Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

segunda-feira, 23 de março de 2020

OCUPAR PARA PRODUZIR


NEM TANTO AO MAR, NEM TANTO À TERRA: 
AGROPECUÁRIA, ESCRAVIDÃO E RIQUEZA EM 
FEIRA DE SANTANA, 1850-1888

Autor: LUIZ CLEBER MORAES FREIRE



OCUPAR PARA PRODUZIR

Ano de 1856.  Dia 21 de junho.  Em pleno sertão da Bahia, na fazenda Vitória, próxima à margem esquerda do rio do Peixe, afluente do Jacuípe, distante cerca de sete léguas da Vila de Feira de Santana, o capitão José Ferreira da Silva, prevendo a proximidade da sua morte, dita o seu testamento. Nele, faz algumas declarações de praxe, como pedidos de missas pelas almas de seus pais, parentes, padrinho, amigos e, inclusive, pelas de seus escravos e mais algumas declarações referentes às dívidas. Como testamenteiros, nomeia seus filhos José Ferreira Júnior, Manoel e Justino.

Decorridos três anos, mais precisamente no dia 29 de setembro de 1859, o capitão, estando em casa de sua filha Joana Maria da Silva, casada com o capitão Antônio Tavares da Silva Carneiro, na fazenda Desterro, vem a falecer e, nesse mesmo ano, é iniciado o processo de abertura do testamento e inventário de seus bens, que se desenrola até 1861.

A fazenda Desterro, juntamente com as fazendas Caiçara, Minador, Dizimeiro, Alecrim, Matheus, Sossego, Lagoa Grande, Caraúna e Floresta, compreendia o que outrora era a vasta área da fazenda Vitória, onde José Ferreira da Silva e sua falecida mulher, Ana Francisca do Espírito Santo, viveu e criou seus nove filhos.

O inventário do capitão José Ferreira da Silva revela que os seus bens estavam todos voltados para a produção agropecuária.  O monte-mor alcançou o valor   de 60:019$640 réis (sessenta contos, dezenove mil, seiscentos e quarenta   réis) e estava equilibradamente distribuído da seguinte forma:  terras próprias e bens de raiz, 27,3%; escravos, 19,5%; gados vacum,  cavalar  e  muar,  38,0%;  adiantamentos  a  herdeiros,  13,0%;  e  bens  diversos  como móveis,  alfaias,  ferramentas  e  produtos  da  colheita agrícola  como  feijão,  milho,  mandioca  e fumo, 2,2%.

O capitão, um típico representante da classe dos senhores escravistas da região, já no alto dos seus 88 anos de idade, não era mais aquele grande fazendeiro que, em 1835, figurou como o segundo maior proprietário de escravos do termo de Feira de Santana, possuindo 71 cativos, seguido por seu irmão Antônio Ferreira da Silva, com 66 – como pode ser constatado através do Apêndice A. A quantidade de escravos arrolados em seu inventário restringia-se a 12 homens e 06 mulheres, nascidos todos no Brasil, ou seja, crioulos, descritos em suas atividades como sendo “do serviço da enxada” ou “do serviço da roça” e um ocupado no serviço de vaqueiro.

Entre os seus bens, os gados corresponderam a 700 cabeças de vacum, 24 cavalos e uma mula velha, distribuídos em suas fazendas localizadas nos atuais municípiosde Tanquinho, Riachão do Jacuípe, Candeal e Conceição do Coité.

Escravos, gado, terra.  A posse desses três elementos de riqueza conferia Status a quem os possuísse durante o período escravista da nossa história.  Como muitos em igual condição à sua, de criador de gado e proprietário de terras e escravos, o capitão José Ferreira talvez tenha aspirado à obtenção de algum outro título que lhe conferisse ainda mais prestígio.

Entretanto, o máximo que alcançou, ou que talvez a sua condição econômica pôde lhe proporcionar, foi o de Capitão das Ordenanças da Freguesia de São José das Itapororocas, com patente confirmada pelo Imperador Pedro I, em 1829. A concessão dessa patente possivelmente foi em reconhecimento pela sua participação na luta pela expulsão dos portugueses da Bahia, em 1823.

Através desse documento podemos nuançar a dinâmica da produção que girava no entorno de uma propriedade rural da região de Feira de Santana, durante o período escravista.

Nela, a mão-de-obra escrava estava justificada através do seu emprego na lavoura do tabaco e gêneros alimentícios, como o feijão, o milho e a mandioca, além do cuidado com o gado.  A forte participação do gado bovino e cavalar entre os seus bens (38%), evidencia a importância destes, principalmente por se tratar de uma região que, desde os seus primórdios, foi voltada para a pecuária.

O caso particular do capitão José Ferreira da Silva encerra em si as grandes linhas deste trabalho:  a produção agropecuária amparada pela mão-de-obra escrava e a riqueza dos moradores da região de Feira de Santana em meados o século XIX. Para melhor tratar esse universo, é necessário recuarmos um pouco no tempo a fim de entendermos a importância das fazendas de gado para o povoamento da região e surgimento da Vila de Feira de Santana, além, é claro, do comércio do gado como responsável pela formação da riqueza dos fazendeiros e comerciantes da região.





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