com chocalho, nos batemos, trouxemos o gado pra Queimada Nova, prendemos ai, voltamos de noite, foi que escutamos o chocalho, a vaca bate, tava com os cascos doendo que nem saia de dia, no outro dia de manhã fomos lá e achamos a vaca, trouxemos, a vaca tava tão boa que deitou atrás do poço e não levantou nunca. Nós dando ração, folha de barriguda todo dia, com muito cuidado, não morreu não, com muito cuidado não morreu nada. Prendemos esse gado todo dando quina quina, remédio, passamos piche e tudo nos cascos, tratando, um trabalho danado.

Aí continuamos, foi 1921. 1922 eu fiz um roçado, eu fiz 21 anos, completei 21 anos, eu fiz um roçado em 1922 e disse meu pai eu vou esse roçado, 14 tarefas, o senhor me ajuda um bocadinho que eu, nós plantamos sociedade milho e feijão, ai fiz isso, deu uma boa safra. 1922 foi quando eu completei 21 anos e o coronel Eutórgio, era um politico fino, me chamou ‘venha cá, você vai ser eleitor, assina aqui esses papeis’, eu assinei os papeis. Ele então com poucos dias me deu, mandou assinar o título, me entregou o título de eleitor. ‘Você vota comigo’, pode ficar tranquilo que é mesmo, ai ficamos e ele não me deixava, eu e Eustórgio era pegado, ave maria, sabido, politico fino, ai continuamos. Continuamos, em 22 tive uma boa safrinha de milho e feijão, e coisa, e ai eu vendi logo a minha parte, a parte de meu pai botou pra lá, porque o dele o milho era pro rato e o gurgulho comer, o feijão botava em um paiol guardado misturado com cinza e terra, nunca vendia, não tinha quem comprasse também, mas o meu eu vendia por qualquer preço. Eu não tinha isso não, queria era o dinheirinho, e dava a minha mãe pra guardar.

E daí foi eu lutando e tal, quando foi, Aloysio no Coité, e eu não saia daí, eu tava já gostando de uma menina que era filha de Antonio Felix, a Lulu, namorozinho com ela, e tal, mas quando eu dei fé, lá pelo São João, eu tava na porta da farmácia quando saiu uma menina bem arrochadazinha na frente da casa, quem é aquela? ‘É filha de cumpadre Nezinho’, Aloysio. Ela chupando uma laranja, ai ofereceu a Aloysio assim, Aloysio agradeceu, ela entrou, e eu ai ave mari, me apaixonei, me apaixonei, e pronto, não tinha forma pra mim, essa menina. Abandonei a outra, isso foi em São João, quando foi de Natal teve uma festa, em setembro ela tava na escola, e eu não larguei essa escola, dia de 7 de setembro acompanhei ela porta bandeira, ave maria, mas não olhava pra mim de jeito nenhum, eu ficava danado da vida com esse negocio. Ela olhava pra professora, com medo da professora, com medo de errar com a porta bandeira, eita menina… Ai passou, passou e minha vida foi sempre assim. No natal, as meninas de dona Pequena, tinha lá seis ou sete moças, tudo querendo namorar comigo, eu não queria de jeito nenhum não. Aloysio gostava de uma lá também, que era Vivi, e essa fazia campanha pra poder eu não continuar lá pra namorar com a filha de seu nezinho, era pra ficar era lá mesmo. Não, não, não, não é comigo não. Agora é diferente, comigo é diferente. Tinha uma arrelia que a pessoa perguntava a Idália, que ela respondia. Dizia não, eu não quero casar com professora não, não me interessa. Nisso foi a festa de Natal, passada a festa, então lá na noite dessa festa, logo veio a mãe de Vivi, a noiva de Aloysio, morava no Araci com uma familia muito grande, chegaram aí tinha os filhos, tinha uma porção de filhos. Tinha um que era empregado de Vespasiano, defronte a casa de Nezinho, e aonde eu não sabia, tinha qualquer coisa entre ele e Idália, era assim de longe, mas já tava tendo um olhadozinho, e eu não sabia, quando eu chegava ficava na frente, que ela saia na porta, eu via não era pra mim não, passava no meu ombro esquerdo, e eu disse que negócio é esse. Aí quando foi de Natal uma pessoa, irmã de Vivi, que ela tinha uma irmã mais velha danada pra querer namorar comigo, ai eu não queria, e o irmão dela ficou uma camaradagem comigo danado. Ficamos por ali, ai veio Idália de braços dados com uma amiga, jogou uma piada e pararam, conversando, ai ele disse ‘essa menina vai ser uma moça bonita, ela tá namorando com meu irmão’, o que? ai eu morri na hora. Já Nezinho tava sentado na mesa junto com meu pai conversando, que Nezinho quando deu fé disso que eu tava paquerando, ave maria, não me soltou mais. Quando deu meia noite Nezinho chamou Idália foi embora e nós só saimos lá pras duas horas, o velho, com as meninas tudo ali, vamos se embora dormir.

Então passou, passou, quando foi 23, 1923, fiz um roçado pra meu pai logo cedo, roçado pra ele, queimei o roçado, ai pra pegar um roçadinho pra mim, ai meu pai foi ajudar coivara, lá tomou uns pingos de chuva nessa ida de lá pra cá, coitado, com uns pingos de chuva teve uma pneumonia, ai passei logo um telegrama pro Motta, tava em Jacobina, porque o Motta foi embora pra Jacobina de novo. Ele veio ver o velho, pra levar o velho. Veio, aí o velho com a pneumonia, ai eu já tava roçando meu roçado com dois rapazes ai na Fonte de Fora pra crescer meu pasto, porque o capim angola tinha morrido e eu queria aumentar, plantar outro capim, com a semente de capim de nezinho. Aí foi quando eu recebi um recado, que mandaram me chamar. Cheguei no Rio das Pedras, quando cheguei em casa o velho disse ‘é meu filho, larga teu roçadinho ai, que tu tava roçando agora, vai tomar conta do meu, e planta sociedade como nós fizemos no ano passado.’, aí eu ‘tá certo’. E eu não continuei meu serviço, pra acaber de coivara, e cercar e tudo, fiz tudo o roçado dele. Quando foi no mês de abril deu uma chuva, plantei metade do roçado de milho e capim, semente. nasceu o milho, mas não chuveu mais nunca. Abril, quando entrou Maio plantei o resto do roçado todo no seco, feijão, milho e capim. Enchi todo e voltei pro meu pastinho da Fonte de Fora, que tinha morrido o capim angola, pra plantar feijão e semente de capim. Ai comecei, quanto já tava pra terminar deixei os rapazes ai e disse ‘ agora eu vou’ eu tinha um conto e quinhentos ‘eu vou na Impueira, vou comprar uns garrotes’. Sol medonho, fim de Maio, cheguei no Valente falando, Antonio Delfino disse ‘eu tenho 10 e vendo à cinquenta mil reis’, ‘eu compro’, ai comprei os 10 e dei quinhentos mil reis a ele. Digo ‘eu só ferro quando vinher da Impueira’, lá eu comprei 3 à (Morinho?), saimos, compramos mais 10, 23 garrotes. Ainda me sobrou dinheiro, digo esse aqui eu preciso agora dele no inverno, quando chuver. Ai vinhemos, ferramos todos, tomamos nota e soltamos, tomamos nota, a pelagem, preto, branco, pintado, vermelho, etc, fazenda tal, fazenda tal, soltamos tudo, sobe os cuidaods do (Moreno?), o vaqueiro. Então ai dormi no Valente, porque quando acabamos de fazer isso já era de tarde, no outro dia saimos de manhã, eu e um rapaz. Quando chegamos na Jibóia, era um sereno medonho, chegamos na Jibóia o sereno dismanchou em chuva, começou a chover, chover, chover, chegamos no coité tudo molhado. Ah beleza, quem me vendeu arrependeu, mas não tinha jeito, tava vendido, ferrado tudo, 23 garrotes.

Ai, fui no Coité, por lá, porque já tava minha namorada, já tava meu bem, já tava me querendo, tudo certo, aí eu vim pro Rio das Pedras, quando cheguei na Guanabara cumpadre (Augusto?) tava plantando com os trabalhadores ‘ô cumpadre, você tá passeando e eu tô plantando’ digo ‘cumpadre eu já plantei, deixei o roçado todo cheio no seco’, ‘foi? ah então você acertou’, ‘Agora vou fazer uma lera de feijão, fiz a lera de feijão na Fonte de Fora, pra jogar semente de capim, ao invés de eu botar semente aqui e acolá, não, quando fui semeiar a semente, semeiei de mais, o feijão cresceu muito, o tempo era bom, bonito e o capim nasceu embutido demais. Foi, muito, o capim nasceu muito, uma semente muito boa, tudo, todo o pastinho nasceu. Então quando arranquei esse feijão, o inverno acabou cedo, o feijão perdeu quase todo, canivete xoxô, e quando eu bati apenas apurei apenas 10 sacos de feijão. mais 10 sacos que eu tive lá de sociedade do roçado do velho, 20 sacos, vendi. Apurei um dinheirinho, meu negócio era apurar um dinheirinho, então o milho eu vendi também, minha parte, dei a parte dele, parece que foi 30 sacos cada um.

Então daí continuei, continuei a lutar, essa luta, eu como vaqueiro e lá vai, nunca foi ferrado nada, porque uma vaca só paria de 3 em 3 anos, ou quando acontecia pari, porque comendo rama lá no mato, o gado ali da porta rendia porque eu tinha um pastinho, tirava leite, ia enxertando e ia. Mas lá por dentro da caaatinga não, tinha 8-10 lotes de gado, aqui e acolá um lotezinho, 8 a 10 cabeças aqui e acolá, um trabalho danado. Isso foi em 1920, 21, 22, já era 23, 4 anos, 23 não, 3 anos, então ninguém nunca ferrou. Lutando e era seca, 20, 21, 22, 23 esses anos todos a chuva era pouca, e agente na bomba dando água a gado, um trabalho disgraçado. Ai, em 24 eu fiz um roçado pra mim, e muita chuva que eu não pude nem queimar, lutei pra coivara, tinha um rapaz muito bom, muito trabalhador, me pediu pra, queria que eu desse duas tarefas lá pra ele fazer pegado comigo e botava a semente de capim pra mim. Só queria o milho e o feijão. Então o rapaz morreu coitado, teve um enfarte e morreu. Fechei tudo, joguei semente e a semente não nasceu, ai voltei pra bomba, tinha feito um cercado ali de junto da bomba, naquelas capoeiras do jatobá, limpei tudo e plantei de feijão. Até minha mãe pediu, plantei uma parte de feijão pra ela, tudo isso eu fazia. Minha mãe era uma coisa fora de série. Ali plantei capim a peste, todo de capim, porque a terra era velha o capim pegou todo, foi um pastão. Era uma capueirinha pequena, não sei se 3 ou 4 tarefas. Fui levando assim, ainda tinha um cavalinho, e lá vai 24. Em 25 fiz um roçado pro velho, não fiz pra mim não. Então plantamos o capim, todo o capim saiu, mas morreu esse capim, ninguém sabe como foi que morreu. Mas não deixou de sair uma sementinha, e quando foi 26, muita chuva, 26 foi o ano dos Revoltosos.

Em 24 o Coronel Eustórgio me chamou e disse ‘olhe, eu lhe nomeiei você como suplente de Juiz Federal, nesse tempo tinha suplente de Juiz Federal, 1924. ‘Mas você me nomeiou?’, ‘sim, você hoje é suplente de Juiz Federal aqui em Coité’, 1924. E eu fiquei, não tinha jeito, ele fez tá feito, pronto. Fiquei, tanto que o Dr. Antonio Barbosa, como um juiz pretor, chegou ai, me chamou, ‘você é uma autoridade superior a mim, você é suplente de Juiz Federal, e eu sou Pretor Municipal’, muito bem, fiquei e lá vai, 24.

Quando foi em 25, foi quando teve um surto de peste bulbônica, adoeceu o povo da Trancada, e papai chamou, pediu a saúde pública pra fornecer um médico. Neri tava em Serrinha, já designado pra Serrinha, mandou buscar Neri, ai veio. Quando Neri chegou, se apaixonou por Otília, pronto, ai agora pronto, já tá o casamento feito. Neri, Dr. Neri com Otília. Aí fomos, Aí meu pai desconfiado, não quis que Neri ficasse no Rio das Pedras não, mandou pro Coité pra pensão de Izabel. Neri pra ir tinha dois guardas com ele. Mas Aloysio não queria, nem Motta, foram contra esse casamento, mas eu fui a favor, fiquei do lado do casamento de Neri com Otilia, aí não saia daí do Coité também, atrás da minha namorada, e Neri na pensão, aí é que eu não saia do Coité. Neri, o povo de Belmiro ficou todo são e tal, em 1925. Quando foi no dia 8 de junho Aloysio casou, dia 9 era meu aniversário, e nisso, foi uma festinha na casa de professor Juventino, que era onde a Vivi era criada. Aloysio ficou morando, alugou uma casa que era de uma Helena, de Geraldo, pra morar. Foi quando Motta veio insistir pra Aloysio ir para Miguel Calmon ser sócio dele na farmácia. Mas eu tinha tido uma doença e Motta queria que eu fosse lá pra tomar umas injeções, eu fui pra Miguel Calmon, passei por lá 30 dias tomando as injeções. Quando eu voltei foi quando eu fui tirar um dente, o dente infeccionou, e esse dente ave maria, fiquei logo na casa de minha namorada, na casa de Nezinho, uma semana, quase morro. Mas a minha futura sogra tomou muito cuidado, ela com Idália, foi quando Aloysio mandou buscar mamãe, mamãe veio, telegrafou a Neri, chamou urgente com medo de eu morrer, de fato tava uma coisa feia. Ai Neri veio, eu já tinha (….) me levaram para o Rio das Pedras, lá Neri ficou me tratando por lá, até quando melhorou (…) até que eu fiquei são. Fiquei são, graças a deus, foi o casamento de Aloysio. Aloysio, eu achava que não dava certo, mas não queria contrariar o Motta. Motta queria, não tinha movimento, porque eu vi lá que não tinha movimento, lá era o farmaceutico, eu vi lá que não tinha movimento na farmácia, mas Aloysio foi assim mesmo. Nezinho chegou pra mim ‘ Porque você não compra isso ai?’ eu digo ‘não, eu não vou comprar não, porque esse negócio de manipulação, eu não sei fazer, negócio de farmácia eu não quero não’, mas é porque eu desconfiei porque se eu dissesse Jove, atrapalhava Aloysio, Aloysio precisava do dinheiro pra levar pra Miguel Calmon. E Jove se eu fosse ficar com a farmácia ele queria ficar comigo, eu não queria. Aí não dava certo, então eu larguei pra lá, Vespasiano ficou. Vespasiano ficou e eu não fiquei. Aloysio foi, coitado, deu coisa ao contrario. Tudo como eu pensei deu, foi quando aconteceu um surto de uma febre em Miguel Calmon, morrendo gente todo dia. Motta, covarde como o diabo, largou o pobre do Aloysio no espeto e correu pra cá com a família, pra cá pro Rio das Pedras. Depois mudaram a metade da farmácia pra Jacobina, esse jogo, Aloysio pra lá e pra cá, coitado, um prejuizo danado.

Aí, ficou Motta veio pra aí, foi quando os revoltosos, foi antes, logo 1925, tinha um rapaz que, o meu cunhado Sossô, que tava com ele, mas Sossô adoeceu e foi pra Riachão. Foi pra Riachão e Motta levou Iaiá pra Jacobina, que Ioiô adoeceu, Sossô adoeceu do pulmão, tuberculoso, coitadinho. Fiquei com pena, foi pra (…) fazenda do pai, e eu de vez em quando visitava ele, e tinha um empregado dele que chamava Benedito.

Benedito tinha me dado 60 mil reis pra eu guardar, e quando foi um dia disse ‘o sr. me dá esse dinheiro que eu vou comprar um cavalo na mão de um tio meu’, ‘60, e vai comprar?’, ‘Eu vou ver, ele vende fiado, depois eu pago o resto’. Um dia de Domingo saiu, quando foi um dia chegou foi quarta-feira com o cavalo. ‘O sr. me aluga esse pastinho da frente da bomba pra eu botar’, o que tava na semente, ‘alugo’, botou o cavalinho com sela, com tudo, quarta-feira. Quando foi sexta, pegou o cavalo e nós fomos pro Coité juntos. Passamos o dia de sexta-feira lá e vinhemos embora de tarde. Quando chegamos em casa, quando foi sábado, chegou o delegado, que era Anselmo, com dois soldados. Chamou meu pai de parte e disse ‘esse rapaz ai matou o tio, ele tá com o cavalo ai?’, ‘tá’, ‘e enterrou debaixo de um pé de cajueiro, ele foi encontrado, e foi ele que matou, já tenho certeza. E o cavalo tá aí? Cadê ele?’, ‘Tava tocando cavaquinho dentro do quartinho’. O delegado chegou ‘aê rapaz, venha cá você tá preso!’, ele com a cara cínica do mesmo modo, ‘como é o cavalo?’, aí eu fui buscar o cavalo, eu mesmo fui buscar e trouxe, entreguei a sela, botou a sela, veio um soldado montado num jegue, botaram ele no jegue e o soldado no cavalo, pra ele não correr, aí levaram, meteram na cadeia, ficou preso lá em coité, levou o cavaquinho, tocando o cavaquinho, preso. Nunca fui lá na porta, que eu? O povo ia lá vê ele, eu mesmo não, tomei uma raiva dele. Em tempo dele me matar, ele viajava comigo, depois que matou o tio, moleque descarado, criminoso sem vergonha. Foi quando veio os revoltosos e botou ele pra fora da cadeia, soltou. E sairam com ele, ouvi dizer que mataram ele adiante.

Então quando os revoltosos vinham Nezinho se arrumou pra Serrinha com a familia, e mandou me dizer que eu fosse pra Serrinha com os velhos, que ele tava lá, tinha alugado/arranjado uma casa. Mas como é que eu saia? Motta com a família lá, e os dois velhos. Assim era covardia minha, eu digo ‘não, eu não vou não. Nezinho já tá em Serrinha com a família tá salvo, eu vou ficar aqui e entregar a Deus’. A vida de minha mãe era rezar mais as meninas. Rezaram tanto que os revoltosos passaram pela Trancada, nem na Guanabara não vinheram, sairam na Alagoinhas, os quatro, e almoçaram na Alagoinhas. Eu tinha um rapaz com nome Americo, um homem disposto, botei Americo de corte pra me dar noticias. Americo então chegou, achou, eles tavam almoçando na Alagoinha, veio me avisar. ‘Vixe nossa senhora, tá lá?’, ‘tá’. Mas de lá foram embora pra Santa Clara, todo mundo pra Santa Clara, não vinheram, nem na Guanabara não vinheram, graças a Deus, ficamos salvos. Ficamos salvos, aí eu tive noticias que compadre Maru veio montado num burro, tava almoçando na casa da avó, eles entraram tomaram o burro …” (Continua na fita 2)    

 

Obs: Acho incrível que meu bisavô com cerca de 90 anos lembrasse de tantos detalhes, incluindo datas e dias da semana, de coisas que aconteceram a tanto tempo! Eu tenho dificuldade em me lembrar o que fiz na semana passada…                         

2 comentários:

  1. Seu bisavô era compadre de meu bisavô "Augusto Carlos de Oliveira" casado com Alcina Cedraz Oliveira.

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  2. Eles eram proprietários da Fazenda Guanabara, em Conceição do Coité, conforme transcrição da sua fita: "aí eu vim pro Rio das Pedras, quando cheguei na Guanabara cumpadre (Augusto?) tava plantando com os trabalhadores ‘ô cumpadre, você tá passeando e eu tô plantando’"

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