Quando eu nasci, cinco dos meus bisavós ainda eram vivos. Dois bisavôs e duas bisavós por parte de pai, e uma bisavó por parte de mãe.
Minha bisavó por parte de mãe, Almira Araújo Gordiano, mais conhecida como Vú, não posso dizer que cheguei a conhecer… ela morreu alguns dias antes do meu aniversário de 1 ano. Minha mãe tinha preparado uma grande festa para o meu aniversário, caprichou na decoração, nos enfeites, fantasias… mas acabou que não teve festa, a decoração teve que ser guardada para o meu aniversário de 2 anos…
Mas dos meus outros bisavôs e bisavós, tenho muitas lembranças, boas lembranças…
Eu nasci em Salvador, mas morei até os 7 anos em Valente. Por isso, de todos os netos de Mariá e Nenezinho, eu e minha irmã fomos as que mais conviveram com os nossos bisavós. Mesmo depois de nos mudarmos para Salvador, iamos quase todo fim de semana para Valente, sempre passando em Coité para visistar bivô Pequeno e bivó Idália.
Eu estou escrevendo esse post para dividir algumas lembranças que eu tenho dos meus bisavós.
Pai Nenê e Bivó Emília
Infelizmente não tive muito tempo com Pai Nenê (José João de Oliveira) e bivó Emília. Eu tinha 7/8 anos quando ele morreu e 9 anos quando bivó morreu, mas posso dizer que convivi muito com eles no pouco tempo que tive. Eles moravam em Valente e eu podia visitá-los todos os dias, e eram raros os dias em que eu não ia. Sabe como é, cidade do interior, naquela época criança vivia solta na rua, não é como hoje que criança não pode mais nem atravessar a rua sozinha. Quando eu sumia, o primeiro lugar que minha mãe procurava era lá.
Eu me lembro que uma vez eu e meu primo Tiago resolvemos nos envolver na política da cidade e saimos de manhã bem cedo de casa para fazer campanha na rua no dia da eleição. À tarde como não tinhamos voltado ainda, nem para almoçar, minha mãe saiu atrás da gente, quando passou na casa dos meus bisavós, bivó Emilia disse que a gente tinha passado lá, almoçado e saido novamente. A casa deles era uma base pra mim sempre que eu saia para a “rua”.
Eu era muito pequena, não me lembro mais o que exatamente eu conversava com eles, mas eu me lembro de passar muito tempo sentada com eles no sofá da sala conversando… ou sentada em um dos bancos de madeira que ficavam na frente da casa, ou até mesmo debruçada na janela da casa deles. Eles tinham muita paciência para conversar conosco.
Eles eram muito religiosos, especialmente Pai Nenê. Construiram uma altar lindo dentro da casa, e até onde sei ajudaram bastante na construção da igreja de Valente. Eu adora brincar no altar e nas “cadeiras baixinhas” que tinham lá, Pai Nenê reclamava, dizia que não era lugar de brincar… mas quando ele não estava, ou quando estava descansando, bivó deixava…
Como toda criança eu adorava sorvete, e Pai Nenê sempre tinha um trocado pra gente comprar sorvetes.
Pequeno e Idália
Vô Pequeno era um doce, mesmo cego e com pouca audição sempre dava atenção para todos, adorava conversar e estava sempre dando risada. Ele tinha uma paixão por música que eu nunca vi igual. Mesmo meio surdo ele estava sempre com um rádio encostado do ouvido e o violão sempre ao seu lado. Enquanto conversava com você ele pegava o violão começava a dedilhar e as vezes a cantarolar. Adorava gravar músicas, histórias… Estava sempre fazendo gravações e dando para as pessoas ouvirem. Ele era bem organizado com essas gravações, todas numeradas, e ele sabia o que tinha em cada uma.
Vô Pequeno (eu sempre chamava ele de bivô ou de vô pequeno) tinha uma mania que eu tentava imitar quando era pequena, ele cruzava os dedos e ficava girando os polegares.
Ele normalmente passava o dia sentado no sofá da sala, mas no aniversário dele, ele costumava colocar a cadeira ao lado do telefone e ficava o dia todo sentado lá esperando as ligações. Coitado de quem não ligasse, porque ele não esquecia…
Ele tinha 96 anos quando bivó morreu. Qualquer um podia ver que ele gostava muito dela, e a falta que ele sentia, especialmente porque dependia muito dela por ser cego e quase surdo. Alguns anos depois que ela morreu ele sismou que queria casar de novo, acho que ele tinha medo de morrer sozinho. Sempre que iamos visita-lo ele pedia para meu pai arranjar uma noiva pra ele. Vó Mariá só faltava enlouquecer quando ele falava isso, vivia brigando com meu pai por ficar atiçando bivô. Era muito engraçado… E meu pai sempre dava corda, dizia que ia arranjar, aí na proxima visita ele cobrava. O mais engraçado é que a noiva tinha que ser alguém que ele tivesse conhecido quando ele ainda enxergava, para ele poder saber se era bonita ou não. Meu pai dizia para ele que estava arranjando o casamento dele com tia Dina (Esmeraldina Nunes Araújo) e ele gostava da idéia, dizia que ela era bonita quando moça. Meu pai sempre gostou de pirraçar os outros… Ele ia até tia Dina e dizia que estava organizando o casamento dela com bivô, ela soltava os cachorros em cima de meu pai, e ele continuava pirraçando, quanto mais ela brigava, mais ele provocava. Como meu bisavô não ouvia direito e não enxergava, ele não percebia a brincadeira e achava que meu pai ia realmente arranjar uma noiva pra ele… Com 101 anos ele ainda insistia nessa história…
Eu sempre tive a impressão que bivó Idália era uma mulher cansada… Provavelmente por bivô ser cego e surdo e precisar de cuidados constantes. De vez em quando ela ralhava com ele mas ele nem percebia. Ela tinha muito cuidado com ele, estava sempre procurando ver se ele precisava de alguma coisa.
Ela era o tipo de bisavó que uma pessoa de dieta odiaria ter, tinha sempre vários bolos e doces caseiros e não aceitava recusas, todos tinham que provar… Ela estava sempre fazendo doces, fazia doces como ninguém… Ela sabia quais os doces favoritos de cada neto e bisneto, sempre tinha um pote pronto pra gente levar pra casa. Meus favoritos eram o doce de leite mexido, doce de figo, doce de mamão e o bolo de leite. O doce de leite mexido e o bolo de leite ninguém nunca conseguiu fazer como ela, nem mesmo vó Mariá que faz doces maravilhosos. Ninguém acerta o ponto desses dois doces como ela.
Eu era bem magrinha quando pequena. Gostava muito de comer doces, mas era meio chata para comer outras coisas. Ela nunca acreditava quando eu dizia que já tinha comido. Eu me lembro que uma vez estava passando uns dias na casa de Vó Sineide no Coité, almocei e logo em seguida fui visitar bivô e bivó. Cheguei lá eles estavam almoçando, bivó me fez sentar a mesa para almoçar, falei várias vezes que já tinha almoçado mas ela não acreditou. Ela colocou o prato na minha frente e eu tive que comer tudo, quando eu estava terminando ela veio e colocou mais comida no meu prato… Ela era tipo aquelas mamas italianas (vó Mariá também é assim), fazia a pessoas comerem até não conseguirem mais…
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