No tempo em que só havia como meio de transporte de mercadorias e de pessoas a estrada de ferro de ia de Salvador à Juazeiro da Bahia, viveu o Sr. José João de Oliveira. Era um tempo em que mercadorias chegavam as cidades onde haviam estações de trem e de lá iam para as outras cidades da região, transportadas em carro de boi ou lombo de burro. A demanda de animais para fazer esse transporte era grande, foi aí que José João de Oliveira, mais conhecido como "Pai Nenê", um comerciante com visão, que tinha bons relacionamentos com as firmas de Salvador, que abasteciam o interior do estado (desde ferragens a tecidos e medicamentos), viu uma grande oportunidade.
Percebendo que os caixeiros viajantes faziam somente as rotas da estrada de ferro, pois não havia transporte para outras cidades, já que na época não havia estradas e muito menos automóveis e caminhões para se viajar nelas, José João decidiu fazer tropas de burros e mulas para alugar às firmas de Salvador e seus representantes, os caixeiros viajantes, para percorrerem outras cidades do interior que não estavam na rota da estrada de ferro. O transporte da estrada de ferro na cidade de Serrinha até a Chapada Diamantina, por exemplo, era toda feita por José João, que possuia várias tropas e que viajavam por todo o alto Sertão, chegando a fazer viagens até São Raimundo Nonato no Piauí. Como era difícil encontrar na região animais bons, pois o jumento nordestino (o jerico) era a única raça disponivel e não produziam animais de porte e qualidade, José João, em 1930-1932, resolveu comprar um jumento de fora, para produzir animais melhores para as suas tropas. Ele acabou comprando um jumento a Francisco Rocha Pires (Vice-Governador da Bahia), da cidade de Jacobina, que era o grande criador de jumentos Pêga da Bahia, junto com a Fazenda Mocó do Governo do Estado da Bahia.
O Pêga antigamente na Bahia era considerado uma atração, pois não havia na região animais daquele tamanho, qualidade e beleza, dentre outras vantagens. Foi isso que atraiu João José Oliveira, mais conhecido como Nenezinho, a ir mais longe que seu pai (José João) e começar um plantel de Jumentos Pêga em 1962/63.
Por sorte, como diz Nenezinho, a fazenda Mocó se desfez do seu plantel, e como não haviam compradores para esses animais na região, eles venderam a um amigo de seu Nenezinho um grande número de animais. Em uma exposição em Rui Barbosa onde esse amigo tinha fazenda, os dois se encontraram e seu Nenezinho se ofereceu para comprar alguns animais, como o amigo disse que ele podia ir na fazenda e escolher o que quizesse, imediatamente, antes que o amigo desistisse, João José de Oliveira pegou a caminhonete e foi na fazenda e escolheu cinco das melhores fêmeas que tinham na tropa que o amigo tinha arrematado na fazenda Mocó.
Em seguida foi na fazenda Mocó e conseguiu comprar um reprodutor antes que a Mocó vendesse o restante dos animais, aproveitando também para comprar mais matrizes para complementar o plantel.
Até hoje João José se preocupa em manter o antigo padrão da Fazenda Mocó, e cremos que somente ele tenha ainda o sangue fechado da Mocó. Isso porque, quando o Governo do Estado resolveu acabar com a Fazenda Mocó (durante o governo de Valdir Pires), boa parte dos animais foram vendidos aos paulistas e mineiros, não ficou quase nada aqui na Bahia.
Na época em que houve uma grande queda na procura por jumentos pêga, vários criadores sairam do ramo, João José se desanimou, no entanto, por apreciar muito a raça e por utilizar os animais nas suas fazendas, manteve seu plantel. Como ele mesmo diz, foi uma época que jumento não valia nada, nem cigano queria.
Mas essa fase passou e o comércio aqueceu, foi aí que Zenóbio Cedraz Oliveira, filho de João José de Oliveira resolveu seguir a tradição da família e passou a criar jumentos também. Zenóbio recebeu alguns animais de seu pai para começar essa criação e já está entre os maiores e melhores criatórios do país. Hoje, pai e filho contam com mais de 150 matrizes.
O jumento sempre foi um animal de sela no nordeste, tudo era feito no jumento. Ele era a peça principal da casa e portanto toda casa de fazenda do nordeste tinha um jumento de bom andamento. Com isso, aconteceu uma seleção natural para essa aptidão. Mas o que existia aqui no nordeste era o jumento nordestino (jegue/jerico), e como Zenóbio já tinham essa cultura, desde seus avós, que jumento é animal de sela, ele foi buscar essa aptidão no pêga, assim como seu pai também tinha feito.
Partindo da base genética de seu Nenezinho, Zenóbio, que de acordo com seu pai é muito afoito, viajou o Brasil todo a procura de jumentos de andamento excepcional para montar o seu plantel. Ele e o pai foram buscar o animal de andamento no pêga, enquanto no resto do país jumentos eram vendidos pela beleza, no palco de leilões e exposições, só mostrando a cabeça e a orelha. Só no nordeste havia um costume antigo de se montar em jumentos, por isso a Bahia sempre teve boas mulas de sela.
Em 2010, João José de Oliveira recebeu uma homenagem da ABCJPêga pelos serviços prestados em prol da raça Pêga.
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