A escrava Martinha cresceu em uma fazenda e, ainda muito nova, tornou-se mãe sem ao menos saber quem era o homem que chegava à noite em seu porão e, sem qualquer palavra, deitava-se ao seu lado, fazia sexo com ela e desaparecia na escuridão. Pouco tempo depois ficou grávida deste desconhecido. Ainda amamentando a sua criança, aos dois meses de idade do bebê, o mesmo foi tirado dos seus braços e vendido. Martinha, que ainda
amamentava, se torna então ama de leite de outras crianças da casa do dono.
Manuel era um homem rico para os padrões da época, proprietário de terras na região e residente em Coité.
Após negociações, com o dono de Martinha, que ao perceber o interesse de Manuel inflacionou o preço, ele conseguiu comprá-la por oitocentos mil réis, preço duas vezes maior do que o que se pagava por uma escrava da sua idade naquela cidade e época.
Manoel comprou Martinha e foram viver juntos. Logo depois da união, Martinha ganhou de presente do companheiro, uma fazenda onde começou a trabalhar plantando, colhendo e vendendo cereais e com o dinheiro arrecadado passou a comprar os irmãos que foi encontrando nas fazendas das redondezas, trazendo-os para viver próximos a ela, em sua fazenda.
Pouco tempo depois, para agradar a mulher, ele procurou, encontrou e comprou o filho dela, Saturnino. Apesar de já viverem juntos, a escritura só foi lavrada em 1870. O registro da compra dos dois escravos foi realizado no mesmo dia, conforme comprovam as duas escrituras, lavradas no livro número um que se encontra no cartório de Coité. Segundo Barreto, Manoel e Martinha se casaram em 23 de fevereiro de 1889, na Igreja Matriz de Coité e tiveram mais cinco filhos.
Parte desta história pode até ter saído da imaginação do escritor, que a ouviu de descendentes do casal Manuel e Martinha, que ainda vivem em Coité, mas o certo é que existem documentos comprovando a compra de Martinha e do seu filho chamado Saturnino pelo fazendeiro Manoel Cedraz, assim como as escrituras de doação das terras, aos filhos, na década de vinte do século passado, estão nos livros de registros do Cartório de Coité.
A existência do povoado do Maracujá aliado à história de Martinha demonstra que o comércio de escravos foi intenso na região sisaleira, fato que sempre foi negado por autoridades, mas foi provado com a descoberta de livros de registros, arquivados no Cartório de Registro Civil de Coité, onde estão assentadas muitas escrituras de compra e venda e cartas de liberdade de escravos.
Fonte: VOCABULÁRIO E REALIDADE EXTRALINGÜÍSTICA DAS
ESCRITURAS DE COMPRA E VENDA DE ESCRAVOS DA REGIÃO
SISALEIRA BAIANA, NILZETE CRUZ SILVA
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