Esse blog é sobre a história da minha família, o meu objetivo é desvendar as origens dela através de um levantamento sistemático dos meus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. Até agora sei que pertenço as seguintes famílias (nomes que por vezes são escritos de forma diferente): Ramos, Oliveira, Gordiano, Cedraz, Cunha, Carvalho, Araújo, Nunes, Almeida, Gonçalves, Senna, Sena, Sousa, Pinto, Silva, Carneiro, Ferreira, Santos, Lima, Correia, Mascarenhas, Pereira, Rodrigues, Calixto, Maya, Motta…


Alguns sobrenomes religiosos que foram usados por algumas das mulheres da minha família: Jesus, Espirito-Santo...


Caso alguém tenha alguma informação, fotos, documentos antigos relacionado a família é só entrar em contato comigo.


Além desse blog também montei uma árvore genealógica, mas essa só pode ser vista por pessoas que façam parte dela. Se você faz, e gostaria de ter acesso a ela, entre em contato comigo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Negros sambam no Solar do Conde

 

Centro de referência em casarão restaurado é conquista do samba de roda baiano, patrimônio da Humanidade

Lorenzo Aldé 19/9/2007

No casarão do senhor de engenho, agora a festa é dos negros. O samba de roda — que animava terreiros de candomblé e rodas de capoeira onde os escravos reafirmavam suas raízes africanas — tomou posse do Solar que pertenceu ao Conde de Subaé, em Santo Amaro, Bahia. Foi na última sexta-feira, dia 14.

A bela construção do século XIX, que chegou a abrigar d. Pedro II no tempo em que a produção de açúcar dinamizou a economia do Recôncavo, foi inteiramente restaurada. Ficou assim apta a abrigar um patrimônio da Humanidade, título que o samba de roda baiano recebeu da Unesco em 2005.

Merecidamente. A manifestação resistiu ao tempo e ainda se expressa em suas formas tradicionais em toda a Bahia: os participantes dispostos em círculo, a dança no meio, os versadores, as respostas em coro, as palmas. À matriz africana, foram adicionados instrumentos portugueses, como a viola (alguns grupos usam até sanfona). E deu-se novo uso para uma peça de cozinha européia: o prato de ágata. Assim surgiu o prato-e-faca, executado com maestria pelas mulheres, como se fosse um reco-reco.

Fora as peculiaridades musicais, as rodas se associam a outros eventos que não vivem sem elas. Das festas religiosas — católicas, afro-brasileiras e mesmo indígenas — às celebrações cotidianas.

“No Nordeste, toda festa popular é samba”, resume Gilberto Gil. Simbolicamente, o personagem perfeito para a ocasião: é negro, baiano e músico o Ministro de Estado responsável por transformar oficialmente o Solar do Subaé em Casa do Samba de Santo Amaro.

A festa começou com os discursos políticos de praxe e acabou nas mãos e pés de quem de direito — o povo encheu a rua em frente ao Solar para sambar até de madrugada ao som de cerca de 20 grupos de samba de roda, além de alguns “primos” vindos de outros estados, como o jongo (RJ, SP e ES) e o tambor de crioula maranhense.

Esses dois ritmos, por sinal, também já foram registrados como patrimônios imateriais junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). E há outros na fila, como o coco, que ocorre em vários formatos e localizações geográficas.


Um seminário realizado no sábado, dia 15, no Teatro Dona Canô, mostrou que ainda há muito o que revelar sobre a diversidade musical popular no país, e muito trabalho a fazer para preservá-la.

Naturalista do samba

O samba de roda por pouco não perdeu um de seus instrumentos originais. O machete é uma espécie de viola, maior que o cavaquinho e menor que o violão. Antes que o samba de roda ganhasse reconhecimento mundial, e com ele a atenção do estado, restavam apenas três exemplares de machete na Bahia. E uma única pessoa capaz de construi-los: seu Zé de Lelinha, em São Francisco do Conde. O projeto de “salvaguarda” do samba de roda, promovido pelo Iphan, instituiu na cidade uma oficina ministrada pelo antigo mestre, para ensinar jovens a fabricar o machete.

O amplo espaço da Casa do Samba de Santo Amaro foi inaugurado com uma exposição de fotos, textos e objetos. Mas o objetivo é torná-la um centro de referência para a pesquisa musical, com acervos sonoros, estudos, partituras e vídeos sobre o samba de roda, disponíveis para consulta.

Incluindo, espera-se, os preciosos registros do americano Ralph Waddey, que entre 1966 e 1985 foi o primeiro a gravar e filmar a diversidade dos sambas de roda baianos. Seu acervo tem cerca de 250 horas de áudio e documenta a arte de muitos antigos instrumentistas e versadores que não estão mais entre nós.

“Me comparo com os botânicos que no século XIX viajavam o Brasil coletando a registrando plantas e flores. Sou um naturalista do samba”, compara. E é por ter conhecido o samba em “estado natural” que relativiza essa história de existir uma “Casa do Samba”. “O que é uma casa do samba? É qualquer casa de qualquer rua do Recôncavo onde se samba. Quem é o produtor artístico do samba? É a Zelita, a Ana, o João. A Casa do Samba em Santo Amaro é para lembrar a vocês que não esqueçam de sambar em casa, porque na Bahia tudo acaba em samba”, afirmou, no Seminário.

Apesar da ressalva, Ralph doou para a Casa do Samba um primeiro material digitalizado com 9 horas de duração. Mas ainda negocia como será feita a cessão do restante do acervo, que ele faz questão de digitalizar pessoalmente.

A prudência do pesquisador se explica porque ainda não está bem definida a administração da Casa do Samba. A Associação dos Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia, criada em 2005, é candidata natural a gerir o centro. Os recursos devem vir do Ministério da Cultura, com a efetivação, no local, de um “Pontão de Cultura”, referência para os demais “Pontos de Cultura” do Recôncavo.

Quer dizer que a Casa foi inaugurada sem que se saiba como funcionará e se cumprirá sua missão? Sim, é isso mesmo. A restauração do Solar foi inclusive acelerada para que a festa coincidisse com o centenário de Dona Canô, que parou a cidade e atraiu a imprensa. Mas preservar a cultura, ao contrário de erguer ou reformar prédios, é assim mesmo: um esforço necessariamente inacabado.

Melhor notar o que já se ganhou. Associação, oficinas de machete, o Solar do Conde, um dossiê produzido pelo Iphan e um CD com o registro da música de 21 grupos. Para quem resistiu ao preconceito durante longos séculos e manteve-se forte mesmo quando era “invisível”, a roda agora promete.

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