Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Coité de Hamilton Rios – 1972 a 1990

(…)

Hamilton Rios de Araújo antes de tornar-se um grande líder político em Conceição do Coité já pertencia a uma família de prestigio nesta cidade. O seu avô, Antonio Felix de Araújo, em 1894, já tinha sido Intendente de Conceição do Coité. Apesar de não ter usufruído desta vantagem de ser de família tradicional porque o seu pai herdou pouca coisa e não deu uma vida de luxo e riqueza para Hamilton Rios e seus irmãos, nesta fase da vida, Hamilon Rios trabalhou bastante na roça ajudando o seu pai que não tinha muitos recursos. Contudo, pertencer a uma família tradicional em uma cidade pequena ainda é uma forma de distinção social.

Hamilton Rios começa a mudar de vida quando o seu irmão, Almir, lhe convida para trabalhar com sisal. Este seu irmão já estava começando a trabalhar com o sisal. E deu a oportunidade para Hamilton entrar no ramo, dando a ele um motor de sisal. Hamilton Rios e o seu outro irmão, Ewerton, fizeram o negócio crescer. Com os lucros iniciais compraram mais motores e depois campos de sisal para que pudessem controlar o negócio cada vez mais. Porque havia em Conceição do Coité vários comerciantes de sisal e era necessário enfrentar esta concorrência.

Nesta época, Misael Ferreira, já era comerciante, e também Teocrito Calixto da Cunha tinha uma empresa que trabalhava com sisal. E existiam comerciantes menores, contudo a pretensão de Hamilton Rios e seu irmão, Ewerton, eram ser grandes comerciantes de sisal e foi o que aconteceu. Como Hamilton Rios percebeu a necessidade de investir em todo o processo de manufatura do sisal, porque todos os outros comerciantes inclusive ele pagavam para que o sisal fosse “batido”. Então, ele comprou uma maquina para ele mesmo “bater” o sisal e não mais depender de outra pessoa para deixar o seu produto pronto. Com isso, ele estava controlando ainda mais o processo de produção do sisal e tendo cada vez mais lucros.

Este diferencial comercial fez com que ele e seu irmão enriquecessem rapidamente com o sisal. Mesmo antes de tornar-se um político, ele já “batia” o sisal dos outros comerciantes de Coité e região, além de já ser um exportador do produto. Quando entra para política já estava com uma renda alta suficiente para sustentar a estrutura coronelística já existente e que ele desenvolveria ainda mais em torno de sua imagem pública.

O aspecto econômico é fundamental para que o “coronel” seja caracterizado como tal. Ele precisa ter condições financeiras pessoais para sustentar a sua política assistencialista ainda que se utilize dos recursos públicos é necessário que o mesmo seja capaz de manter o sistema coronelístico sem depender totalmente da prefeitura.

É por isso que Queiroz (1976) considera fundamental a diferenciação econômica entre o coronel e sua clientela, era a fortuna que estabelecia aposição social dos membros da parentela, quanto mais rico mais poder tinha e mais influência exercia sobre os outros membros do grupo.

Hamilton Rios teve dois motivos para entrar na política, o primeiro foi que ele não queria que o grupo de seu Mota continuasse no poder porque já estava a muito tempo dominando politicamente Conceição do Coité e segundo porque Evódio já tinha sido derrotado três vezes para prefeito. Quando Dr. Pinheiro ganha as eleições contra Evódio Resedá, provocando assim a terceira derrota do mesmo, Hamilton Rios declara para todos que será o candidato da oposição. Ele podia fazer esta declaração porque tinha alguma forma de influência política por causa da sua condição social e econômica. Ele fez esta afirmação sem consultar ninguém do grupo que fazia oposição a seu Mota. Ele consulta seu Evódio apenas depois que tomou a decisão e que fez a sua declaração, e seu Evódio concordou com a candidatura.

Esta condição de autoridade e líder que ele impõe a si mesmo diante de um grupo político enfraquecido é uma demonstração de como vai funcionar sua estratégia política. Seria ele que ditaria as regras políticas do grupo a partir daquele momento. Hamilton Rios já era o candidato a prefeito quando as eleições tinham acabado de acontecer.

Hamilton Rios pode tornar-se um líder político porque também era um líder econômico. Faoro (2001, p. 700) considera que para um coronel tornar-se um líder político é fundamental que este poder político esteja atrelado a sua condição econômica que possa sustentar o coronelismo. Sendo um homem rico poderia exercer o seu papel político diante de seus partidários. Este mesmo poder econômico também foi demonstrado por seu Mota para lhe garantir uma autoridade local e influência política. Estes dois lideres locais souberam utilizar o seu poder econômico com objetivos políticos que lhes garantiu um longo período no poder. Para Janotti ( 1981, p. 69):

“à medida que se desenvolviam as funções urbana do município, sua importância econômica, e, consequentemente, eleitoral, também, crescia. O poder coronelístico passava, então, a ser exercido por pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra.”

Esta foi a sua forma de entrar na política, com todo o seu poder econômico impôs uma vontade pessoal, a de ser o novo prefeito. A sua campanha eleitoral começou, exatamente, naquele momento em que disse que seria o novo candidato. Mesmo faltando dois anos para as eleições, Hamilton Rios trabalhava na sua candidatura distribuindo água pelos povoados de Conceição do Coité, dando cesta básica, cimento, remédio. O povo ia a sua casa pedir o que precisava e ele, para garantir a sua vitória, dava o que podia.

Foi a partir desta política de assistencialismo que Hamilton Rios começou a construir a sua imagem de “coronel” que para Queiroz (1979,p.176-7) faz parte da política de barganha em que o voto é usado como objeto de troca por favores pessoais.

Em 1974 aconteceu a eleição para a qual Hamilton Rios já fazia campanha desde 1972. Esta eleição foi disputada por dois comerciantes de sisal, Hamilton Rios era um exportador do produto e Misael, um dos primeiros comerciantes a investir nesta atividade que disputava espaço comercial com o próprio Hamilton.

Desta forma, podemos perceber como a condição econômica influencia na escolha da liderança política. Os dois candidatos a prefeito eram grandes comerciantes de sisal, e estavam em grupos políticos opostos. A disputa comercial passou também a ser uma disputa política.

Contudo, a condição econômica não é o único fator que influencia em uma eleição. Outros fatores devem ser levados em consideração. Hamilton Rios com a sua política assistencialista que atingia a população desde 1972 influenciou muito não só na zona rural, mas também na zona urbana de Conceição do Coité. E esta política foi decisiva para que ele garantisse uma vitória com uma boa diferença de votos em relação aos do seu adversário político.

Hamilton Rios conseguiu acabar com a hegemonia do grupo de seu Mota derrotando Misael Ferreira. Dando início ao seu governo e a seu domínio político sobre a cidade. É nesta eleição em que os grupos políticos de Coité vão passar a ser chamados de “vermelhos”, o grupo de Hamilton Rios, e os “azuis”, o grupo de Misael Ferreira que pertencia ao grupo de seu Mota.

Como Hamilton Rios conseguiu colocar os “vermelhos” no poder e ele controlava o poder público como prefeito, a sua política assistencialista seria fortalecida diante da necessidade econômica da maioria da população. Uma parcela desta população se torna dependente dos favores que o prefeito, Hamilton Rios, realizava e por isso era chamado de “Pai da Pobreza”.

Esta era a sua principal estratégia política, tornar as pessoas dependentes do seu poder econômico e político alimentando uma relação de proximidade afetiva com os seus eleitores. A relação ente prefeito e partidários é a mesma do coronel e seus dependentes em que os dois influenciam as pessoas pela política, pelos favores, e pelo afeto. Hamilton Rios foi padrinho de muitos filhos de seus partidários. Isto mostra, que a sua estratégia extrapola a questão política e econômica tendo uma relação direta com a questão pessoal.

Este aspecto afetivo é demonstrado pela relação de compadrio que o coronel estabelece com os seus dependentes. Janotti (1981, p. 58) considera que isto ameniza as diferenças sociais entre eles. Esta aproximação favorecia a manutenção, por parte do coronel, do seu poder. Queiroz (1979, p. 167-8)afirma que no coronelismo:

“as relações pessoais envolvem a afetividade na determinação do voto, (...) apresenta na realidade como uma reciprocidade de favores, como que um contrato tácito entre o cabo eleitoral e os eleitores. Estes oferecem seus votos na expectativa de um favor ser alcançado, podendo o contrato ser rompido quando uma das partes não cumpre o que dela se espera.”

A sua política foi totalmente escancarada. Todos sabiam que ele “ajudava” as pessoas desta forma assistencialista. Diferente do que acontecia no período de seu Mota em que esta estratégia já era usada, mas Vanilson afirma que era uma estratégia disfarçada com poucos favores sendo realizados.

Seu Mota apesar de também manter uma relação muito pessoal com os seus eleitores não alimentava tanto este assistencialismo cotidiano. O que acontecia com mais freqüência era o clientelismo que é a troca de favores, os mais diversos possíveis, pelo voto do eleitor.

Hamilton Rios desenvolve a sua política através do assistencialismo e do clientelismo. O assistencialismo ele alimenta com favores cotidianos que não influenciam diretamente nas eleições, são favores que mantêm a dependência econômica dos mesmos diante da sua imagem de político e “coronel”. O clientelismo se estrutura numa política voltada, exclusivamente, para as eleições em que são atendidos os pedidos e os favores com o objetivo direto de trocar pelos votos das pessoas.

Desta forma Queiroz (1979, p. 178) considera que o eleitor não vota passivamente, ele vota consciente no candidato indicado pelo seu coronel em troca de favores. Contudo, é difícil sustentar que este voto possa ser de algumaforma consciente, ainda que seja diante da percepção de que está negociandoo seu voto em troca de algo. Com isto, podemos perceber que o sistema coronelístico limita a consciência política dos eleitores que não compreendem a importância do seu próprio voto.

Além desta estratégia política voltada para os seus eleitores, Hamilton Rios como prefeito realizou algumas obras, como a construção do Estádio Municipal, a reforma de escolas, posto de saúde. Realizações que influenciaram muito para que a sua imagem política fosse associada a de um bom “coronel”. Com todo este prestígio na cidade, as suas vontades políticas começaram a ganhar força e eram atendidas sem muita discussão. Como a lei não permitia a reeleição, Hamilton Rios indicou Walter Ramos como candidatoa prefeito do grupo dos “vermelhos” para as eleições de 1976. Ele foi escolhido porque já tinha sido vereador e era muito influente nos distritos de Aroeira e Salgadália.

Indicar o candidato a prefeito era uma clara demonstração de poder diante dos seus partidários. Ele podia impor a suas vontades políticas porque sabia que não seria contestado e que tinha a seu favor o poder privado em detrimento do poder público. Hamilton Rios desenvolveu uma relação entre o poder privado e o público muito característica do coronelismo que é fazer do poder público parte do poder privado. Como bem afirma Leal (1997, p. 275) o “coronelismo é a incursão do poder privado no domínio público.” E com o dinheiro público o coronel consegue manter a continuidade do seu sistema.

Diante destes aspectos, Walter Ramos disputou a eleição contra Sinval Mascarenhas em uma disputa que todos já sabiam o resultado. Walter sendo apoiado por Hamilton Rios teria a vitória garantida diante do grupo dos “azuis” que estava enfraquecido pela derrota eleitoral que sofreram por causa do próprio “Mitinho”.

Nos dois primeiros anos, Walter Ramos foi influenciado politicamente por Hamilton Rios em seu governo. Porém, houve um rompimento político entre Walter Ramos e Hamilton Rios. Walter Ramos não aceitou a relação de obediência que tinha que manter com Hamilton Rios. Então, passou a negociar com outros políticos obras para Conceição do Coité, como esses políticos não eram os correligionários de Hamilton Rios houve o rompimento. Este rompimento chegou ao ponto de cada um apoiar um deputado estadual diferente para as eleições de 1978. Hamilton Rios apoiou Luis Eduardo Magalhães e Walter Ramos apoiou João Emílio. Walter Ramos governou por mais quatro anos e continuava inimigo político de Hamilton Rios. Ainda no poder Walter Ramos já apoiava Misael para prefeito e nas eleições este seu apoio enfraqueceu a candidatura de Hamilton Rios em 1982.

Este enfraquecimento político foi provocado por um fenômeno que Leal (1997) já considerava presente no coronelismo que era o aumento da dependência econômica do coronel sobre os recursos públicos. A falta destes recursos gera um significativo déficit na manutenção da política clientelista administrada pelo coronel.

É tanto que, Orlando Matos afirma que, a campanha de 1982 foi toda financiada por Hamilton Rios, até mesmo porque ele não tinha acesso aos cofres públicos para que pudesse utilizar estes recursos para investir em sua campanha eleitoral. Mesmo enfraquecido politicamente Hamilton Rios ainda tinha muita força econômica para garantir a sua volta para a prefeitura.

Nas eleições para 1982, Hamilton Rios, apesar de estar enfraquecido pelos quatro anos de governo de Walter Ramos, saiu como candidato pelo grupo dos “vermelhos”. O enfraquecimento do seu poder político aconteceu por ter ficado distante do poder público que era uma fonte de recursos financeiros que ajudava a sustentar a sua imagem política.

Mesmo com este enfraquecimento Hamilton Rios conseguiu vencer as eleições por uma diferença de 229 votos a mais que o seu adversário, Misael Ferreira. O resultado desta eleição demonstra como a política local se estruturava neste período.

Hamilton Rios mesmo sem ter acesso aos recursos públicos para mantera sua política assistencialista conseguiu voltar a ser prefeito. Este fator atrapalhou o desenvolvimento desta estratégia, contudo não impediu que ela continuasse a existir porque Hamilton Rios já era um grande empresário e tinha condições econômicas pessoais para sustentar esta política.

Esta vitória eleitoral de Hamilton Rios deve ser considerada também pelo aspecto afetivo que o próprio Hamilton Rios construiu em sua relação com seus eleitores nesta política assistencialista que ele desenvolveu. A relação de apadrinhamento é uma demonstração da importância deste aspecto afetivo de até que ponto esta relação pode chegar. O político tornando-se parte da própria família do seu eleitor. Outro aspecto que favorece o estabelecimento desta relação pessoal é o que Queiroz (1979, p. 199) caracteriza como “”carisma” –conjunto de dotes pessoais que impõe um indivíduo aos outros, fazendo com que estes lhe obedeçam, tornando suas ordens indiscutíveis justamente porque emanam dele.”

Além desta sua política assistencialista local, Hamilton Rios construiu relações políticas e também pessoais com as principais lideranças do estado da Bahia. Como era partidário de Antonio Carlos Magalhães, ele mantinha com ACM uma relação política em que eram negociados os apoios em eleições estaduais e os recursos e obras que seriam investidos em Conceição do Coité pelo governo estadual.

Esta relação com o governo estadual faz parte da estratégia política do coronelismo que é a negociação do coronel, que manipula os seus dependentes nas eleições estaduais, com o governo estadual para barganhar investimentos na cidade, porque o poder local ainda é muito dependente das verbas públicas enviadas pelo governo federal e estadual. Faoro (2001, p. 708) considera que esta relação é controlada pelo governo estadual que tem os instrumentos políticos e econômicos para submeter os coronéis ao seu poder. Isto é o que aconteceu com Hamilton Rios e ACM. A relação entre eles era ditada pelas ordens do governador que era ACM.

A essência do compromisso coronelístico, para Leal (1997, p. 70), está dividida em duas partes, a primeira os chefes locais precisam apoiar, totalmente, nas eleições os candidatos estaduais e federais que fazem parte do governo e a segunda o governo estadual deve permitir que os chefes locais tenham total controle sobre os seus municípios. Bursztyn (1984, p. 12)também tem um posicionamento parecido ao considerar que “há uma enorme interdependência entre os poderes central e local, em cuja essência encontramos os imperativos da legitimação recíproca.” Argumento este que se relaciona com a idéia de Janotti (1981, p. 59) de que o coronel é a conexão de uma teia de compromissos políticos que tem dois extremos, um é o vaqueiro, o outro é o governador do Estado.

Hamilton Rios manteve esta estratégia política praticamente intacta no seu novo governo. A sua forte política assistencialista era o que lhe mantinha no poder, tendo uma boa relação com o governo do Estado. Por isso dar continuidade a estas relações era essencial para que ele pudesse se manter no poder público.

Contudo, durante este governo surge uma figura pública que se torna seu concorrente utilizando a mesma política assistencialista que ele alimentava. Dr. Iêdo surgirá no cenário político coiteense como a liderança que faltava para o grupo dos “azuis”. O seu assistencialismo estava relacionado aos problemas de saúde. Para Vanilson Lopes, ele realizava operações sem cobrar pelos custos tendo como objetivo derrotar o grupo de Hamilton Rios.

Com isso, Dr. Iêdo tornou-se o principal adversário político de “Mitinho”. Iêdo ficava cada vez mais popular por causa desta relação que ele construía com seus pacientes. A demonstração que esta liderança estava ameaçando politicamente Hamilton Rios é que nas eleições de 1984 o candidato que Dr.Iêdo apoiou para governador, Waldir Pires, teve mais votos em Coité do que o candidato de Hamilton Rios, Josafá Marinho. Este resultado repercutiu como uma ameaça à hegemonia política dos “vermelhos” em Coité para as próximas eleições municipais. Por isso, Hamilton Rios precisava escolher um sucessor para disputar as eleições de 1988 contra Dr. Iêdo.

Faoro (2001, p. 729-30) afirma que “o que mata o coronel é o próprio exercício de suas funções, em certo momento inúteis, diante dos meios diretosde convívio do governo com o povo.” E que “o coronel flutuará entre ventos adversos, triturado pelos partidos de quadros, burocratizados na sua organização, revolvidos os próprios sertões pelas periódicas ondas carismáticas, irradiadas das cidades, nacionais em sua amplitude.”

Contudo, Dr. Iêdo morre em 1987 por causa de um acidente de carro. Esta tragédia teve duas repercussões políticas importantes para Conceição do Coité. A primeira que os “azuis” não tinham outro candidato para substituir a liderança de Dr. Iêdo o que levou o grupo a ficar divido entre Misael e a viúva de Dr. Iêdo, Tânia. No final das negociações dentro do grupo, Tânia foi escolhida por um grupo totalmente esfacelado. A segunda repercussão está relacionada à escolha do candidato do grupo dos “vermelhos”. Com a morte de Dr. Iêdo e Tânia sendo a candidata, Hamilton Rios não escolhe nenhum político que fazia parte do grupo, mas o seu sobrinho, Ewerton Rios de Araújo Filho, Vertinho.

Diante deste cenário, a eleição de 1988 foi o momento em que Hamilton Rios conseguiu dar continuidade ao seu poder colocando o seu sobrinho na prefeitura. Para Janotti (1981, p. 79), esta pode ser uma tentativa de transferir a sua influência política para outro membro do grupo que poderia ser o seu sucessor quando o coronel morrer.

Esta atitude política de escolher um membro da sua família como sucessor é um reflexo de como ele relaciona as questões públicas com as particulares a partir da sua autoridade política que impõe a suas vontades como se fossem, realmente a vontade do grupo. Hamilton Rios não fez uma escolha política, ele fez uma escolha pessoal, particular em que sua família é inserida em um contexto público.

Esta é uma atitude de um “coronel” em que somente ele tem voz dentro do seu grupo político. Ainda que outros partidários tenham condições econômicas e políticas de contestá-lo preferem aceitar as suas imposições a sofrer represálias ou punições políticas. E uma destas imposições é a escolha individual e pessoal do seu sucessor.

O sucessor foi escolhido e o contexto político colaborou para que as eleições fossem vencidas por ele. Neste contexto devemos considerar a forte influência política de Hamilton Rios que tornou prefeito um sobrinho que era desconhecido na cidade e a morte de seu principal adversário político, Dr. Iêdo. Eleições vencidas, começa o mandato de Ewerton Rios Filho, Vertinho, dando continuidade ao governo de Hamilton Rios mantendo o grupo dos “vermelhos” no poder com uma política assistencialista em que se estrutura o sistema coronelístico. Mesmo com Vertinho no poder público efetivo quem vai manter a administração do poder local com a sua influência política é Hamilton Rios.

Hamilton Rios continua sendo a conexão entre os dois mundos do coronelismo, o mundo do vaqueiro e o mundo do governador. Mundos políticos que se relacionam na manutenção do coronelismo em Conceição do Coité.

Fonte: FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO, A história do coronelismo em conceição do coité entre 1930 e 1990

http://www.slideshare.net/BPJCA/a-histria-do-coronelismo-em-conceio-do-coit-entre-1930-e-1990

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